Colhendo os frutos

6 minutos de leitura

Engenheira civil que atuou na reforma de templo é batizada na reinauguração do edifício. Batismo marcou o aniversário de cem anos da Igreja Central do Rio de Janeiro  

Fabiana Lopes

Kerle Vieira sendo batizada pelo pastor Alexandre Lopes. Foto: Ricardo Oliveira e Renato Semião

Kerle Vieira é a engenheira civil da empresa que foi contratada para fazer a reforma da Igreja Central do Rio de Janeiro. Seu sócio, Antônio Gonçalves, é adventista e eles trabalham juntos desde 2020, quando ela teve seu primeiro contato com mensagem da denominação.

Durante a reunião para o fechamento do contrato, o pastor Alexandre Lopes, tesoureiro da Associação Rio de Janeiro, soube do interesse da jovem pela Bíblia e aproveitou a oportunidade. “Ofereci o estudo e disse a ela que faria seu batismo na reinauguração do templo. E o desejo de Deus se realizou na vida dela”, ele relata.

“O pastor Alexandre foi usado por Deus. Ele fez o convite para estudarmos a Bíblia via Zoom e eu aceitei, não perdi tempo. No fim do estudo, decidi fazer parte da Igreja Adventista e foi uma alegria poder ser batizada na reinauguração do templo”, ela afirma.

A festa do centenário recebeu líderes da sede administrativa local e da União Sudeste Brasileira (escritório da denominação para o Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais), autoridades civis, bem como pastores e membros que fizeram parte da história da igreja. O secretário de Turismo do Rio de Janeiro, Sávio Neves, foi um dos que marcaram presença. “A igreja está lindíssima. Conheço as ações sociais que esta igreja desenvolve durante o ano e sua atuação na área educacional. Portanto, participar desta celebração é uma alegria muito grande”, ele ressaltou.

O líder mundial dos adventistas, pastor Ted Wilson, registrou em vídeo felicitações à comunidade adventista centenária: “Parabéns pelo excelente trabalho que fizeram para renovar fisicamente a igreja. Mais do que isso: pela reforma e reavivamento espiritual.”

Marcos Aguiar, presidente da Associação Rio de Janeiro, foi pastor da Igreja Central do Rio de 2005 a 2010. “Naquele período, fizemos uma pequena reforma interna e externa, mas esta foi maior e mais abrangente. Deus seja louvado por esta igreja e pelos frutos que ela leva ao Senhor dia a dia”, o pastor Aguiar enfatizou.

Como parte das comemorações, houve apresentação de corais, da orquestra local e de músicos voluntários da Casa Esperança Rio, projeto social desenvolvido pela igreja com pessoas em situação de rua na região central da cidade. Os cantores Daniel Salles e Joyce Carnassale também tiveram participações ao longo do evento.

“A igreja Central do Rio de Janeiro é a mais significativa entre as 2.502 igrejas que temos em nosso território. É uma congregação pioneira. Daqui saíram muitas outras igrejas e líderes. A reinauguração de um templo é sempre uma oportunidade para reafirmar o compromisso de entrega ao Senhor”, declarou o pastor Hiram Kalbermatter, presidente da União Sudeste Brasileira.

Influência portuguesa

Em meados de 1922, o pequeno grupo formado por membros da Igreja Adventista do Méier, todos de origem portuguesa, começaram reuniões na região central do Rio de Janeiro, então capital do país. Durante dois anos, os encontros aconteceram na Rua Senador Furtado e foram dirigidos pelo pastor Henry J. Meyer, primeiro presidente da União Sudeste Brasileira.

Ao longo do tempo, a Igreja Central do Rio funcionou em vários endereços. Entre 1924 e 1937, ela ocupou um prédio na Rua Maia Lacerda, no bairro Estácio, chegando a quase 300 membros. Com o crescimento, veio a necessidade de instalações mais amplas. Por isso, foi comprado um terreno na Rua do Matoso, nº 161.

