Arquitetura divina

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Princípios bíblicos para a construção de edifícios religiosos

Paulo Stehling

Foto: Adobe Stock

Como está o cuidado com sua igreja? Igrejas bonitas representam um sermão silencioso e evangelismo permanente.” Foi a partir dessas palavras, postadas pelo pastor Erton Köhler em uma rede social, que comecei a refletir sob uma perspectiva espiritual a respeito de um tema que, até aquele momento, era apenas profissional para mim.

Você pode até se perguntar o que há de espiritual em cimento, areia, brita, tijolos e telhas. Além do fato de que toda a matéria­prima utilizada nas construções vem da natureza criada por Deus, há na Bíblia princípios espirituais importantes relacionados à prática de construir.

O relato da criação, por exemplo, demonstra que nada foi feito aleatoriamente. A sequência que Deus seguiu denota uma perfeita ordem em todas as etapas construtivas. Nos três primeiros dias, Ele criou os ambientes; nos três últimos; Ele os encheu de vida.

Na história da edificação do tabernáculo israelita, o Senhor enviou um projeto detalhado, por intermédio de Moisés, a um construtor: Bezalel. É interessante notar que Êxodo 35:30-33 apresenta a primeira menção bíblica a uma pessoa cheia do Espírito Santo. Não era um sacerdote, profeta ou pregador. Era um artista da construção! Tecnicamente, é possível dizer que naquela época ele desempenhava várias funções que hoje em dia correspondem às atividades de arquitetos, engenheiros, mestres de obras e operários, entre outros.

Dessa maneira, observa-se a perfeita ordem de projeto e planejamento de execução na construção do santuário. Na visão de um arquiteto ou decorador de interiores, a beleza nas formas do tabernáculo pode ser muito mais explorada. No entanto, o que gostaria de compartilhar neste artigo é a beleza dos princípios relacionados ao processo de concepção e gestão da construção desse empreendimento, aplicando-os à nossa realidade.

PRINCÍPIOS BÍBLICOS

Acompanhamento divino. Em Êxodo 24:12, encontra-se o convite feito por Deus a Moisés para que ele subisse ao monte mais uma vez. Na ocasião, o Senhor lhe daria as tábuas dos Dez Mandamentos e instruções acerca da construção do tabernáculo, lugar da morada divina entre o povo de Israel (Êx 25:8).

Por 40 dias, Moisés permaneceu no Sinai. Aquele era um momento especial. A lei estava sendo proclamada, e o projeto divino de construção do tabernáculo, apresentado. Durante esse período, o Senhor queria que Moisés “tivesse tempo suficiente para entender e se lembrar das instruções detalhadas que lhe seriam dadas” (Comentário Bíblico Adventista [CPB, 2015], v. 1, p. 681).

Ao comentar sobre a construção de edifícios para as instituições adventistas, Ellen White afirmou: “Sintam, pois, nossos obreiros, maior ansiedade pela constante ajuda de Cristo, para que nossas instituições não sejam estabelecidas em vão. Enquanto progride a obra de construção, lembrem-se de que, como nos dias de Noé e Moisés, Deus determinou todos os detalhes da arca e do santuário; também na construção de Suas instituições modernas, Ele vigia o trabalho feito. Lembrem-se de que o grande Arquiteto deseja dirigir Sua obra por meio de Sua Palavra, Seu Espírito e providência” (Conselhos Sobre Saúde [CPB, 2017], p. 278, 279).

Projeto detalhado. Em Hebreus 8:5, Paulo afirmou que Moisés foi “divinamente instruído” a construir o tabernáculo de acordo com o projeto de Deus. Em momento algum desse processo os construtores tiveram a liberdade de decidir quais materiais usar ou qual seria a melhor disposição dos ambientes. Eles tinham um projeto completo em mãos e a ordem era apenas executar.

De fato, “se ao ser humano é permitido determinar, por seu próprio arbítrio, as características tangíveis e materiais da adoração religiosa, ele pode errar com facilidade. Como salvaguarda, um ‘padrão’ foi mostrado a Moisés de tudo o que constituiria o culto de Israel (Êx 25:9; Hb 8:5), incluindo detalhes quanto ao material, tamanho, forma e construção de cada objeto” (Comentário Bíblico Adventista,
v. 1, p. 681). Isso garantiria que a edificação expressasse em detalhes as lições mais importantes a respeito de adoração que o Senhor desejava que Seu povo aprendesse.

Profissionais consagrados. Moisés recebeu o projeto diretamente das mãos de Deus. Cada projeto realizado para nossas igrejas, escolas e instituições deve ser concebido por intermédio de pessoas consagradas a Deus, e cada detalhe contido nesses projetos deve ser decidido por meio de oração e em contato com o Engenheiro Maior.

Se projetistas, construtores e líderes eclesiásticos forem divinamente orientados em seu trabalho de conceber e executar edificações para fins espirituais, muitos equívocos serão evitados, tanto em questões técnicas quanto em questões que envolvem sentimentos humanos, como orgulho, ambição, ostentação e extravagância.

