Tem respaldo científico adotar um regime alimentar sem carne?
Peter N. Landless e Zeno L. Charles-Marcel
Sim, há um volume grande e robusto de pesquisas sobre saúde, com trabalhos revisados por cientistas, que mostram os benefícios da dieta vegetariana ensinada há muito tempo pela Igreja Adventista. Essa é uma tendência que tem se fortalecido no mundo acadêmico.
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Um dos estudos pioneiros nessa direção foi a pesquisa norte-americana que tem sido realizada há décadas, em várias fases, e que analisa a saúde dos adventistas da Califórnia (EUA). Esse levantamento é importante e reconhecido internacionalmente, gerando até pesquisas semelhantes em outras partes do mundo, como o Estudo Advento, que investigou a saúde de 1,4 mil em São Paulo e no Espírito Santo.
Estudos como esses dois podem ser úteis para orientar populações variadas ao redor do globo. É verdade que as características locais dessas sociedades, culturas e territórios devem ser levadas em conta também, como o fato de que a porcentagem de indianos que são vegetarianos é quase oito vezes maior do que a de norte-americanos.
Contudo, pesquisas recentes indicam várias vantagens da dieta vegeteriana sobre as demais. Por exemplo, um estudo publicado neste ano pelos pesquisadores Le Ma, Gang Liu e Ming Ding na revista acadêmica Circulation revelou que o aumento da ingestão de tofu (queijo de soja) está associado a menores riscos de doença arterial coronária, ataques cardíacos relacionados a ela e morte.
Por sua vez, outro grande estudo, divulgado pelos pesquisadores Frank Qian, Gang Liu e Frank B Hu na revista da associação médica norte-americana (JAMA), em julho de 2019, confirmou que padrões dietéticos à base de frutas, vegetais, grãos integrais, leguminosas e nozes podem ser benéficos na prevenção primária de diabetes tipo 2. Esse mesmo benefício não se observa, por exemplo, naqueles que fazem uso predominante de grãos refinados, amidos e açúcares.
Por fim, outra pesquisa publicada na revista JAMA, em julho de 2020, por Jiaqi Huang, Linda M. Liao e Stephanie J. Weinstein, mostrou que a mudança de fontes de proteína de origem animal para fontes de proteína de origem vegetal resulta em maior longevidade. E a melhora mais acentuada foi observada quando a carne vermelha e ovos foram trocados por alimentos com proteína vegetal.
Precisamos indagar se nosso conhecimento não está desconectado de nossa prática e hábitos
Diante dessas e de outras evidências, resta-nos refletir como adventistas se nosso conhecimento não está desconectado de nossa prática e hábitos. Por exemplo, a maioria das pessoas sabe que é saudável fazer exercício diariamente; no entanto, nem todos fazem isso. Mesmo no contexto da pandemia, temos uma oportunidade de ouro para desenvolver novas habilidades e receber orientação, ainda que virtualmente. O que precisamos é de apoio e de responsabilidade individual para incorpoar novos hábitos.
É interessante e animador saber que há pesquisas atuais e sólidas confirmando as descobertas feitas ao se analisar o estilo de vida de certos adventistas. Não somente em relação à nutrição, mas também aos benefícios do exercício físico, sono adequado, exposição cuidadosa ao sol, ar fresco, água pura, confiança em Deus. De fato, somos abençoados por viver num tempo em que a ciência continua confirmando as instruções dadas por Deus na Bíblia e nos escritos de Ellen G. White.
PETER LANDLESS é cardiologista e diretor do Ministério da Saúde da sede mundial adventista em Silver Spring (EUA); ZENO CHARLES-MARCEL é clínico geral e diretor associado desse ministério
(Artigo publicado na seção Bem-estar da edição de outrubro de 2020 da Revista Adventista/ Adventist World)
Última atualização em 22 de outubro de 2020 por Márcio Tonetti.