Nesta semana, o mundo lembrou os cem anos do eclipse que ajudou a provar a teoria que trouxe muitos avanços científicos e tecnológicos, mas que, por outro lado, influenciou o pensamento de que não há uma verdade absoluta
DAVI PINI, MICHEL TUTS NASCIMENTO, RODRIGO PAIXÃO DA CRUZ E RUDNEI MACHADO
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Um eclipse total do sol registrado há cem anos colocou uma pequena cidade cearense no radar do mundo científico. Foi em Sobral que cientistas conseguiram provar pela primeira vez que a teoria geral da relatividade formulada por Albert Einstein estava certa.
Algum tempo antes, o astrônomo britânico Arthur Eddington havia conseguido convencer a coroa inglesa a patrocinar duas expedições para a observação do fenômeno raro. Se conseguissem fotografar as estrelas de dia (o que só seria possível no contexto de um eclipse como esse) e, a partir daquele mesmo ponto de observação, captar imagens da posição delas à noite, a comparação poderia elucidar se, de fato, um corpo celeste com grande massa, como o sol, distorce o espaço e o tempo ao seu redor (veja a ilustração abaixo). A hipótese de Einstein era que a luz de uma estrela sofria um desvio em sua trajetória ao passar próximo de um corpo massivo como o sol.
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Os dois pontos de observação escolhidos foram a ilha de São Tomé e Príncipe, na costa ocidental da África, e Sobral, no Ceará. Porém, naquele 29 de maio o céu do arquipélago africano estava nublado, o que possibilitou poucos registros fotográficos. Já em Sobral, as condições climáticas mais favoráveis permitiram a captação de um número maior de imagens.
Ambos os resultados foram apresentados na Royal Society de Londres em 6 de novembro de 1919 e colocaram a física clássica de cabeça para baixo. A descoberta que tornou o jovem Einstein celebridade mundial se consolidou com um dos pilares da ciência moderna.
A influência dessas teorias transcendeu o mundo acadêmico, refletindo-se também no mundo da literatura, da filosofia e da arte. O cubismo, por exemplo, que se caracterizou pela utilização de formas geométricas para retratar a natureza, ressignificou a maneira de enxergar as coisas. Ao retratar objetos de diferentes perspectivas, nada era representado de forma absoluta. Aliás, esse movimento que nasceu na França no início do século 20, chegou a exercer forte influência no Brasil após a Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo em 1922. A partir da popularização dessa arte vanguardista, o mundo começou a enxergar a realidade por uma ótica relativista, determinada pela perspectiva de quem vê.
Hoje, na cultura pós-moderna, é comum ouvirmos expressões como “tanto faz”, “vai de cada um”, “depende”, etc. Tudo é relativo e não se dá crédito a uma verdade absoluta. O que importa é o que as pessoas pensam e desejam. Se a roupa que aparece na vitrine é azul, alguém pode dizer que é verde, e um terceiro ainda pode atribuir-lhe a cor cinza. Tudo passou a ser relativizado, inclusive os valores morais.
Mas, do ponto de vista bíblico, existe, sim, uma verdade absoluta, que é real e está alicerçada em dois princípios:
- A verdade é Jesus Cristo. “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14:6). Todas as demais crenças bíblicas gravitam em torno de Jesus e desse conceito absoluto que é defendido pelos escritores bíblicos.
- Não há duas verdades. Há um conceito filosófico que afirma que duas coisas contraditórias não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Enquanto o mundo científico aponta para vários caminhos, a Bíblia aponta para Deus e para a Bíblia como verdade. “Mas o SENHOR Deus é a verdade; ele mesmo é o Deus vivo e o Rei eterno” (Jr 10:10). “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17:17).
A teoria de Einstein relativizou o próprio conceito de tempo, mas o fato de não termos domínio sobre o relógio continua sendo uma verdade absoluta. Como escreveu Abraham Heschel em seu livro O Homem Não Está Só, “arrastados pela correnteza mortal do tempo, que não nos permite nem continuar no presente nem voltar a qualquer momento do passado, a única perspectiva que nos cerca constantemente é a de cessar de existir, de ser lançado fora da corrente”. Mas apesar de sermos seres finitos, a promessa de uma vida eterna é uma verdade absoluta que ainda precisa ser descoberta por muitas pessoas.
DAVI PINI, professor de História; MICHEL TUTS NASCIMENTO, professor de Literatura e Língua Portuguesa; RODRIGO PAIXÃO DA CRUZ, pastor; e RUDNEI MACHADO, embaixador da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern); atuam na rede de ensino adventista em Santa Catarina
Última atualização em 6 de junho de 2019 por Márcio Tonetti.