Escola na selva

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Voluntários do Unasp e de universidades americanas se unem para concluir uma escola técnica agrícola no Amazonas
Jael Eneas
Localizada no município de Barreirinhas, a 35 horas de barco de Manaus, Escola Técnica Adventista do Massauari já atende 49 alunos até o nono ano do ensino fundamental. O plano é que o colégio funcione em regime de internato e ofereça o ensino superior a distância. Foto: Fernando Borges

Tudo começa com a vontade de ser útil. José ­Patrício Short, eletricista do Unasp, campus Engenheiro Coelho, e Roy Kin, médico da região de Loma Linda, Califórnia (EUA), encontraram-se às margens do rio Massauari pela primeira vez. A missão: concluir uma escola no meio da floresta. Entretanto, era preciso vencer o desafio do idioma. Por isso, para terminar o projeto elétrico, Patrício e Roy tiveram que se entender para colocar os fios: red/vermelho, white/branco e blue/azul.

Durante os meses de junho e julho o que se viu do Egito à Austrália, da Bolívia à Albânia, do Peru ao Níger, do Togo a Nova York (EUA), do Chipre a uma comunidade quilombola no interior de Santa Catarina, foi a sinergia do bem para dizer ao mundo que a esperança tem rosto, mãos, pés e corações solidários.

Enquanto 260 alunos e funcionários de todos os campi do Unasp viajaram para servir nos cinco continentes, nos Estados Unidos ­formou-se uma rede solidária em sentido contrário. Seis universidades adventistas americanas enviaram ao Brasil 130 voluntários em cinco barcos para deixar pronta a Escola Técnica Adventista do Massauari, no Amazonas. Três barcos com 97 voluntários do Unasp, sob a liderança do arquiteto Rolf Maier, se juntaram a eles.

Além do Unasp e das universidades americanas, o movimento teve a colaboração da ADRA Internacional, das sedes regionais da agência humanitária adventista e de instituições da igreja na América do Sul. Quem acima de tudo colaborou para os projetos foram pessoas anônimas, porque o verbo importante da linguagem do amor é servir.

INAUGURAÇÃO

Há vários anos o voluntariado nas férias tem marcado a região amazônica. No rio Massauari, o evento se distinguiu pela colaboração num vaivém de barcos e voadeiras. Na quinta, 19 de julho, a cerimônia de Santa Ceia uniu voluntários brasileiros e estrangeiros. O suco de uva foi servido em cálices entalhados em castanhas da região. No dia seguinte, a festa inaugural, com arte cênica e música pelo coral dos alunos da escola, emocionou quem veio de longe.

A fita cortada pelo líder da Igreja Adventista da região Noroeste, pastor Gilmar Zahn, simbolizou a força da unidade. Participaram na cerimônia Glênio Seixas, prefeito de Barreirinhas (AM), líderes do legislativo municipal e das sedes administrativas da Igreja Adventista no Amazonas.

Sinergia do bem: 240 voluntários do Unasp e de universidades americanas se uniram para falar a linguagem do serviço. Foto: Fernando Borges

“Essa mobilização reforça nossa cultura de voluntariado e demonstra que podemos fazer grandes coisas trabalhando em parceria. Essa escola vai oportunizar ­cultura e ensino técnico agrícola para várias comunidades ribeirinhas. Isso não tem preço”, avaliou o pastor Zahn. Ele destacou ainda que o colégio também oferecerá vagas para o internato e a possibilidade de cursar o ensino universitário a distância. O local da escola foi escolhido pelo fato de o município de Barreirinhas ter significativa presença adventista e por estar próximo da cidade de Maués, o berço do adventismo no estado.

Bradley Mills, diretor da ADRA Amazonas, também olha para o futuro. “Vejo aqui o sonho de Deus, pois Ele uniu pessoas de diversos lugares. Todos viemos para cá porque conseguimos imaginar, pela fé, essa escola proporcionando um futuro para as crianças desse lugar de água, selva e céu”, projeta o missionário americano que vive há 11 anos no Brasil.

TRIBO INDÍGENA

A 235 km dali, celebração semelhante teve lugar às margens do rio Marau, em Maués. A conclusão da Igreja Saterê Mauê, na Ilha dos Michiles, no dia 8 de julho, foi motivo de festa para os 47 voluntários do Unasp, campus São Paulo. De Manaus até lá, são 35 horas de barco. Durante oito dias sem conexão telefônica, a equipe pôs a mão na massa para construir a igreja e realizar 300 atendimentos médicos, nutricionais, onotológicos e até veterinários na Comunidade do Pedreiro.

Batismo no rio Marau. Voluntários ajudaram também a construir uma igreja para a etnia saterê mauê na Ilha dos Michiles. Foto: Késia Andrade

“A missão sempre desperta o melhor do ser humano”, afirmou o pastor Antônio Braga Filho, líder da equipe. Para atestar isso, um juvenil indígena e três alunos formandos do ensino médio no Unasp foram batizados no Marau. “Os alunos tomaram a decisão por Cristo no projeto do ano passado”, completou o pastor Braguinha. Porém, a inauguração oficial do local de reuniões será realizada posteriormente.

HISTÓRIAS

Nos demais pontos de pregação e serviço em que os estudantes do Unasp se envolveram, não faltaram histórias da providência de Deus. Para o projeto de El Carmen, na Bolívia, 19 voluntários precisavam de recursos para a viagem. Doações de empresários chegaram poucos dias antes da partida. No país africano do Níger, mais de 70 pessoas foram batizadas no deserto do Sahel.

Em Porto Belo (SC), na comunidade quilombola do Sertão de Valongo, a equipe formada somente por voluntárias doou a tinta e pintou cinco casas. Em Narara, na região de New South Wales, Austrália, o método foi se aproximar das pessoas oferecendo um voucher para a lavagem do carro e corte da grama do quintal dos vizinhos. O contato gerado por meio do serviço era uma ponte para convidar a comunidade para uma série evangelística.

Por sua vez, no tradicional bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, o centro de influência da igreja ofereceu palestras sobre nutrição. Em Registro (SP), depois de uma série evangelística com o pastor Luís Gonçalves, os estudantes ministraram estudos bíblicos em domicílio. Em Iguape, no litoral paulista, também teve evangelismo público; e nas cidades de Puno e Plateria, no Peru, os voluntários realizaram feira de saúde e Escola Cristã de Férias. Em quase todos os projetos foram realizados batismos.

O ponto é fazer a sinergia ser mais do que um bonito slogan. Como mencionou Martin Kuhn, reitor do Unasp, ao se referir ao lema do centro universitário: “Muito além do ensino está a prática para um viver relevante. Aulas, seminários, dissertações e teses ganham sentido quando seguimos o exemplo de Cristo.”

JAEL ENEAS é pastor, mestre em Teologia e diretor geral espiritual do Unasp (com colaboração de Martin Kuhn, Gabriela Pinheiro, Késia Andrade e Leandro Oliveira)

(Matéria publicada originalmente na edição de agosto de 2018 da Revista Adventista)

Última atualização em 15 de agosto de 2018 por Márcio Tonetti.