Pesquisadora da Escola de Saúde Pública da Universidade de Loma Linda fala sobre a relação entre nosso modo de viver e a saúde do corpo e do planeta
No mês em que o calendário reserva um dia para ações e reflexões voltadas para o cuidado do meio ambiente (5 de junho), a matéria de capa da Revista Adventista mostra como o regime que você escolhe impacta o planeta. Por isso, segundo os especialistas, a dieta do futuro será a que preza pela sustentabilidade. Nesta entrevista, a doutora Ujué Fresán, pesquisadora na Escola de Saúde Pública da Universidade de Loma Linda (EUA), explica como a dieta sustentável atua positivamente não apenas sobre a saúde do corpo, mas também protege a vida dos animais, favorece a economia e reduz o impacto ambiental. Confira o bate-papo, que será publicado em versão mais ampla na edição de julho da revista Vida e Saúde.
O que pode ser considerada uma dieta sustentável?
Segundo a FAO, agência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, esse tipo de dieta é a que é saudável para o corpo, culturalmente aceitável, economicamente acessível e que produz mínimos impactos ambientais. Isso quer dizer que ela não é apenas sustentável para o meio ambiente, mas envolve muitas outras coisas. Mas é importante lembrar que uma dieta sustentável não é um conceito fixo. Ela deve ser uma dieta que uma população específica possa seguir facilmente. Quer dizer, quanto mais saudável e ambientalmente amigável, melhor; mas, ao mesmo tempo, essa dieta deve levar em conta que as pessoas estão imersas em uma cultura específica que, de uma forma ou de outra, influencia na vontade de comer alguns tipos de alimentos.
É possível propor uma dieta sustentável sem gerar um conflito de interesses?
É difícil. Uma mudança em direção a uma dieta mais sustentável teria um grande impacto econômico sobre os pecuaristas, a indústria de rações e o setor de processamento de carne. O lobby de alimentos recebe subsídios e, obviamente, eles não querem que essa questão mude. Carne, especialmente carne bovina, é o alimento que produz mais insalubridade ambiental. Contudo, se não for possível, não é necessário parar de comer carne, mas qualquer redução em seu consumo já produz efeitos menos prejudiciais. É verdade ainda que a cultura influencia as escolhas alimentares das pessoas, mas se forem conscientizadas sobre as consequências de sua dieta, talvez as pessoas mudem isso.
Que tipo de benefícios para a saúde o vegetarianismo oferece? Os estudos apontam diferenças reais na saúde e na doença de vegetarianos e onívoros?
Já foram provados os benefícios de seguir uma dieta vegetariana! As pessoas que aderem a uma dieta com base em vegetais têm menos risco de sofrer algumas doenças, como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer, entre outras, ou até mesmo vivem uma vida mais longa, comparando com pessoas que seguem uma dieta onívora.
Do ponto de vista nutricional, as dietas com base em vegetais são capazes de atender às nossas necessidades diárias?
O único nutriente problemático é a vitamina B12. Essa vitamina é fornecida somente por produtos de origem animal, por isso os vegetarianos estritos devem tomá-la em forma de suplementos. Tirando isso, não apresentam deficiências em nenhum outro nutriente. As pessoas em geral não estão dispostas a parar de comer alimentos de origem animal, pois acreditam que a carne seja a única fonte de proteína, ou produtos lácteos de cálcio. No entanto, os alimentos vegetais como feijão, legumes ou verduras poderiam contribuir da mesma forma, porém com a vantagem adicional de não fornecerem gordura saturada nem colesterol.
Para se tornar um vegetariano saudável, basta tirar a carne do prato?
A resposta é clara: NÃO! Seguir apenas dietas vegetarianas não garante benefícios à saúde. Por exemplo: a dieta tradicional do Mediterrâneo recomenda o consumo de frutas, legumes, nozes, grãos integrais e legumes, mas também pequenas quantidades de carne magra e peixe. Nessa situação, a remoção de carne da dieta seria suficiente para ser um vegetariano saudável. No entanto, esse não é o caso da sociedade atual, em que as pessoas seguem principalmente a dieta ocidental, com base em produtos processados, com altas quantidades de açúcar adicionado, gorduras e sal. Nessa situação, apenas evitar carne não é suficiente para obter uma dieta saudável. De fato, uma dieta vegetariana saudável deve ter por base o consumo de alimentos “reais”, como leguminosas, grãos integrais, frutas, vegetais, nozes e sementes.
AGATHA LEMOS, jornalista e mestre em Ciência, é editora associada da revista Vida e Saúde
Última atualização em 15 de junho de 2018 por Márcio Tonetti.