O que podemos fazer para ministrar aos homossexuais
Luise Schneeweiss
A Igreja Adventista do Sétimo Dia adota uma posição bíblica clara sobre a sexualidade humana. No entanto, ao encontrarmos uma pessoa que luta contra a atração pelo mesmo sexo, percebemos que não se trata apenas de uma questão doutrinária, mas da vida de pessoas. Este artigo compartilha pontos relevantes para o ministério com indivíduos que enfrentam desafios relacionados à sua sexualidade.
Amar significa estar disposto a aprender. Quando se trata de questões LGBTQIA+, é importante esclarecer alguns conceitos errôneos. A orientação sexual de uma pessoa refere-se ao sexo pelo qual ela se sente atraída. O fato de não se identificarem como heterossexuais pode ser um choque para muitos cristãos. Além disso, sentir-se preso no corpo errado e lutar contra a própria identidade sexual é igualmente desafiador.
O valor da informação
A maioria das pessoas não tem conhecimento a respeito da diferença entre orientação e comportamento sexual. A Bíblia aborda o comportamento entre pessoas do mesmo sexo, mas não se refere à orientação sexual.
No cuidado pastoral, é problemático declarar a orientação de alguém como pecado, mesmo que isso seja uma consequência de nossa natureza caída. Os cristãos que sentem atração por pessoas do mesmo sexo frequentemente lidam com sentimentos de vergonha e culpa. No entanto, a tentação em si não é pecado.
Biblicamente, não há nada que impeça uma pessoa que é tentada por sentimentos homossexuais de ser batizada, trabalhar na igreja ou até mesmo ocupar um cargo de liderança, desde que ela rejeite a tentação.
As pessoas da igreja apostólica que se sentiam atraídas por alguém do mesmo sexo eram aceitas sem serem vistas como cristãos de segunda classe, desde que rejeitassem o comportamento homoafetivo (1Co 6:9-11).
Nossa identidade principal está em Cristo, não no gênero ou na orientação sexual, por mais próximos que esses aspectos estejam de nossa experiência. Portanto, não há razão para reduzir as pessoas à sua sexualidade. Todos têm um lugar em nossa igreja, independentemente de sua orientação sexual.
Reação apropriada
Se alguém revelar sua orientação sexual, mostre-se confiável. Aprecie a coragem da pessoa e evite reagir de modo assustado. Seja discreto e nunca revele a outras pessoas o que foi confiado a você. Mantenha a amizade e ore por essa pessoa, mesmo que ela tome decisões que você não apoie. Demonstre amor e aceitação pela pessoa, separando-a do pecado.
Não se retraia como se a orientação sexual de alguém fosse contagiosa. Comporte-se naturalmente, permitindo uma proximidade adequada. Não coloque todas as expressões de amizade sob suspeita, como se a pessoa se sentisse atraída por todos do mesmo sexo (o que também não ocorre com você). Se sentir repulsa, ódio ou desconforto, não hesite em lidar com isso em espírito de oração até chegar a uma atitude diferente (Mc 2:16, 17).
Evite moralizar. A pessoa provavelmente sabe o que os adventistas pensam sobre a homossexualidade. Não pressione alguém a terminar um relacionamento homoafetivo. Apenas as decisões tomadas por convicção própria são sustentáveis. Tal condição não deve impedir você de amar essa pessoa.
Você não precisa esconder sua posição bíblica. No entanto, dê testemunho da verdade com o maior amor possível e deixe espaço para a obra do Espírito. Lembre-se de que podemos incentivar as pessoas em sua jornada de fé, independentemente de seu comportamento ou de serem membros da igreja. Deus pode trabalhar com elas e orientá-las sobre como moldar sua vida particular. Esse é um processo que dura a vida inteira; portanto, seja paciente.
Visão realista
Alguns acreditam que, se tiverem fé e orarem o suficiente, serão libertados de sua orientação homossexual. Essa ideia muitas vezes está acompanhada da crença de que a orientação em si é considerada pecaminosa e, portanto, deve ser superada. Embora todas as coisas sejam possíveis com Deus e alguns tenham experimentado transformação plena, essa visão simplista pode ser problemática ao sugerir que sentimentos inalterados significam falta de fé.
Essa mentalidade tem causado danos emocionais e espirituais, por exemplo, nas chamadas terapias de conversão. As causas da orientação homossexual são controversas. Alguns acreditam que ela é determinada geneticamente, descartando qualquer possibilidade de mudança. Outros a atribuem principalmente a problemas de desenvolvimento, como traumas ou laços familiares, frequentemente fazendo especulações exageradas. As pesquisas atuais sugerem uma interação complexa de vários fatores, indicando que não há uma explicação simples.
Como as influências biográficas e relacionadas à personalidade podem desempenhar um papel importante, alguns consideram que o apoio terapêutico pode ser útil. No entanto, isso não deve estar associado ao objetivo ou à promessa de que a pessoa se sentirá heterossexual depois, mesmo que algumas tenham experimentado mudanças, sejam elas menores ou maiores, ao longo da vida.
Nova perspectiva
A solução para as pessoas com tendências homossexuais não é orar para que recuperem a saúde, mas oferecer uma perspectiva adequada, mesmo que sua orientação sexual persista, e acompanhá-las para que vivam fielmente.
Infelizmente, nossa ênfase natural no casamento e na família muitas vezes faz com que o matrimônio se torne um símbolo que indica um bom caráter cristão ou uma recompensa pela maturidade espiritual ou pela oração. Isso marginaliza os solteiros e prejudica as pessoas LGBTQIA+, privando-as de uma perspectiva de vida agradável.
A Bíblia apresenta dois modelos de vida: o casamento, que é uma metáfora da relação entre Cristo e a igreja, e a solteirice, exemplificada por Jesus, que, embora fosse totalmente humano, não era sexualmente ativo. Ambos são igualmente valiosos.
Há uma concepção equivocada de que o celibato exige um chamado especial, reconhecido pela atração que se sente por ele. No entanto, milhares de cristãos estão vivendo vidas celibatárias – seja como solteiros, viúvos, separados ou divorciados –, mesmo sem ter planejado ou escolhido essa condição. O chamado de Deus não se limita ao casamento ou à solteirice, mas se direciona à pessoa em si.
Nossa tarefa é apoiar cada pessoa em sua jornada espiritual. Precisamos de uma nova perspectiva sobre a amizade e de uma igreja que não seja dividida pelo estado civil.
Acolhimento cristão
Conversas honestas e profundas, abraços, diversão, atividades conjuntas e férias – devemos nos tornar mais criativos para proporcionar às pessoas solteiras um lar emocional. As pessoas buscam um lugar em que sejam amadas e lhes proporcionem senso de pertencimento. Temos algo a oferecer? A decisão de continuarmos a defender com credibilidade nosso ensino sobre casamento e sexualidade não dependerá apenas de palestras teológicas, mas também da prática vivida na igreja.
Não importa quão amorosa e cuidadosamente você apresente sua posição bíblica sob a perspectiva de uma cultura secular; ela pode ser entendida como homofóbica e desumana. No entanto, nossa ética sexual possui um grande potencial missionário. Ela pode revelar ao mundo um amor que é maior do que o sexo e uma família cuja coesão não pode ser explicada sem o Deus do amor. “Deste modo, todos saberão que vocês são Meus discípulos” (Jo 13:35, NVI).
LUISE SCHNEEWEISS atua no Ministério de Mulheres Adventistas Solteiras da União Austríaca
(Artigo publicado na edição de novembro da Revista Adventista / Adventist World)
Última atualização em 12 de novembro de 2024 por Márcio Tonetti.