A biblioteca de Ellen White

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Que tipo de literatura a pioneira tinha em seu acervo?

Tim Poirier

Foto: Ellen G. White Estate

No início de novembro de 1871, Ellen White interrompeu uma carta que estava escrevendo para Willie, seu filho adolescente, para atender a um compromisso em Boston, ­Massachusetts (EUA), com o famoso reformador da saúde ­Diocletian Lewis. Poucas semanas antes, ela e Tiago haviam deixado seu lar em Battle Creek, Michigan, em um itinerário de dois meses por todo o nordeste dos Estados Unidos. Agora estavam hospedados na casa dos Stratton, não muito longe da residência do médico.

Após voltar da visita, Ellen White relatou que, assim que chegaram, sentaram-se em um sofá. Depois, foram ao consultório de “um homem muito afável, social e de coração aberto”.

Partilhando o interesse em comum nos benefícios do exercício e no uso de remédios naturais, Ellen White relatou que sua “entrevista foi a mais agradável. Conversamos tão familiarmente como se estivéssemos encontrando amigos de longa data”. Durante a conversa, o doutor Lewis convidou o casal White a visitar a famosa Biblioteca Athenaeum, de Boston, uma das bibliotecas semiprivadas mais importantes do mundo.

Ellen White foi cativada pelo ambiente que a circundava. “É uma visão e tanto”, ela escreveu. “Curiosidades na forma de livros de quase todas as datas. Alguns com centenas de anos de idade. O estilo da letra, a margem dos livros, os arranjos da matéria, eram uma curiosidade literária. Livros, livros, livros em cada prateleira, de história em história, de cada descrição, de cada ordem” (Ellen G. White para W. C. White, 10 de novembro de 1871 [Carta 17, 1871]).

Seu fascínio pela variedade de produções literárias confirma outros registros de que Ellen White era grande amante de livros, gostava da imagem e do cheiro de livrarias antigas e tinha satisfação em encontrar o volume certo para ampliar seu acervo.

Ellen White também incentivou outros a adquirir material de leitura de qualidade, recomendando, por exemplo, Life of St. Paul (A Vida de São Paulo), de Conybeare e ­Howson, como “um livro de grande mérito e de uma utilidade preciosa para o estudante sincero da história do Novo Testamento” (Signs of the Times, 22 de fevereiro de 1883, p. 96). Ela também sugeriu History of the Reformation (História da Reforma), de J. H. Merle D’Aubigne’s, como um livro “interessante e proveitoso” para presentear no Natal (Review and Herald, 26 de dezembro de 1882, p. 789).

PATRIMÔNIO LITERÁRIO

Ellen White possuía duas bibliotecas, uma pessoal e outra para os funcionários do seu escritório. Um inventário de ambas as coleções, realizado pouco depois de sua morte, revela que ela havia adquirido aproximadamente 1,4 mil títulos. Entretanto, quase 600 deles tinham sido comprados de seu secretário, Clarence C. Crisler, em 1913. Por isso, é provável que ela não tenha chegado a utilizar muitos desses materiais incorporados ao seu acervo. Hoje, o Patrimônio Literário de Ellen G. White registra cerca de 500 livros originais de sua biblioteca, sendo que o mais antigo foi impresso em 1600. Quarenta deles contêm sua assinatura manuscrita e marcas ocasionais ao longo do texto. No entanto, depois que a pioneira faleceu, muitos dos seus livros foram vendidos ou doados a instituições educacionais adventistas.

Embora Ellen White considerasse a Bíblia como o Livro dos livros, ela também reconhecia o valor de outras literaturas

Como sabemos que foi Ellen White que marcou as passagens, já que ela comprou alguns livros de segunda mão? A pioneira tinha um estilo característico de tratar seus livros. Diferentemente de John Andrews, que corrigia erros de ortografia e acrescentava outras referências enquanto lia um livro, Ellen White tinha um estilo que era muito mais “gentil”. Há ocasionais impressões digitais manchadas de tinta nas bordas das páginas, mas o texto impresso é desprovido de qualquer marcação. Não era prática dela sublinhar. Ao contrário, costumava fazer simples traços verticais nas margens, com pouco mais de meio centímetro de comprimento, ao lado das linhas que despertavam seu interesse. Às vezes, ela fazia um pequeno “x” ao lado do parágrafo, ou simplesmente dobrava o canto da página.

JANELA PARA SUA COLEÇÃO

Que tipo de livros Ellen White tinha em sua biblioteca? (veja o inventário completo aqui). Não é surpresa que ela colecionava livros sobre assuntos nos quais tinha mais interesse: história, comentários bíblicos, vida e ensinos de Cristo, saúde, educação, história da igreja, biografias e prática cristã. Ela usou vários deles em seus escritos.

Embora sua biblioteca incluísse obras de autores adventistas, a maioria era de outros ­escritores. Em parte, isso se devia ao fato de haver um número limitado de livros escritos por autores adventistas no tempo em que ela viveu. Ellen White não acreditava que uma pessoa ou um grupo tivesse o monopólio da verdade.

Em uma carta, William C. White, um dos filhos de Ellen, registrou algo interessante sobre o hábito de leitura de sua mãe: “Ela tomou a posição de que coisas escritas por homens piedosos, contendo exposições das Escrituras e apresentando verdades bíblicas, também deveriam ser incluídas em nossa leitura” (W. C. White para L. E. Froom, 14 de fevereiro de 1926). Embora devamos filtrar o que lemos com a “peneira do evangelho”, Ellen White reconhecia que o Espírito Santo impressiona muitas e variadas mentes com as gemas da verdade durante o estudo da Palavra de Deus.

Essa janela para a biblioteca de Ellen White revela sua forte apreciação pela boa leitura, mas ela conhecia plenamente as deficiências de meras produções humanas.

“De todos os livros que inundaram o mundo, por mais que sejam tão valiosos, a Bíblia é o Livro dos livros e merece a atenção e o estudo mais detalhados. Ela contém não apenas a história da criação deste mundo, mas a descrição do mundo que está por vir. Ela contém instruções a respeito das maravilhas do Universo e revela, para nossa compreensão, o Autor dos céus e da terra” (Ellen G. White, Review and Herald, 21 de agosto de 1888).

Esse Autor ainda vive e é Aquele com quem nos encontraremos em breve.

TIM POIRIER é vice-diretor do Patrimônio Literário de Ellen G. White, nos Estados Unidos

Última atualização em 30 de maio de 2023 por Márcio Tonetti.