Desdobramentos das reuniões da Associação Geral que marcaram a história do adventismo em nosso continente
Eric E. Richter

A cada cinco anos, os adventistas do sétimo dia ao redor do mundo têm a oportunidade e o privilégio de se reunir como igreja para louvar a Deus, planejar o avanço da missão e escolher seus representantes e líderes para o próximo quinquênio. Embora cada uma dessas assembleias seja única e especial, algumas delas tiveram um significado particularmente marcante para os adventistas da América do Sul. Convido você a conhecer essas histórias.
1886: A primeira menção à América do Sul
Na sexta-feira, 19 de novembro de 1886, a América do Sul foi mencionada pela primeira vez nas deliberações de uma Assembleia da Associação Geral. Durante a 25ª edição, realizada de 18 de novembro a 6 de dezembro de 1886 em Battle Creek, no Michigan (EUA), foi registrado: “Cartas [provenientes] da África do Sul foram lidas, e fizeram-se comentários interessantes sobre a introdução da verdade ali e na América do Sul” (“General Conference Proceedings: Twenty-Fifth Annual Session”, Review and Herald, 23 de novembro de 1886, p. 8). Essa foi uma reação a cartas que haviam sido recebidas de Brusque, no Brasil, e de Colônia Esperanza, na Argentina, escritas por pessoas que haviam encontrado literatura adventista e aceitado seus ensinamentos (“From Russia and South America”, Review and Herald, 5 de janeiro de 1886, p. 13; “The agencies which God employs”, Review and Herald, 16 de junho de 1886, p. 10).
Tendo em vista que Deus estava abrindo portas nesses lugares, a Assembleia registrou o seguinte voto: “Considerando que, durante anos, o chamado macedônico tem vindo da África do Sul, América do Sul, Honduras Britânica e de outros campos, […] esta Associação recomendou que pastores e colportores fossem enviados a esses diversos campos e que uma missão fosse estabelecida na África do Sul, e que a obra fosse iniciada na América do Sul” (“General Conference Proceedings: Twenty-Fifth Annual Session”, Review and Herald, 14 de dezembro de 1886, p. 9).
1889: Os primeiros missionários para a América do Sul
Embora se reconhecesse a necessidade urgente de enviar missionários à América do Sul, não era fácil encontrar pessoas com o perfil adequado. Por esse motivo, a 33ª Assembleia da Associação Geral, realizada de 15 de fevereiro a 7 de março de 1889 em South Lancaster, Massachusetts, registrou o seguinte voto: “[Considerando] que a América do Sul oferece muitos campos promissores para colportores, […] que a Comissão de Missões [Estrangeiras] seja instruída a selecionar, o mais cedo possível, pessoas apropriadas para os lugares que necessitam de obreiros, e enviá-las para a obra assim que os fundos disponíveis no tesouro o permitirem” (“General Conference Proceedings – Nineteenth Meeting”, General Conference Daily Bulletin, 6 de novembro de 1889, p. 154).
A Associação Internacional da Escola Sabatina (que mais tarde se tornaria o Departamento de Escola Sabatina da Associação Geral) ficou encarregada de fornecer os recursos para financiar a missão na América do Sul, destinando todas as ofertas missionárias do período de julho a dezembro de 1890 (“International Sabbath-School Association”, General Conference Daily Bulletin, 22 de novembro de 1889, p. 162). Enquanto isso, a Comissão de Missões Estrangeiras recomendou três colportores para atuarem como missionários na América do Sul: Elwin W. Snyder (1865–1919), Clair A. Nowlen (1865–1961) e Augustus B. Stauffer (185?–1926). O líder do grupo era Snyder, que anteriormente havia servido como diretor de colportagem da Associação da Pensilvânia.
Os três colportores chegaram a Montevidéu em 10 de dezembro de 1891. No entanto, devido às dificuldades apresentadas pela cidade, poucos dias depois mudaram-se para Buenos Aires, que se tornou sua base de operações. Nos anos seguintes, viajaram por diversas regiões do Chile, Argentina, Uruguai e Brasil. Stauffer foi o primeiro missionário adventista a ingressar no território brasileiro.
Naquela época da história da Igreja Adventista, muitas iniciativas missionárias não passavam necessariamente por uma Assembleia da Associação Geral. A Comissão de Missões Estrangeiras era responsável por administrar grande parte da obra missionária em países fora da América do Norte. Por esse motivo, o envio do primeiro pastor ordenado à América do Sul não foi decidido em assembleia. A Comissão Diretiva da Comissão de Missões Estrangeiras votou, em 13 de abril de 1894, que “o pastor Frank H. Westphal fosse para a Argentina, América do Sul, e que a tornasse seu campo de trabalho”; e em 11 de setembro do mesmo ano, votou que “o pastor F. H. Westphal fosse nomeado superintendente dos campos missionários do Brasil e da Argentina” (Atas da Comissão de Missões Estrangeiras, p. 92, 118).
Em 18 de agosto de 1895, Frank Westphal e sua família chegaram ao porto de Buenos Aires, sendo ele o primeiro pastor ordenado a entrar nesse território.
