A morte da morte

5 minutos de leitura

Olhando o presente com foco na esperança da ressurreição

Heber Toth Armí

Foto: Adobe Stock

O coronavírus trouxe à nossa consciência a fragilidade da vida. Assim, o medo, a angústia, a preocupação e a insegurança rapidamente tomaram conta de todas as classes sociais e povos do mundo. Felizmente, Cristo trouxe a certeza da vida eterna. Sua morte e ressurreição oferecem a oportunidade de salvação a ricos e pobres de todas as etnias. A doutrina da ressurreição é essencial na proclamação da verdade trazida e vivida pelo Salvador. Ela foi fortemente proclamada pelos primeiros líderes do cristianismo após a ascensão de Jesus ao Céu.

Em meio ao drama que envolve todas as áreas da vida, como política, economia e até a religião, precisamos urgentemente reavivar nossa crença na doutrina da ressurreição. Afinal, a proclamação do evangelho no período apostólico fundamentava-se no Cristo ressurreto, cujo sacrifício visa garantir a ressurreição dos cristãos mortos. Eis aí um dos aspectos que caracterizavam a pregação como boas-novas (evangelho).

CRENÇA NOTÁVEL

Nem todas as crenças cristãs ganharam um capítulo inteiro na Bíblia, mas a enfática doutrina da ressurreição ganhou um dos trechos mais longos do Novo Testamento. 1 Coríntios 15, com seus 58 versículos, nos convida a atentar para esse assunto tão oportuno, quando a imprensa e as mídias sociais destacam, inevitavelmente, tantas mortes, neste que é o pior momento da pandemia em nosso país.

O apóstolo Paulo não tinha dúvida sobre a ressurreição de Cristo. A garantia de “um amanhã da ressurreição” está na certeza de que Cristo morreu e ressuscitou, criando assim uma possibilidade maravilhosa à humanidade caída em pecado. Não haveria “manhã gloriosa” nem segunda vinda de Cristo sem que Ele ressuscitasse; os cristãos teriam perdido seu tempo, teriam vivido por nada e morrido em vão. Porém, como Cristo ressuscitou, se negarmos a ressurreição, estaremos negando o próprio Cristo, o evangelho e a Bíblia. Por outro lado, se cremos na ressurreição de Jesus, não apenas creremos na ressurreição dos cristãos que faleceram, mas teremos o privilégio de revê-los, abraçá-los e desfrutar para sempre da companhia deles!

Diante dos argumentos de Paulo, podemos alegar que, quanto maior for nossa confiança na soteriologia, maior será nossa esperança na escatologia. Embora a lei de Deus nos revele o pecado, e este nos conduza à morte, o Cordeiro de Deus (Jo 1:29), que tira o pecado do mundo por meio de Sua morte, nos concede a vitória sobre a morte. Assim, no presente, ainda que seja real nos despedirmos dos mortos, a saudade durará pouco tempo. Na segunda vinda de Cristo, teremos de volta nossos queridos que morreram crendo em Jesus e, na companhia deles, nos despediremos da morte.

Embora a cultura greco-romana desafiasse e ainda continue desafiando a esperança na ressurreição, a revelação bíblica permanece para ser estudada, apreendida e proclamada como um bálsamo refrescante a todo coração carente de uma esperança concreta diante da dor da saudade provocada pela ausência da vida.

Ao analisarmos o que o Espírito Santo inspirou Paulo a escrever aos crentes de Corinto, percebemos que a morte não é a porta para o Céu, nem a antessala do paraíso. Na verdade, ela não é positiva, pois é inimiga (1Co 15:26). Por mais que as crenças erradas estejam em toda parte, no íntimo cada um de nós sabe que a morte não é bem-vinda. Ela é o salário do pecado, o oposto da vida (Rm 6:23).

MOTIVAÇÃO E FOCO CERTOS

Assim, em primeiro lugar, a motivação e o foco do cristão não devem ser a morte e seu reinado, mas a ressurreição da morte para a vida. Na ressurreição de Cristo encontramos encorajamento para agir incansavelmente em favor da proclamação do evangelho (1Co 15:1-11).

