Uma conversa com o capelão do Senado dos Estados Unidos
Como 62º capelão do Senado dos Estados Unidos, Barry C. Black personifica uma trajetória guiada pela providência. Criado no subúrbio de Baltimore nos anos 1950 e 1960, sua mãe, uma trabalhadora doméstica, certa vez levou algumas coisas para casa. O prêmio de Barry foi um antigo álbum gravado do 57o capelão do Senado, Peter Marshall. Inspirado pelos “sermões melodiosos” de Marshall, Black os memorizou e procurava reproduzi-los para seus amigos do bairro, com sotaque escocês e tudo. Ele nunca sonhou que um dia ocuparia o mesmo lugar, tornando-se um dos mais longevos capelães (desde 2003), o primeiro afro-americano e o primeiro adventista a exercer a função. Nesta entrevista, concedida originalmente à revista Message e aqui sintetizada, Black fala um pouquinho sobre seu trabalho.
No clima político de hoje, com todas as tensões que vemos na mídia, o senhor acha mais difícil se relacionar com pessoas de diferentes partidos, ideologias e crenças?
Eu não acho difícil. Primeiro, minha posição é não partidária e não sectária. Assim, não preciso tomar partido. Isso não significa colocar meu cérebro numa posição neutra. Apenas ensino sobre a Bíblia para os senadores em um desjejum de oração. Quando perguntam sobre minha perspectiva a respeito de um assunto, posso dizer o que penso de maneira transparente, geralmente usando princípios teológicos ou filosóficos para apoiar meu ponto de vista.
As pessoas se envolvem nos estudos bíblicos no Senado? Surge algum tema “adventista”, no sentido genérico, como os últimos dias e a segunda vinda de Jesus?
Hoje estudamos sobre o Espírito Santo, que testifica de Cristo e está sempre conosco. Que dom maravilhoso! Conversamos sobre isso durante uma hora com nossos legisladores, o que é empolgante. Há muitas denominações protestantes que acreditam na segunda vinda de Jesus, embora de maneiras diferentes. Então há familiaridade com certos assuntos.
O senhor parece transmitir um senso extremo de calma neste momento, considerando os acontecimentos.
Busco a orientação da Bíblia, como Filipenses 4:6 e 7 (“Não andeis ansiosos de coisa alguma…”) e Mateus 6:34 (“basta ao dia o seu próprio mal”). Não concentro preocupações de ontem nem do futuro no dia de hoje. Isso seria mais do que eu poderia lidar. Mas posso manejar facilmente um dia de cada vez.
Talvez exista aqui um senso de companheirismo que o senhor perceba melhor do que nós. Mas já surgiu algum debate ou conflito que o fez pensar em se afastar para orar sobre sua função?
Esse não é o meu estilo. Sou fascinado pela história. Houve um tempo, 1857, em que a Suprema Corte [no caso Dred Scott v. Sandford] disse que eu sou 3/5 humano. Tivemos duas guerras mundiais. Houve momentos de grandes crises. Então, se os tempos atuais são desafiadores, Deus nos conduziu por situações muito piores. Se alguém tivesse dito que eu viveria para ver um presidente afro-americano [Barack Obama] e que seríamos amigos… Se alguém dissesse que eu almoçaria com Coretta King… Se falasse que eu faria a oração no dia em que Rosa Parks, em seu caixão, foi homenageada na rotunda do Capitólio… Seria difícil acreditar.
O que o senhor pensa sobre o fato de os Estados Unidos serem uma nação cristã? Isso não fere seu senso de liberdade religiosa?
A capelania do Senado foi estabelecida em 1789; portanto, antes da Primeira Emenda, que proíbe o Congresso de fazer leis sobre religião. Os fundadores na nação desejavam uma separação entre Igreja e Estado, mas não uma separação entre Deus e o Estado. Há uma distinção entre as duas coisas.
O Espírito o move a dizer alguma coisa em particular? Como o senhor mantém vivo seu fervor espiritual?
Um ministro alimenta o povo com o que ele descobre ser bom para sua própria nutrição (1Co 11:23).
Falo do que me inspira. Num voo, as comissárias de bordo informam que, em caso de turbulência, as máscaras de oxigênio irão cair. Coloque a máscara em você antes de colocá-la em alguém. Então coloco a “máscara” primeiro em mim mesmo, passando tempo em oração e estudo da Bíblia. A exposição de qualidade à influência das Escrituras quase irá garantir a santificação.
Última atualização em 8 de setembro de 2022 por Márcio Tonetti.