Por que o ensino da imortalidade inerente da alma distorce o caráter amoroso de Deus?
Ángel Manuel Rodríguez
Os adventistas acreditam que a Bíblia não ensina a imortalidade inerente da alma e afirmam que os seres humanos são uma unidade indivisível de vida na forma corpórea. Portanto, a imortalidade é um dom escatológico divino inseparável da ressurreição do corpo (1Co 15:50-55). Embora no início da era cristã houvesse diferentes interpretações sobre a alma humana, muitas tradições cristãs passaram a advogar que a alma é intrinsecamente imortal, habitando em um corpo material do qual é libertada quando o corpo morre. Porém, isso não é bíblico. É fundamental entendermos pelo menos três pontos à luz das Escrituras.
1. A alma e a condição humana. A perspectiva da imortalidade inerente da alma afirma que ela é indestrutível e, consequentemente, não há nenhum poder externo, nem mesmo o poder de Deus, que possa dar fim a ela (pelo menos, Deus parece não estar disposto a fazer isso). A conclusão óbvia é que o pecado não ameaçou a existência da alma. Algo em nós escapou da ferida mortal do pecado. No entanto, a Bíblia ensina que o pecado danificou permanentemente a totalidade da pessoa – a vida interior, bem como a vida espiritual, física e social – tornando todos os seres humanos necessitados da salvação (Gn 3:8-13; Rm 8:6, 7; 6:23). As Escrituras ensinam que a alma que pecar morrerá (Ez 18:4; cf. Rm 1:32). A única opção é tornar-se uma nova criatura por meio do sacrifício salvador de Cristo (Jo 3:7; 2Co 5:17).
A IDEIA DE UMA ALMA IMORTAL OBSCURECE A GLÓRIA DO AMOR SACRIFICIAL DE DEUS
2. A alma e a salvação. A crença de que a existência humana nunca correu risco diminui a magnitude do sacrifício amoroso de Cristo. Nesse caso, Ele não deu Sua vida para salvar a alma porque ela não precisa ser salva. Aqueles que acreditam na imortalidade da alma provavelmente podem argumentar que o que está em risco é a esfera dentro da qual a alma imortal continuará a existir, mas não a alma em si. Eles defendem que a alma precisa voltar para a esfera de Deus por meio da obra de reconciliação de Cristo, a fim de escapar do segundo lugar da existência eterna, o inferno. Eles redefiniram o dano que o pecado e a rebelião causaram à natureza humana, diminuindo, ao mesmo tempo, a magnitude do sacrifício de Cristo – Ele não morreu para nos dar vida, mas para que nossa vida inerente seja mais agradável. Mas a verdade é que Seu sacrifício consistiu em descer ao reino da morte a fim de nos devolver a vida eterna que perdemos (Mc 10:45; Jo 3:16; 10:28; Rm 6:23). Em realidade, nada escapou do poder mortal do pecado e, para nos redimir, foi necessário um sacrifício infinito (2Co 8:9; Fl 2:7; Mt 27:43). A ideia de uma alma imortal obscurece a glória do amor sacrificial de Deus.
3. A alma e o juízo. Ao redefinir a morte eterna como sendo a alma dos ímpios queimando eternamente no inferno, o ensino da imortalidade inerente da alma distorce o caráter amoroso de Deus, como foi revelado na cruz. É até doloroso imaginar que Cristo intencionalmente queimaria pessoas para sempre, como castigo, por terem vivido uma vida curta de pecado neste planeta. Essa é uma das maiores tragédias doutrinárias da história do cristianismo e é, obviamente, o resultado da aceitação da crença na imortalidade inerente da alma. Deus não é um Senhor tão cruel, ao contrário, Ele é amor (1Jo 4:8; Ap 21:3, 4). De acordo com a Bíblia, os ímpios perecerão para sempre (cf. Ml 4:1; Sl 37:10; 145:20).
ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ, pastor, professor e teólogo aposentado, foi diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica
(Texto publicado na seção Boa Pergunta da Revista Adventista de abril/2024)
Última atualização em 15 de abril de 2024 por Márcio Tonetti.