Mais do que suprir necessidades básicas das famílias de baixa renda, o programa Mutirão de Natal, criado há 25 anos, tem preenchido vidas com o evangelho
Vanessa Arba
Era dezembro de 2018. Na cidade de Porangaba, no interior de São Paulo, o Clube de Desbravadores da pequena e única igreja adventista da região fazia sua confraternização de fim de ano. Uma das crianças se aproximou da secretária do clube e, segurando seu pratinho de comida, pediu: “Tia, posso levar a metade do lanche para casa, para a minha mãe?” Ao ouvir essas palavras, Maria Goretti percebeu que se tratava de uma família com necessidades. E, de fato, era! Com o pai desempregado e a mãe sem condições de saúde para trabalhar, o que o pequeno José e a irmã tinham à mesa nas refeições diárias eram apenas arroz e mandioca.
Por aqueles dias, a Casa Publicadora Brasileira, onde trabalham Goretti e o marido, Valter Cândido, estava envolvida no projeto Mutirão de Natal. A cada ano, os servidores da instituição costumam se mobilizar e doar centenas de cestas básicas, que, ao fim da campanha, são distribuídas para as igrejas da região de Tatuí, onde fica a sede da editora.
Naquela ocasião, ao decidir a quem direcionar as cestas doadas pela instituição para a igreja de Porangaba, o casal não teve dúvidas e incluiu Isaías e Denise Silva, pais de José, na lista de pessoas que seriam beneficiadas. Eles não continham a felicidade; afinal, o Natal seria bem diferente naquele ano, com a mesa farta para eles e seus filhos. Mal sabiam que o melhor presente ainda estava por vir.
Ao longo de todo o ano seguinte, a família foi abraçada pela igreja. No Clube de Desbravadores, as crianças estavam tão empolgadas quanto seus pais nas classes bíblicas. O Natal de 2019 foi ainda mais especial que o anterior, já que toda a família tomou a decisão pelo batismo. No dia da cerimônia (3 de dezembro), por ocasião do encerramento da campanha na CPB, as palavras de Isaías foram cheias de gratidão: “Estou muito feliz e quero levar para outras pessoas também o privilégio que Deus deu a mim e à minha família. Quem sabe Ele as chame, como fez comigo através de uma cesta básica!”
DE JANEIRO EM DIANTE
O exemplo da família Silva retrata bem a responsabilidade social que o Mutirão de Natal assumiu ao longo dos seus 25 anos de história. Tendo nascido como uma simples campanha de arrecadação de alimentos para proporcionar um fim de ano mais feliz a pessoas carentes, a experiência mostrou que é possível – e necessário – ir além do básico e levar a elas soluções mais duradouras.
Desde 2016, com o slogan “Podemos Fazer Mais”, os voluntários do projeto vêm desenvolvendo ações como reforma de casas, doação de sangue, cadastro de doadores de medula óssea, atendimentos de saúde, visitas a asilos e orfanatos, aulas gratuitas de alfabetização e cursos para geração de renda. Segundo o pastor Herbert Boger, atual coordenador do Mutirão de Natal na América do Sul, o apelo para as próximas campanhas é que os participantes, de fato, adotem alguém, uma família ou uma entidade. “Queremos acompanhá-los não apenas no Natal, mas pelo tempo que for necessário para que suas necessidades sejam atendidas. Queremos ajudá-los a garantir seu próprio sustento e a ter qualidade de vida”, explica.
E, claro, esse objetivo se estende às necessidades espirituais das pessoas, como no caso da família Silva. Para ela, o Mutirão de Natal significou não apenas uma ceia farta, mas a oportunidade de ter uma vida repleta de Deus e da Sua Palavra. Essa é a essência de toda atividade a que a Igreja Adventista se propõe; seja o que for que ela ofereça ao mundo, a salvação das pessoas é sempre o objetivo final.
VANESSA ARBA é jornalista e atua na equipe de assessoria de comunicação da sede sul-americana da Igreja Adventista
(Matéria publicada na edição de janeiro de 2020 da Revista Adventista)
Última atualização em 15 de janeiro de 2020 por Márcio Tonetti.