Ficção cristã alerta jovens sobre o perigo da vida dupla
André Vasconcelos
Mateus era um menino feliz e comum. Amado pelos pais, Júlia e Marcos, teve o privilégio de crescer em um lar cristão. Os amigos e a namorada professavam a mesma fé, o que lhe proporcionava, do ponto de vista religioso, relacionamentos saudáveis e um ambiente social seguro.
Porém, conforme o tempo foi passando, as influências negativas se tornaram mais fortes, assim como as dificuldades na vida cristã. Lucas, o melhor amigo de Mateus, e Letícia, a namorada dele, tentaram adverti-lo, mas ele precisava tomar uma decisão. Afinal, ninguém pode pertencer a dois mundos!
Em resumo, esse é o enredo de Sono Eterno (CPB, 2021, 80 p.). Essa ficção cristã, que lembra o livro Projeto Sunlight (CPB, 2011), de June Strong, nos mostra o perigo de ficar sobre o muro da incerteza. É uma reflexão útil para juvenis, adolescentes e jovens que insistem em manter uma vida dupla: pela manhã estão na igreja e à noite vão para a balada.
Quanto ao gênero ficção, é importante lembrar que Jesus empregou esse recurso na parábola do rico e do mendigo, em Lucas 15:19 a 31, e que Ellen White recomendou a clássica alegoria de John Bunyan, O Peregrino (1678). Além disso, ela mesma compilou e publicou, em 1863, 129 contos/histórias e 25 poemas numa série que ficou conhecida como Sabbath Readings: Moral and Religious Lessons for Youth and Children. Posteriormente, Ellen White ampliou essa série, que recebeu o título de Sabbath Readings for the Home Circle. A nova série de quatro volumes continha 200 contos/histórias e 86 poemas.
Esses exemplos são evidências de que há espaço para a boa ficção, isto é, histórias e contos que ensinem valores bíblicos, utilizem linguagem sadia, despertem reflexão, enalteçam o bem e evitem elementos fantasiosos. De fato, a maioria dos problemas relacionados ao gênero não tem que ver necessariamente com especificidades literárias, mas com valores duvidosos.
Alinhado aos princípios que caracterizam a boa ficção, Sono Eterno convida o leitor a desviar a mente do que é efêmero e transitório para o eterno e duradouro. É um apelo para refletir sobre o presente com vistas ao futuro. Como Mateus, o personagem principal da trama, cada pessoa é levada a escolher de que lado estará na batalha final, antes que seja tarde demais.
Não podemos revelar o fim do livro, pois seria um spoiler indesejado, mas a obra foi bem escrita pela jovem Karol Aguiar, estudante de Jornalismo e Comunicação Social no Unasp, em Engenheiro Coelho. Com apenas 23 anos, ela retratou com sensibilidade os problemas e tentações que os jovens enfrentam diariamente em nossa sociedade.
TRECHO
“Júlia e Marcos saíram do quarto a fim de dar um tempo para que o filho fizesse sua meditação diária. E ele sabia disso. No entanto, simplesmente se esticou até alcançar o celular no criado-mudo, acomodou-se de lado e começou a checar todas as suas redes sociais. Fazia muito tempo que Mateus não desfrutava de um relacionamento com Deus. Na verdade, tirando a hora das refeições em família e os momentos que passava na igreja, ele não conseguia se lembrar da última vez que tinha orado. […] E, ainda assim, todos o viam como um cristão perfeito! Até porque ele se comportava como um na frente das pessoas” (p. 35).
ANDRÉ VASCONCELOS é pastor e editor de livros na CPB
(Resenha publicada na edição de março de 2021 da Revista Adventista)