Detector de falácias

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Como identificar argumentos com lógicas falsas usados para ganhar uma discussão

Wendel Lima

Crédito da imagem: Adobe Stock

Nunca ideias e opiniões circularam tão ampla e intensamente como hoje. Porém, isso não significa necessariamente mais pluralidade, qualidade e utilidade. Para auxiliar você a navegar por esse mar de informação, vale a pena conhecer ou revisitar alguns princípios da lógica, campo da filosofia que estuda a validade das argumentações.

APELO À AUTORIDADE

Não há problema em recorrer a uma autoridade em determinado assunto, ainda que seja você mesmo. O problema é quando o argumento se limita a isso, não permite questionamentos ou tem como base uma “autoridade” desqualificada ou não identificada.


APELO À CONSEQUÊNCIA

É quando se afirma que uma conclusão é verdadeira porque ela geraria consequências benéficas ou que é falsa porque levaria a resultados prejudiciais para a sociedade e/ou para o indivíduo.


APELO AO RIDÍCULO

Conhecido também como “falácia do espantalho”, é quando o interlocutor exagera algum elemento da argumentação contrária, fazendo ela parecer fantasiosa ou irreal. A estratégia é calar o adversário, fazendo ele parecer ridículo.


APELO À POPULARIDADE

O fato de muitas pessoas acreditarem em algo comprovaria o valor de certa ideia. É o que ocorre, por exemplo, com a visibilidade que teorias conspiratórias ganharam nas mídias sociais.


APELO AO TEMPO

Nesse caso, a virtude da argumentação estaria em sua novidade ou antiguidade. Uma ideia seria válida pelo fato de ser tradicional (“no meu tempo era melhor”) ou por ser uma novidade (“essa é a tendência”).


EVIDÊNCIA ANEDÓTICA

É quando a experiência pessoal de alguém, seja positiva ou negativa, é colocada como suposta evidência de uma tese que não foi comprovada. Na pandemia, esse recurso foi muito usado, por exemplo, para se defender um tratamento precoce contra a Covid-19.


ATAQUE PESSOAL

Conhecido como argumento ad hominem (do latim, “ao homem”), é a tentativa de desqualificar o adversário, seja xingando ou desmoralizando aspectos relacionados à sua sexualidade, idade, classe social, gênero, religião ou ideologia política. Rotular ou “demonizar” o adversário também segue essa argumentação.


PROVA DO CONTRÁRIO

A inversão do ônus da prova (“prove que eu estou errado”) é quando um interlocutor, em vez de apresentar os argumentos para sustentar sua tese, joga para seu adversário a responsabilidade de refutar a ideia apresentada.


GENERALIZAÇÃO

Ocorre quando alguém apresenta uma amostra muito limitada para apoiar uma conclusão tendenciosa. Um subtipo dessa falácia é a do “falso escocês”, que é a tentativa de não levar a sério um contraexemplo (“Ah, mas ele não é um verdadeiro cristão!”).


O QUE FAZER?

Os religiosos são pessoas de fé. Porém, neste contexto, o ceticismo é uma ferramenta intelectual que serve de defesa aos argumentos falaciosos. Consiste na postura de questionar os fatos, mas estar aberto às novas evidências, ainda que elas contrariem suas crenças. Também é útil desenvolver virtudes intelectuais como amor pelo conhecimento, busca pela verdade, firmeza, humildade, generosidade, autonomia, cautela, coragem e sabedoria.

WENDEL LIMA é pastor, jornalista e mestre em Ciências da Religião

Fontes: “O que é uma falácia. E quais são seus principais tipos”, artigo de Cesar Gaglioni no Nexo Jornal (nexojornal.com.br), em 10 de fevereiro de 2021; “A falácia das redes”, programa Linhas Cruzadas, da TV Cultura (youtube.com/jornalismotvcultura), em 11 de março de 2021; Bruno Ribeiro Nascimento, doutorando em Filosofia pela UFRN; e Epistemology: Becoming Intellectually Virtuous, de Jay Wood (InterVarsity, 1998)

(Publicado originalmente na edição de abril de 2021 da Revista Adventista)

Última atualização em 12 de abril de 2023 por Márcio Tonetti.