Mortos

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Por que Deus proíbe a comunicação com os espíritos?

Ángel Manuel Rodríguez

Crédito da imagem: Adobe Stock

Essa é uma questão importante no campo da missiologia, principalmente em relação às religiões que veneram o espírito dos ancestrais. Em algumas culturas, isso ia além das convicções religiosas, sendo também uma questão de identidade. Bem conhecida em todo o antigo Oriente Próximo, essa prática, infelizmente, exerceu certa influência sobre alguns israelitas. Deus não ignorou esse fenômeno, mas o confrontou.

1. O que está por trás do culto aos ancestrais. Um conceito comum nos rituais antigos e modernos voltados para os antepassados é a visão dualista da natureza humana. Dessa perspectiva, os seres humanos seriam constituídos por dois elementos, um dos quais sobreviveria à morte do corpo. De alguma forma, a alma permaneceria conectada aos membros da família. Desse modo, os vivos seriam responsáveis por suprir as necessidades do espírito, demonstrando assim respeito e reverência aos mortos. Acredita-se ainda que o espírito dos ancestrais teria o papel de proteger e cuidar dos que ficaram. De acordo com essa crença, não cumprir com a responsabilidade de cuidar dos mortos deixaria os espíritos irritados, o que exigiria rituais para aplacar sua ira. Para essas pessoas, eles teriam também poderes sobrenaturais, podendo ser consultados acerca do futuro.

2. Resposta bíblica. Deus proíbe categoricamente a consulta aos “espíritos” dos mortos (Dt 18:11, 12).
Essa comunicação geralmente dependia de um médium que alegasse receber mensagens do além ou que fosse possuído pelo suposto espírito da pessoa que morreu (1Sm 28:11-19; Lv 19:31; 20:6, 27). A proibição bíblica dessa prática se baseia na compreensão da natureza indivisível do ser. Por isso, a morte significa inexistência absoluta, não havendo qualquer tipo de consciência (Sl 146:4) nem produtividade. As obras e os planos cessam (Ec 9:10), assim como a capacidade de adquirir conhecimento e expressar sentimentos. Quem morre é incapaz de amar, odiar ou sentir ciúme (v. 5, 6). Sua vida religiosa (v. 5; Sl 30:9; 115:17) e social chegaram ao fim (Ec 9:6). Em outras palavras, eles estão mortos, dependendo unicamente da ressurreição para voltar a viver (Is 26:19; 1Ts 4:16, 17).

3. A morte é uma intrusa. Ela será o último inimigo a ser derrotado por Cristo (1Co 15:26). Nos rituais do Antigo Testamento, a morte estava relacionada à impureza ritual que separava as pessoas de Deus e da sociedade, tornando-se um símbolo máximo da ausência do sagrado (cf. Lv 5:2; 19:2; 21:1; Nm 6:9). Entrar em contato com os mortos era fazer amizade com o inimigo em vez de estabelecer uma relação com o Deus vivo.

Se algum conhecimento parece vir do reino da morte, é porque os poderes malignos se fazem passar pelos mortos. Quando a médium descreveu a Saul o que tinha visto, ela disse: “Vejo um deus [elohim] subindo da terra” (1Sm 28:13; cf. Lv 17:7). Porém, somente o Deus verdadeiro está no comando do futuro e compartilha Seus planos e Sua vontade com os vivos por meio da Sua Palavra. Não há razão para consultar os mortos. 

ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ, pastor, professor e teólogo aposentado, foi diretor do Instituto de Pesquisa Bíblica

(Artigo publicado na seção Boa Pergunta da Revista Adventista / Adventist World de junho/2024)

Última atualização em 24 de junho de 2024 por Márcio Tonetti.