Como falar com as crianças sobre a guerra

5 minutos de leitura

Confira algumas dicas de como expor o tema com sensibilidade

Jodie Aakko

Foto: Jodie Aakko

“Não se preocupe, é do outro lado do mundo”. “Isso não afeta você”. “Não pense nisso”. Essas são as melhores respostas que você pode dar ao seu filho ao falar sobre a guerra na Ucrânia? Absolutamente, não!

Uma guerra violenta está acontecendo neste exato momento. A Rússia está invadindo agressivamente a Ucrânia. As sirenes soam, mulheres e crianças fogem, adolescentes estão usando rifles em vez de mochilas e prédios que deveriam estar movimentados ficam em silêncio. O que vai acontecer? Essa guerra vai aumentar?

Essa é a pauta mais importante dos noticiários e tem sido o tema dominante das conversas na maioria dos lugares. Certamente, seu filho também está se perguntando sobre esta guerra. Mas como falar com as crianças sobre um evento global tão terrível?

Nathan, aluno da quinta série na Academia Adventista de Brighton (BAA, na sigla em inglês), afirma que quer conhecer os fatos. “Sinto que os adultos devem deixar as crianças saberem o que está acontecendo e por que está acontecendo. Isso é o que meus pais fazem”, relata.

De fato, elas querem respostas. E a abordagem utilizada no caso de Gregory, aluno da sétima série na instituição, parece ter sido correta. “Eu sei o que está acontecendo, mas não me contaram detalhes sangrentos, ou seja, evitaram falar de assassinatos e violência”.

Alunos da Academia Adventista de Brighton criam cartazes usando hashtag relacionada à guerra da Ucrânia. Foto: Jodie Aakko

Obviamente, as crianças também têm demonstrado preocupação com o conflito. “Pergunto-me quando isso vai acabar e se pode chegar aqui ou não. Mas meu professor de estudos sociais me ajudou a aprender mais sobre a guerra na Ucrânia e me ajudou a saber o que está acontecendo”, declara outro estudante da BAA.

Christopher Morrison é professor de estudos sociais do quinto ao oitavo ano. Ele explica que lida com o tema da guerra da seguinte forma em suas aulas. “Pergunto a eles: ‘O que você já sabe sobre isso? Que perguntas você tem? Quem você acha que são os mocinhos e os vilões?’. Levanto essas questões para que eles tenham a oportunidade de expressar suas opiniões. Depois aproveito para equilibrar as conversas e incentivar meus alunos a pensar sobre o assunto de forma crítica”, relata.

O educador conta que também encoraja seus alunos a refletir: Como deve ser a vida de um soldado? Um combatente russo, por exemplo, pode não ter a mesma mentalidade de seu líder. O professor Morrison diz ainda que, no nível do ensino médio, é ainda mais importante incentivar os alunos a avaliar e analisar as narrativas, bem como discutir os diferentes pontos de vista sobre o conflito.

“Pela observação de nossas discussões sobre essa guerra, fica evidente que cada aluno coleta uma grande quantidade de informações fora da sala de aula. Afinal, esta é a guerra mais pública que já ocorreu, por causa das mídias sociais. Meus alunos só precisam clicar, e uma grande coleção de vídeos está ao seu alcance. Isso pode gerar dúvidas na cabeça das crianças. Por isso é importante que os adultos abordem o tema com sensibilidade”, observa Morrison.

Colégio adventista norte-americano realizou um seminário sobre a guerra da Ucrânia para alunos do sexto ao décimo ano. Foto: Jodie Aakko

A Academia Adventista de Brighton não está evitando o assunto da guerra na Ucrânia em sala de aula. No dia 3 de março, por exemplo, a escola realizou um seminário para estudantes do sexto ao décimo ano. Doug Inglish, que é especialista em história da Rússia e preside a Associação das Montanhas Rochosas, sede administrativa adventista regional, fez uma apresentação sobre a história russa e ucraniana.

Além disso, os alunos produziram cartazes usando a hashtag Ucrânia=U_____, criando expressões como “Ucrânia=Ustrong”. A expectativa é que essas imagens e mensagens encorajadoras cheguem ao povo ucraniano.

DICAS

Aqui estão cinco sugestões de como os pais podem conversar com as crianças sobre a guerra.

1. Explique numa linguagem acessível. Você pode utilizar mapas e vídeos. Além disso, muitos pais lembram o dia em que a Ucrânia se tornou uma nação independente, em 1991. Se esse for o caso, compartilhe suas memórias desse evento histórico. Deixe-as ver que você é uma grande fonte de respostas.

2. Mantenha um canal de comunicação aberto e honesto. O tempo para a família ganha importância ainda maior em momentos como esse. Ouça, faça perguntas e saiba como eles estão se sentindo em relação à guerra. Reconheça suas emoções ou preocupações. Se as crianças precisarem de uma válvula de escape para seus medos, lembre-as de realizar atividades como desenhar, esboçar, fazer um diário e brincar ao ar livre. 

3. Faça a triagem das informações e limite a exposição das crianças à cobertura midiática. Valorize relatórios educacionais e informativos.

4. Assegure às crianças que você tem um plano de emergência doméstico caso algo aconteça. Lembre-as que, como adulto responsável, você está preparado para cuidar de sua família. Portanto, seus filhos podem ter certeza de que a segurança, saúde e felicidade deles são sua prioridade.

5. Volte-se para a fé no cuidado e proteção de Deus. Faça isso regularmente. Convide os membros da família a compartilhar uma promessa bíblica favorita da libertação de Deus, como: “Portanto, não temas, porque estou com vocês; não se assuste, pois eu sou o seu Deus. Eu te fortalecerei e te ajudarei; Eu o sustentarei com a Minha destra da justiça” (Isaías 41:10, NVI). Gaste tempo em família orando pela Ucrânia e pela Rússia. E relembre do breve retorno de Cristo, quando estaremos face a face com nosso Criador e quando a tristeza, as guerras e os conflitos deste mundo terminarão. “E quando Eu for e preparar um lugar, voltarei e os receberei para Mim mesmo, para que, onde Eu estou, vocês estejam também” (João 14:3).

“Algumas crianças têm me perguntado se a Terceira Guerra Mundial é uma possibilidade. Nesses casos, digo que Jesus está vindo para salvar Seu povo, conforme a promessa registrada em Atos 1:11: ‘Esse Jesus, que foi elevado do meio de vocês para o Céu virá do modo como vocês O viram subir’. Haverá guerras e rumores de guerras, mas o controle do mundo continua nas mãos de Deus”, conclui o professor Morrison.

JODIE AAKKO é diretora da Brighton Adventist Academy em Brighton, no Colorado (EUA)

(Texto publicado originalmente no site da Rocky Mountain Conference)

Última atualização em 8 de março de 2022 por Márcio Tonetti.