Alma imortal e evangelho

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Em que medida o ensino da imortalidade da alma afeta a essência do evangelho?

Ángel Manuel Rodríguez

Crédito da imagem: Adobe Stock

Os adventistas creem que a Bíblia afirma que os seres humanos são uma unidade indivisível, contrariando o entendimento popular que aceita a imortalidade inerente da alma. Ou seja, biblicamente, a imortalidade é um dom inseparável da ressurreição do corpo, a ser concedida por ocasião do fim escatológico. Infelizmente, o cristianismo abraçou a visão platônica da alma inerentemente imortal. A seguir, analiso as duas posições separadamente.

ALMA IMORTAL

Em primeiro lugar, a alegação de que a alma é imortal resulta no ensinamento de que a vida de uma pessoa fora do corpo é indestrutível. Em segundo lugar, essa alma imortal, seja ela o que for, é algo que, por natureza e função, pertence ao ser humano. De fato, ela é o ser humano desencarnado existindo por si mesmo. Em terceiro lugar, se esse for o caso, em nenhum momento da história da humanidade caída a vida da alma esteve em risco. Assim, o corpo morre como resultado do pecado, mas a alma vive para sempre. Em quarto lugar, se estivermos corretos em nossas declarações anteriores, então a alma não tem necessidade de salvação, pois nada pode ameaçá-la. Em quinto lugar, alguns provavelmente argumentariam que é a esfera onde a alma imortal continua existindo que estabelece a necessidade de salvação, mas não da salvação da alma. Em outras palavras, provavelmente argumentariam que a alma precisa voltar à esfera de Deus por meio de Cristo, a fim de escapar das chamas eternas do inferno.

A IMORTALIDADE E O EVANGELHO

A crença na imortalidade inerente da alma ensina que há algo em nossa natureza que nunca perderíamos, independentemente de nossa condição espiritual. Assim, a alma não precisa de salvação. No entanto, a Bíblia ensina que o pecado prejudicou permanentemente a totalidade do ser. Isso significa afetar as dimensões espiritual, física, emocional e social, resultando na necessidade que os seres humanos têm de salvação. A única opção é ­tornar-se uma nova criatura por meio do sacrifício salvador de Cristo.

O ensinamento da imortalidade inerente da alma distorce o caráter amoroso de Deus conforme foi revelado na cruz

Além disso, como a existência humana nunca esteve em risco, a profundidade do sacrifício de Cristo e da manifestação divina do amor de Deus, demonstrado por meio desse sacrifício, é diminuída. Jesus não deu Sua vida por minha alma, porque ela é imortal! Alguns argumentam que, embora o pecado exigisse a reconciliação da alma com Deus, ele não prejudicou a vida inerente da alma. O dano que o pecado e a rebelião causaram à natureza humana e que levaria à nossa extinção é redefinido e, consequentemente, a magnitude da morte de Jesus é diminuída.

Finalmente, o ensinamento da imortalidade inerente da alma distorce o caráter amoroso de Deus conforme foi revelado na cruz, redefinindo a morte eterna como a permanência do ímpio no fogo do inferno. Que tipo de Deus queimaria as pessoas para sempre por viverem uma curta vida pecaminosa na Terra? Essa é uma das maiores tragédias doutrinárias da história do cristianismo e que, sem dúvida, resulta da aceitação da crença na imortalidade incondicional da alma.

ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ, pastor, professor e teólogo aposentado, foi diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica

(Texto publicado na seção Boa Pergunta da edição de março/2023 da Revista Adventista / Adventist World)

Última atualização em 14 de março de 2023 por Márcio Tonetti.