O nascimento de Cristo restabeleceu o laço rompido entre a criatura e o Criador
Gabriel Galvani
“Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele concede o seu favor” (Lc 2:14, NVI). Na noite em que Jesus nasceu, os humildes pastores nos arredores de Belém foram os primeiros seres humanos agraciados com essa bela melodia, entoada perfeitamente pela hoste celestial que anunciou a chegada do Salvador. Desde então, os acordes desse louvor têm ressoado ao longo dos séculos como um lembrete perene do envio do Filho de Deus a este mundo, tomado pelas trevas do pecado.
Ao fim de cada ano, em igrejas, praças e até mesmo em shopping centers, ouvimos canções natalinas inspiradas nesse louvor, que, muito antes de inundar as colinas de Belém, ecoou no Céu. O hino angelical registrado por Lucas foi entoado pela primeira vez nas cortes celestiais, milênios antes do humilde nascimento do Salvador.
Ellen White narra vividamente a reação dos anjos ao verem a maldição do pecado se abater sobre o primeiro casal e sobre o mundo em sua infância: “A queda do homem encheu todo o Céu de tristeza. […] Os anjos cessaram seus cânticos de louvor. Por toda a corte celestial havia lamento pela ruína que o pecado havia causado” (Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 39). A rebelião iniciada no Céu havia alcançado a Terra. A humanidade atraiu sobre si a ira divina contra o pecado, tornando-se merecedora do mesmo castigo destinado a Satanás e seus anjos. Contudo, Aquele que é a suprema manifestação da misericórdia Se ofereceu para receber a ira divina no lugar dos transgressores da lei.
Quando o plano da redenção foi apresentado aos anjos, eles não suportaram sequer imaginar o penoso caminho que Cristo trilharia para resgatar os seres humanos e restaurar a ordem no Universo. Então, conforme relata Ellen White, “os anjos se prostraram aos pés de Seu Comandante e se ofereceram para ser sacrifício pelo homem” (Patriarcas e Profetas, p. 40). Mas o sacrifício de uma criatura, ainda que perfeita, não seria suficiente para reverter a penalidade que Adão e Eva haviam atraído sobre si e sobre toda a sua descendência. O Legislador teria que beber, até a última gota, o cálice destinado aos pecadores. E os anjos teriam que, impotentes, contemplar a humilhação e os sofrimentos de seu amado Comandante na cruz. No entanto, Cristo lhes mostrou os futuros efeitos gloriosos de Seu sacrifício e ordenou que concordassem com esse plano de resgate, alegrando-se com Ele.
Nesse momento, uma alegria inexprimível encheu o Céu: “A glória e a bem-aventurança de um mundo redimido foram maiores até mesmo do que a angústia e o sacrifício do Príncipe da vida. Pelos paços celestiais ecoaram os primeiros acordes daquele cântico que deveria soar por sobre as colinas de Belém” (Patriarcas e Profetas, p. 41).
Ao ler essa citação de Ellen White, minha visão sobre o hino angélico de Lucas 2:14 foi transformada. Entendi que, nos arredores de Belém, os anjos glorificaram a Deus pelo fato de o plano da redenção ter entrado em sua fase de execução. O Redentor, há muito aguardado, havia enfim nascido para reestabelecer o laço rompido entre as criaturas decaídas e o Criador. A paz exaltada nesse cântico não é entre os seres humanos, como se os anjos anunciassem um tempo de fraternidade, mas sim entre os pecadores e Deus.
Anos após Cristo cumprir no calvário a missão iniciada na manjedoura, Paulo escreveu o seguinte sobre essa paz: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio do nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5:1, NAA). Neste Natal, reflita sobre a maravilhosa oferta de paz que o Pai nos faz por meio do sacrifício de Seu amado Filho.
GABRIEL GALVANI é editor na CPB
(Artigo publicado na seção “Enfim” da Revista Adventista de dezembro/2024)
Última atualização em 26 de dezembro de 2024 por Márcio Tonetti.