Durante a transição, a congregação se reuniu por alguns meses num sobrado localizado na Rua Haddock Lobo, nº 7. A inauguração do templo aconteceu no dia 27 de março de 1937. Na parte superior funcionava a igreja, com capacidade para 400 pessoas, e no piso inferior, os departamentos, a Escola Primária e a sede da antiga Associação Rio-Minas.

Quase quatro décadas depois, com as obras de ampliação da rede metroviária, a igreja foi desapropriada. O pastor Rodolpho Cavalieri era o líder de Jovens nesse período e relembra que a compra do novo terreno foi disputada com a empresa de brinquedos Estrela. Foram 15 dias de oração aguardando a confirmação do novo local de culto.

“Naquele tempo, um jovem adventista trabalhava no Banco do Brasil e nos avisou da possibilidade de venda do terreno da Travessa Dr. Araújo. A despeito da preferência da Estrela, insistimos em olhar e senti que ele seria nosso. O negociador explicou que o valor de entrada deveria ser depositado dentro de quinze dias. Porém, passada aquela quinzena, o valor não foi transferido pela empresa interessada e nós fechamos a compra”, relata o pastor Rodolpho.

Em 1976, com o apoio da Associação Rio de Janeiro, a Igreja Central foi transferida para o novo endereço. A primeira inauguração do templo na Tv. Dr. Araújo, nº 115, aconteceu no dia 4 de julho de 1980. Tratava-se de um templo com capacidade para mil pessoas. O projetista foi o arquiteto Dalmo Klein, sob a coordenação do pastor local, Eduardo Pereira.

Livramento no Elevado Paulo de Frontin

Sérgio Cavalieri, que se casou na Igreja Central, pastoreou essa comunidade nos anos de 1967 a 1971. Cavalieri relembra um episódio de livramento ocorrido em 20 de novembro de 1971. “Os cultos em nossa igreja seguiam um horário cronometrado. Mas, naquele sábado, recebemos a visita de um pastor estrangeiro. Por causa da necessidade de tradução, o culto atrasou”, ele contou durante a programação dos 100 anos.

Edelcio Luduvice, membro da Igreja Central do Rio há cinco décadas, foi um dos que tiveram a vida poupada naquele sábado. “Ao chegar na esquina da Rua Haddock Lobo, vi o elevado que estava em construção totalmente desabado. Infelizmente, o acidente ceifou a vida de 48 pessoas e deixou dezenas de feridos, mas nenhum membro da igreja sofreu nada naquele dia”, descreve Edelcio, ancião da Igreja Central.

Ministério longevo

Samuel Vallado, de 95 anos, é o ancião emérito mais experiente da Igreja Central do Rio. Seu pai, o colportor José Augusto Vallado, veio de Portugal em 1925, fugindo da I Guerra Mundial. José frequentou o templo e participou de estudos bíblicos com Silvina Lobo. Ambos foram batizados em 19 de junho de 1926 pelo pastor Ricardo Wilfart, e, no ano seguinte, casaram-se, também na Igreja Central do Rio. O casal teve três filhos (Samuel, Noêmia e Jerusa), que  aprenderam com o pai o valor da colportagem, custeando os estudos por meio do ministério da página impressa.

Casados há 62 anos, Samuel Vallado e Sônia Yara Brunswick Vallado têm dois filhos, seis netos e cinco bisnetos. Toda a família permanece firme na fé, mantendo o legado dos pioneiros. Samuel esteve presente na inauguração do primeiro templo, em 1937, e na do segundo, em 1980. Por causa da saúde debilitada, hoje acompanha os cultos pelo canal da igreja no YouTube. Apesar disso, continua bastante ativo. Atualmente, seu ministério consiste em realizar ligações telefônicas para membros e amigos, a fim de orar com eles, desejar um feliz aniversário, aconselhar e encorajar.

“Toda renovação é bem-vinda e quando se trata da casa de Deus esse sentimento redobra. Se aqui é uma grande emoção, lá no Céu será uma emoção infinita”, Samuel Vallado conclui.

FABIANA LOPES é jornalista e atua como assessora de comunicação da Associação Rio de Janeiro

Última atualização em 18 de dezembro de 2022 por Márcio Tonetti.