Lições do Pai Nosso para a vida devocional
Eduardo Rueda Neto

Uma dúvida frequente entre os recém-convertidos é como orar, especialmente para aqueles que vêm de religiões ou denominações cristãs nas quais a prece consiste, basicamente, em repetir palavras. Muitos se frustram ao descobrir que a Bíblia não prescreve nenhuma lista de “rezas”. De fato, a maior parte das orações encontradas nas Escrituras, sobretudo nos Salmos, são espontâneas, fruto do extravasar sincero do coração perante Deus. Contudo, embora a Bíblia não determine nenhuma prece em particular, Cristo nos deixou um modelo de oração, o qual deve inspirar nossas conversas com o Criador.
A chamada Oração do Senhor, ou Pai Nosso, está registrada em Mateus e Lucas (Mt 6:9-13;
Lc 11:2-4). A forma mais conhecida é a do evangelho de Mateus. Essa preciosa e bela oração nos ensina alguns princípios muito importantes para nossa vida devocional. O primeiro deles é derivado da própria estrutura da oração, composta por seis petições divididas em duas partes: os interesses do reino de Deus (Mt 6:9, 10) e os nossos interesses (v. 11-13). Em outras palavras, os temas relativos ao Reino devem sempre ser prioridade em nossas orações.
Os temas relativos ao Reino devem sempre ser prioridade em nossas orações
A oração-modelo de Jesus começa chamando Deus de Pai (v. 9), o que sublinha a importância de cultivarmos intimidade com o Senhor. No entanto, essa intimidade não implica irreverência, pois, em seguida, pede-se que Seu nome seja santificado, ou honrado. Pede-se também que o reino de Deus venha (v. 10a), súplica que se torna incoerente se não estamos envolvidos com a pregação do evangelho e o estabelecimento do Reino (Mt 14:14). Junto a essa petição, solicita-se que seja feita a vontade de Deus, “assim na Terra como no Céu” (v. 10b). Isso demanda renúncia de nossa parte e a disposição, por vezes difícil, de trocar nossa vontade pela vontade do Senhor. Com isso, encerra-se o primeiro bloco do Pai Nosso.
O segundo bloco começa com um pedido pelo “pão nosso de cada dia” (v. 11). Essa petição
nos lembra que somente Deus pode suprir nossas necessidades – não apenas de alimento, mas de todo tipo. É importante ressaltar também que o “pão” que Deus nos dá deve ser compartilhado, pois ele é “nosso” e não apenas “meu”, assim como o Pai é nosso (v. 9). Isso nos move à solidariedade. Em seguida, Jesus nos ensina a pedir perdão pelos nossos pecados (“nossas dívidas”); porém, o recebimento do perdão divino é proporcional ao perdão que concedemos aos outros (v. 12). Nesta parte da oração, somos convidados a nos reconciliar e a nos reconectar com o nosso próximo (ver Mt 5:23, 24). Por fim, o Salvador nos incentiva a pedir que Deus nos livre do mal e nos dê vitória sobre a tentação (v. 13). O Senhor não nos livrará dos convites de Satanás ao pecado, mas Ele pode nos fortalecer para que não caiamos nas armadilhas que o inimigo coloca em nosso caminho (ver 1Co 10:13).
Em várias traduções da Bíblia consta uma doxologia ao final do Pai Nosso (v. 13b: “pois Teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém”). Embora essa nota de louvor provavelmente não estivesse presente no texto original (por isso, geralmente fica entre colchetes), tendo sido uma adição posterior inserida como parte da tradição litúrgica cristã, ela reflete bem o espírito da oração como um todo e aponta para o seu começo: a realidade de um Pai soberano, que reina sobre todo o Universo, mas está atento às nossas necessidades e deseja atendê-las com indescritível amor.
EDUARDO RUEDA NETO é pastor e professor de Teologia no Unasp
(Artigo publicado na seção “Enfim” da Revista Adventista de fevereiro/2025)
Última atualização em 20 de fevereiro de 2025 por Márcio Tonetti.