A essência da mensagem de Natal
Elizabeth Viera Talbot
Esse era um território desconhecido para eles. Maria e José estavam noivos, e definitivamente esse não era o momento certo para uma gravidez. Deus nem sempre explica o momento oportuno para algo acontecer, mas promete sempre Sua presença. Ao descobrir a gravidez de Maria, José soube que não era o pai e optou por se divorciar em segredo (naquele tempo o rompimento do noivado ocorria por meio do divórcio). Enquanto lutava com sua decisão, um anjo do Senhor lhe apareceu e apelou para que cresse além do que podia ver. Esse era definitivamente um território desconhecido para ambos. Maria estava grávida do Espírito Santo, o que nunca tinha acontecido e jamais ocorreria novamente. Eles enfrentavam o desconhecido e tinham que confiar que Deus os guiaria.
Caminho de libertação
Ao rever a história do Natal, de como Deus Se tornou carne e veio para nos salvar, percebemos que os pais de Jesus confiaram no propósito e na fidelidade, proteção e orientação de Deus. Dois mil anos depois, ainda precisamos confiar que Ele é fiel e cumpre Suas promessas, que orquestra Seus propósitos redentores nos bastidores, mesmo quando não os compreendemos completamente, e que ainda nos guia ao enfrentar o desconhecido. José e Maria nunca haviam trilhado esse caminho; necessitavam de Deus os guiando e Se comunicando de um modo que eles pudessem entender. Por milhares de anos, Israel esperou que o Senhor cumprisse a promessa de enviar o Messias, o Ungido, o Redentor. O tempo havia chegado, porém tudo parecia diferente do que eles aguardavam.
Antes de continuarmos, deixe-me compartilhar algo a respeito de Mateus, o evangelista. Ele organizou seu material com muito cuidado, a fim de impactar o leitor de forma mais eficaz. O número cinco era importante para os judeus e carregava um simbolismo interessante, pois a Lei de Moisés tinha cinco livros. Mateus retratou Jesus como o novo Moisés, organizando seu material no evangelho em grupos de cinco. Nós os chamamos de cinco discursos. De forma similar, ele dividiu a infância de Jesus em cinco episódios, construindo cada um deles em torno de uma profecia do Antigo Testamento: o nascimento, os sábios, a fuga para o Egito, a chacina dos bebês de Belém a mando de Herodes, e o crescimento em Nazaré. Nessa quíntupla narrativa da infância, Deus é visto em controle absoluto. Ele dirige e guia cada movimento de José, Maria e Jesus, até mesmo enviando Seu anjo, às vezes em sonhos. O fato de Deus estar tão disposto a Se comunicar com os humanos, para nos guiar em situações difíceis e desconhecidas, sempre trouxe muito conforto para minha alma.
O propósito da encarnação
O primeiro dos cinco episódios é o nascimento de Jesus. Mateus 1:20 nos informa que um anjo do Senhor apareceu a José em um sonho, quando ele considerava se divorciar de Maria ao descobrir a gravidez dela.
Não consigo imaginar o quão confuso tudo isso deve ter sido para José. Ainda assim, ele se submeteu à perspectiva de Deus, rendendo-se à revelação divina, embora provavelmente não conseguisse entender muito o que estava acontecendo. O anjo anunciou que Maria daria à luz um Filho, e Seu nome seria Jesus, cujo significado é “Yahweh [Senhor] salva” (v. 21).
Nos próximos dois versos (22, 23) encontramos a primeira fórmula profética de Mateus, pela qual ele conectou sua narrativa com uma citação do Antigo Testamento: “Tudo isso aconteceu para cumprir o que o Senhor tinha dito por meio do profeta: ‘Vejam! A virgem ficará grávida! Ela dará à luz um filho, e o chamarão Emanuel, que significa ‘Deus conosco’” (NVT). Essa citação vem de Isaías 7:14, texto inserido em uma história na qual Acaz, rei de Judá, também passava por uma situação difícil, enfrentando um futuro desconhecido.
Deixe-me explicar melhor.
Os reis de Israel e da Síria vinham contra Judá, e Acaz e seu povo estavam aterrorizados (Is 7:2). O Senhor enviou Isaías ao rei de Judá para transmitir-lhe a promessa de Sua presença, encorajá-lo a não temer e lhe oferecer um sinal. Contudo, Acaz recusou aceitar a ajuda do Senhor porque preferiu fazer uma aliança com um poder militar, em vez de confiar na presença divina. Ainda assim, Deus decidiu demonstrar um sinal a Acaz para que ele nunca se esquecesse do socorro, conforto e assistência que Ele lhe havia oferecido: uma virgem daria à luz um Filho, e ela O chamaria de Emanuel, que significa “Deus conosco”. Mateus afirmou que essa profecia finalmente havia se cumprido em Jesus. Em tempos de incerteza, cada palavra dessa sentença deve nos encher de segurança: Deus está conosco. Deus está conosco. Deus está conosco. Extraordinário! Ao enfrentar desafios sem precedentes, necessitamos da consciência de Sua presença conosco.
Mas espere, tem mais!