1895: Primeira delegação sul-americana
A 31ª Assembleia da Associação Geral, realizada de 15 de fevereiro a 4 de março de 1895 em Battle Creek, Michigan, foi a primeira a contar com um representante da América do Sul entre os 15 delegados presentes. Elwin W. Snyder, que na época era líder do grupo de colportores que trabalhava na América do Sul, retornou aos Estados Unidos para participar da Assembleia da Associação Geral como o primeiro representante registrado do território sul-americano (J. W. Scoles, “General Conference Notes”, Review and Herald, 19 de fevereiro de 1895, p. 1). Embora ele fosse apenas um missionário norte-americano e não um delegado local propriamente dito, sua participação na assembleia deu voz às necessidades e desafios que a América do Sul enfrentava.
1909: O primeiro delegado sul-americano
Na 37ª Assembleia da Associação Geral, realizada em Washington, D.C., de 13 de maio a 6 de junho de 1909, um sul-americano participou como delegado pela primeira vez. Embora Eduardo Thomann (1874–1955) tenha nascido na Suíça, quando ainda era criança, sua família emigrou para o Chile, onde ele se naturalizou. No início de 1896, foi batizado como adventista do sétimo dia em Santiago. Após sua conversão, Eduardo trabalhou como colportor, pregador, editor, tradutor e impressor. Foi responsável por editar e imprimir, pela primeira vez, os periódicos Sinais dos Tempos (1900) e Revista Adventista (1901) em espanhol.
Em 1904, a União Sul-Americana aprovou a ordenação pastoral de Eduardo Thomann, e, em 1909, ele foi eleito delegado da Assembleia da Associação Geral. Foi o primeiro delegado sul-americano que não era missionário norte-americano, mas sim uma pessoa criada e batizada em terras sul-americanas (“Delegates to the General Conference”, General Conferece Bulletin, 14 de maio de 1909, p. 2); “Notas editoriales”, Revista Adventista, julho de 1909, p. 16).
1918: Aceitação da Divisão Sul-Americana
À medida que a mensagem adventista se difundia e se fortalecia na América do Sul, a estrutura organizacional também se desenvolvia. No Concílio Anual da Associação Geral de 1915, foi aprovada a criação da Divisão Sul-Americana, que incluiria as Uniões Argentina, Brasileira e Incaica (William A. Spicer, “Report of the Biennial Council of the General Conference Committee”, Review and Herald, 2 de dezembro de 1915, p. 6).
No ano seguinte, em 6 de fevereiro de 1916, foi criada oficialmente a “Divisão Sul-Americana dos Adventistas do Sétimo Dia” durante uma assembleia realizada na cidade argentina de La Plata (“Organización de la División Sudamericana de los adventistas del séptimo día”, Revista Adventista, março-abril de 1906, p. 5, 6).
No entanto, por uma questão regulamentar, a criação de qualquer nova entidade organizacional requer a aprovação da igreja mundial. Por esse motivo, na 39ª Assembleia da Associação Geral, realizada em San Francisco, Califórnia, de 29 de março a 14 de abril de 1918, o pastor Oliver Montgomery (1870–1944), primeiro presidente da Divisão Sul-Americana, dirigiu-se aos 443 delegados presentes e declarou: “Desejo solicitar, em nome desta Divisão, que ela seja admitida na irmandade das Divisões, e proponho que [essa moção] seja aprovada.” As atas da assembleia registram que “a moção foi devidamente apoiada e aprovada por unanimidade” (“General Conference Proceedings – Thirty-Ninth Session of the General Conference”, General Conference Bulletin, 1º de abril de 1918, p. 2, 3).
1975: Primeiro presidente sul-americano
Desde a sua criação, diferentes pastores fiéis e dedicados ocuparam o cargo de presidente da Divisão Sul-Americana. Entre eles estão Oliver Montgomery (1916–1922), Charles Thompson (1922–1923), Peter E. Brodersen (1924–1926), Carlyle B. Haynes (1926–1931), Nels P. Neilsen (1931–1941), Reuben R. Figuhr (1941–1950), Walter E. Murray (1950–1958), James J. Aitken (1958–1966) e Roger A. Wilcox (1966–1975). No entanto, todos eles haviam sido missionários estrangeiros (principalmente norte-americanos) e ainda nenhum pastor sul-americano havia ocupado essa posição. Em 1975, durante a 52ª Assembleia da Associação Geral, realizada de 10 a 19 de julho em Viena, na Áustria, isso mudou.
Na segunda-feira, 14 de julho de 1975, foi aprovada a nomeação de Enoch de Oliveira (1975–1980) como novo presidente da Divisão Sul-Americana (“Nominating Committee Report, nº 3”, General Conference Bulletin, 15 de julho de 1975, p. 5). Natural de Curitiba (PR), o pastor Oliveira foi o primeiro sul-americano a presidir a sede da igreja no continente. Após sua nomeação, ele expressou as seguintes palavras: “Temos proclamado a bendita esperança na América do Sul e, graças a Deus e à dedicação de nossos obreiros e leigos, o movimento adventista estabeleceu raízes profundas e alcançou uma vitalidade notável. Nós, na América do Sul, estamos confiantes de que, sob a guia de Deus e por meio Dele, grandes coisas serão realizadas” (Raymond F. Cottrell, “The significance of the session”, Review and Herald, 7-14 de agosto de 1975, p. 23).
Cinco décadas depois, que essas palavras continuem sendo realidade, e que, pelo poder de Deus, coisas ainda maiores sejam feitas na América do Sul.
ERIC E. RICHTER é editor na Asociación Casa Editora Sudamericana (Aces)
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Última atualização em 8 de julho de 2025 por Márcio Tonetti.