DIFERENTES HISTÓRIAS CONTIDAS NA BÍBLIA APRESENTAM A RELAÇÃO DIRETA ENTRE REFORMA ESPIRITUAL E REFORMA FÍSICA

Ellen White declarou que “Deus pode hoje comunicar-Se com Seu povo e conceder-lhe a sabedoria necessária para fazer Sua vontade assim como Se comunicou com Seu povo no passado e deu-lhe sabedoria para construir o tabernáculo. Na construção desse edifício, deu demonstração de Seu poder e majestade; e Seu nome deve ser honrado por meio dos edifícios que são construídos para Ele hoje em dia. A sobriedade, solidez e conveniência devem ser vistos em cada detalhe” (Conselhos Sobre Saúde, p. 278).

PASSO A PASSO

A narrativa de Êxodo 25 descreve pontos importantes da aplicação prática dos princípios apresentados anteriormente, com o objetivo de se construir um edifício que sirva à obra do Senhor. São eles:

Consagração do povo. Diferentes histórias contidas na Bíblia apresentam a relação direta entre reforma espiritual e reforma física, seja individual ou coletiva (2Rs 12; Ed 3). Na mesma ocasião em que o pastor Erton Köhler postou a sentença mencionada no início deste artigo, ele também afirmou: “A condição do templo normalmente revela a condição dos membros. Faça uma reforma completa: do coração e da construção.”

Provisão de recursos. Quando Moisés apresentou o projeto do tabernáculo ao povo, lançou uma “campanha especial de construção”, com recursos que iam além do sistema regular de ofertas (Êx 25:2; 35:4-9). Nota-se, portanto, a necessidade de elaborar um planejamento financeiro antes do início de qualquer obra em nossas igrejas. Ellen White orientou que “o povo de Deus não deve sair cegamente e empregar os recursos de que não dispõe e que nem sabe como obter. Temos que demonstrar sabedoria nas escolhas que fizermos. Cristo pôs diante de nós o plano pelo qual Sua obra deve ser dirigida. Aqueles que desejarem construir têm que primeiramente sentar e calcular o custo a fim de verificar se podem completar a construção do edifício” (Evangelismo [CPB, 2023], p. 60).

Em Êxodo 35:20, as Escrituras afirmam que o povo respondeu à campanha, mobilizou-se e trouxe ofertas voluntárias para executar a obra. Note que em Êxodo 36:5, o povo foi proibido de trazer mais ofertas, pois já tinham o suficiente para toda a obra. Isso nos ensina algumas lições:

• Eles sabiam o quanto precisavam para a obra, ou seja, tinham um orçamento para a conclusão do projeto.

• Quando o povo se consagra a Deus, une­-se em um propósito e se dedica a cumprir esse objetivo, não faltam recursos para a obra.

• Deus não nos pede nada além do que o suficiente para a execução do projeto.

Essas lições nos inspiram a contribuir generosamente para a obra de Deus, confiando em Sua suficiência e sabedoria para realizar Seus propósitos.

Elaboração do projeto. O projeto é um conjunto de dois componentes distintos: gráficos e escritos. A parte gráfica é composta por planta baixa, corte, fachada, detalhes, infraestrutura e superestrutura, instalações elétricas, instalações hidrossanitárias e cronograma físico-financeiro. A parte escrita é composta por especificações de materiais e serviços, memorial descritivo e orçamento.

Portanto, uma planta arquitetônica isolada não constitui um projeto. Imagens em 3D não representam um projeto completo. Apenas o projeto estrutural não abrange todos os aspectos necessários. Uma coleção de desenhos também não configura um projeto integral. O projeto é um planejamento abrangente, que engloba não apenas aspectos técnicos, mas também financeiros, sociais e, no caso de projetos para fins religiosos, um planejamento espiritual.

Escolha da equipe. Em Êxodo 31:2 e 35:30-35, o Senhor escolheu arquitetos, engenheiros, mestres de obras, oficiais e operários e os capacitou para executar a obra e ensinar o ofício a outros. Foram pessoas habilitadas por Deus para realizar a obra com profissionalismo.

Se sua igreja sente o desejo e a necessidade de executar alguma obra para expressar fisicamente sua saúde espiritual, a primeira atitude deve ser procurar o departamento de Engenharia e Arquitetura de sua Associação ou Missão. Não vá sozinho, mas com a liderança da igreja. Unidos, vocês devem se reunir e procurar aqueles que foram designados e preparados para essa tarefa tão importante.

Acredito que negligenciar o papel dos projetos, do planejamento da obra e do controle técnico na execução é desrespeitar a orientação bíblica sobre o assunto. Negligenciar a importância dos profissionais da área de construção civil nas obras de nossas igrejas é uma afronta ao exemplo divino. Lembre-se de que a construção exemplar de igrejas não é uma questão apenas técnica e financeira, mas, sobretudo espiritual!

PAULO STEHLING é engenheiro civil

(Artigo publicado na Revista Adventista de abril/2024)

Última atualização em 22 de abril de 2024 por Márcio Tonetti.