O anjo relatou a José que o nome do bebê seria Jesus, porque Ele salvaria Seu povo dos seus pecados. Jesus, Deus conosco, veio para morrer na cruz em nosso lugar, a fim de que tenhamos vida eterna. Esse é o clímax da presença divina. Posso imaginá-Lo pendurado na cruz clamando: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?” (Mt 27:46). Emanuel sentiu o abandono para que você nunca tenha que passar por isso. Mesmo nas circunstâncias mais terríveis, nenhum de nós terá que proferir essas palavras! Jesus levou nossos pecados para que Deus nunca nos abandonasse. Nunca! Deus conosco é uma realidade sempre presente.
Quando você começa a pensar que a promessa da presença de Deus se aplica somente a pessoas como José e Maria, que eram descendentes de Davi e parte do povo de Israel, Mateus nos surpreende com a segunda das cinco narrativas da infância em seu evangelho. É a história emocionante da orientação divina aos sábios do Oriente, uma história registrada apenas por Mateus. Eles eram estudiosos da Pérsia ou Babilônia, geralmente conselheiros de confiança do rei (Dn 1, 2), e chegaram a Jerusalém fazendo uma pergunta surpreendente: “Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a Sua estrela no Oriente e viemos para adorá-Lo” (Mt 2:2). Mas em vez de encontrar uma nação se regozijando a respeito da chegada do novo Rei, eles encontraram Herodes e toda a Jerusalém perturbados (v. 3). Que paradoxo! Esses sábios gentios vieram adorar o Rei, mas Seu povo estava incomodado.
Aqui está um fato interessante sobre o título “Rei dos judeus” que os sábios usaram para Jesus. Essa expressão só é encontrada novamente no fim do evangelho de Mateus, quando Jesus foi condenado e morto. Esse título, proferido somente por não judeus nesse evangelho, é a imposição legal colocada sobre a cruz: “Este é Jesus, o Rei dos judeus” (Mt 27:37). Nessa narrativa da infância, encontramos uma prefiguração da cruz.
Voltemos aos sábios: você pode imaginar como eles se sentiram? Perdidos? Assustados? Sem respostas? Como poderiam encontrar o caminho, em um território desconhecido? Herodes perguntou ao sumo sacerdote e aos escribas onde o Messias nasceria (Mt 2:4), pois ele sabia a que tipo de rei os sábios se referiam. Os líderes religiosos responderam: “Em Belém da Judeia”; e Mateus relatou: “Porque assim está escrito por meio do profeta: ‘E você, Belém, terra de Judá, de modo nenhum é a menor entre as principais de Judá; porque de você sairá o Guia que apascentará o Meu povo, Israel’” (v. 5, 6). Essa citação funde uma profecia de Miqueias 5:2, dada sete séculos antes, com uma passagem davídica encontrada em 2 Samuel 5:2-6.
Você já parou para pensar que, centenas de anos antes, o Senhor já sabia o exato lugar em que Jesus nasceria? A presciência de Deus sobre nossa vida traz segurança e conforto.
Herodes encontrou em segredo os sábios e fingiu estar atraído para adorar a Jesus (Mt 2:7, 8), mas Deus avisou os visitantes em um sonho para eles não voltarem ao rei. Antes disso, porém, o que os sábios poderiam fazer? Eles estavam enganados? Teriam que voltar? Então, viram a estrela novamente. E eles “alegraram-se com grande e intenso júbilo” (v. 10). Sim! Deus os guiou, porque estava com eles. Eles chegaram ao lugar em que viram o menino Jesus com Sua mãe e, “prostrando-se, O adoraram” (v. 11). Eles entregaram como presente ouro, incenso e mirra. Fico maravilhada que, por meio desses presentes, o Senhor sustentou José, Maria e Jesus durante sua permanência no Egito. Deus estava no controle e cuidou da provisão deles em cada detalhe durante a temporada do “desconhecido” para a família do Messias. Ele também guiou os sábios de modo que pudessem entender. Isso não é extraordinário? Você pode imaginar Emanuel guiando sua vida em suas temporadas de incerteza e confusão?
Presença constante
A história do Natal nos lembra de que Deus está sempre conosco. Essa é a mensagem que Mateus destacou, como pontos de apoio, ao começar e ao concluir seu evangelho. Ele iniciou sua narrativa com “Emanuel”, “Deus conosco”, e finalizou com Jesus anunciando: “E eis que estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28:20). Essa é a promessa divina para nós em tempos como estes: Ele nunca nos abandona! Aquele que sofreu na cruz por nós permanecerá conosco até o último dia. Você jamais estará sozinho, não importa o que aconteça. Do começo ao fim, as Escrituras falam a respeito do plano da redenção designado por Deus para nossa salvação, a fim de que Ele pudesse estar conosco para sempre, conforme Seu propósito original na criação. Quando os primeiros humanos se esconderam Dele, o Senhor Se recusou a deixá-los. Ele estava determinado a não passar a eternidade sem nós.
Que a promessa da presença e orientação divina motive você não apenas no Natal, mas todos os dias de sua vida, até vermos a Emanuel face a face, quando Ele voltar (Mt 24:29-31). Se em algum momento você estiver lutando em um território desconhecido, lembre-se de Suas palavras: “Estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos” (Mt 28:20). Sim, estamos em Suas mãos, e Ele não nos deixará.
ELIZABETH VIERA TALBOT é apresentadora e diretora do Instituto Bíblico Jesus 101, um ministério midiático da sede norte-americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia
(Matéria de capa da Revista Adventista de dezembro/2024)
Última atualização em 5 de dezembro de 2024 por Márcio Tonetti.