A resposta humanitária da igreja aos milhares de deslocados que estão vivendo em acampamentos no Iraque
A aproximadamente 30 quilômetros de Mosul, terceira maior cidade iraquiana, fica o campo de refugiados Hasan Shami U2, local que abriga cerca de
8 mil pessoas que vivem nas centenas de barracas que se perdem na linha do horizonte. Nesse acampamento árido, mais de 50% da população é composta de crianças e adolescentes que perambulam no que parece ser uma cidade sem saída.
As necessidades materiais são muitas no mundo em que vivem esses refugiados. Porém, as físicas e emocionais são igualmente visíveis. É nesse local que uma clínica e um hospital mantidos pela ADRA e voluntários adventistas têm feito a diferença na vida de milhares de pessoas. A iniciativa adventista conta com a colaboração de pessoas como Hildebrando e Leah Camacho, casal que já trabalhou com refugiados afegãos, iranianos e paquistaneses na Grécia e atualmente coordena os voluntários que se dispõem a ajudar no acampamento.
A Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais, parceira da ONU no atendimento às vítimas da crise humanitária, começou a atuar no Iraque em novembro de 2014 por meio de projetos desenvolvidos pela equipe dos escritórios canadense e tcheco. Cerca de quatro meses depois, a agência humanitária recebeu autorização do governo para abrir uma filial no território iraquiano.
O brasileiro Marcelo Dornelles desempenhou papel fundamental neste processo. Ele atuou como diretor da ADRA no Iraque ao longo de quase dois anos e foi reconhecido pelo amor a essa causa, a ponto de doar integralmente seu salário para projetos sociais.
À frente do escritório, ele contribuiu para que, no ano passado, a ADRA passasse a oferecer assistência financeira, educação formal e outras atividades para crianças refugiadas sírias, como aulas de música e de idiomas (curdo e árabe). Igualmente, jovens foram beneficiados com o ensino de inglês, esportes, música e informática. Hoje, há sete projetos em andamento.
Neste ano, os esforços humanitários da ADRA no Iraque foram ampliados com a ajuda da Adventist Help e doações vindas de vários países, incluindo o envio de 50 mil dólares pela ADRA sul-americana. Mediante esse apoio foi possível construir e equipar o centro de saúde que, desde o meio do ano, já realizou cerca de 10 mil atendimentos. A clínica atende cinco dias por semana e o hospital funciona 24 horas por dia.
O grupo de profissionais da saúde que presta atendimento à população é composto em grande parte de voluntários. Patrocinada pela Associação Adventista de Empresários e Profissionais Liberais (ASI, na sigla em inglês), a Adventist Help oferece alojamento e comida para eles.
Clima instável
O recente plebiscito sobre a independência do Curdistão, região autônoma do Iraque que há quase um século reivindica o status de Estado, aumentou o clima de tensão no país. Isso fez com que o atendimento oferecido pela igreja fosse temporariamente interrompido. Por questão de segurança, a maioria dos voluntários teve que deixar o acampamento. Somente uma equipe reduzida permaneceu no local, segundo comunicado divulgado pela ADRA no fim de outubro.
Embora a expectativa seja de que em breve as atividades voltem ao normal, as dificuldades nessa região estão longe de terminar. Além da instabilidade política, o inverno rigoroso é um desafio natural que também preocupa, tendo em vista que muitas vítimas da crise humanitária se encontram desabrigadas.
É grande a necessidade especialmente de médicos e enfermeiros dispostos a servir nessa região. A saúde de milhares de pessoas depende deles. No entanto, a esperança é que em breve haja condições mais favoráveis para receber novos voluntários.
CÁROLYN AZO é jornalista e trabalha como assessora de comunicação na sede sul-americana da igreja
(Matéria publicada originalmente na edição de novembro de 2017)
Última atualização em 22 de novembro de 2017 por Márcio Tonetti.