Em segundo lugar, a motivação e o foco do cristão não estão nas dúvidas sobre a morte e a ressurreição, mas na certeza da revelação divina acerca da ressurreição. Incerteza quanto à ressurreição põe em dúvida o ministério evangelístico, ameaça a fé cristã e enfraquece a esperança no futuro. Por outro lado, a crença correta na revelação de Deus quanto ao futuro reaviva nossa fé e nossa esperança no Cristo ressurreto (1Co 15:12-19).

Em terceiro lugar, a motivação e o foco do cristão não estão nas crenças populares a respeito da morte, mas na vitória do Cristo que ressurgiu para garantir a ressurreição dos que confiam seu futuro a Ele. Note que, desde o início do capítulo, Cristo é a referência do apóstolo, cuja ênfase cresce no decorrer das exposições de seus sofisticados e criativos argumentos em favor da certeza da ressurreição. Ele deixa, assim, um poderoso e inspirado legado escriturístico, no qual mostra que a teologia da vitória de Cristo sobre a morte garante um futuro brilhante a toda pessoa dependente Dele (1Co 15:20-28).

Possuir tais informações bem articuladas sobre a ressurreição prevista para o segundo advento de Cristo (v. 23) muda nossa maneira de ver o futuro. Os ressuscitados não terão corpo frágil, desonroso e corruptível; ao contrário, ao “ressoar a última trombeta” (v. 52), o corpo dos ressuscitados será espiritual, glorioso, poderoso e incorruptível (v. 29-57).

Por isso, somos encorajados a (1) deixar de lado a filosofia humanista, imediatista e pessimista do “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos” (v. 32); (2) fugir das más conversações que corrompem os bons costumes, oriunda dos hereges e dos que deturpam a verdadeira doutrina bíblica da ressurreição (v. 33); (3) tornar-nos sóbrios, equilibrados e concentrados como realmente deve ser o cristão, a fim de não cair em tentação, e então submergir no mar das ilusões das ideias e conceitos pervertidos que visam solapar nossa fé e esperança de um futuro glorioso (v. 34); (4) ser firmes e inabaláveis diante das diversas crises e adversidades que a vida neste mundo carcomido pelo pecado nos prega, tentando minar nossa motivação na continuidade e intensidade da missão (v. 58); e (5) ter ciência de que trabalhar incansavelmente para o Senhor será benéfico a cada crente fiel (v. 58).

RESTAURAÇÃO COMPLETA

Além da alegria da ressurreição, temos informações no texto que nos mostram como os ressurretos estarão novamente entre nós, os vivos. Após destacar que os cristãos ressuscitados terão corpos, o texto apresenta a transformação pela qual o corpo precisa passar para poder entrar no ambiente sagrado do Céu (v. 35-53).

Ellen White amplia nossa compreensão da revelação apresentada pelo apóstolo Paulo: “Nossa identidade pessoal é preservada na ressurreição, se bem que não as mesmas partículas de matéria e substância material que foram para a sepultura. As maravilhosas obras de Deus são um mistério para o homem. O espírito, o caráter do homem, volta a Deus para ser preservado. Na ressurreição cada pessoa terá seu próprio caráter” (Maranata, p. 299).

Portanto, essa transformação esplendorosa não nos impedirá de identificar nossos queridos. Nesse dia espetacular, “mataremos a saudade” daqueles que estavam separados pela morte. Reconheceremos nossos amados. Abraçaremos nossos queridos vivos novamente. Pelo fato de Cristo ter ressuscitado com corpo em Sua primeira vinda, Ele terá condições de chamar os mortos à vida, com corpos glorificados, em Sua segunda vinda.

Em face de um mundo em desespero, o povo de Deus deve levar a esperança. Não qualquer esperança, mas a revelada na Bíblia e com base na vitória de Cristo. Inspirados nessa realidade, um dia poderemos gritar: “Tragada foi a morte pela vitória” (v. 54). Nesse dia se dará a morte da morte. Aleluia!

Aguardemos com grande expectativa esse grandioso momento com o coração tomado pela maravilhosa promessa da ressurreição, que resultará em reencontro com os cristãos que foram ceifados pela morte. Além de viver essa esperança, vamos compartilhá-la com nosso próximo. Em Cristo, cuja ressurreição é um símbolo e uma garantia da ressurreição final, temos um futuro seguro.

HEBER TOTH ARMÍ, mestre em Teologia, é pastor em Osório (RS)

(Artigo publicado na edição de abril de 2021 da Revista Adventista)

Última atualização em 10 de abril de 2023 por Márcio Tonetti.