Sete lições que podemos aprender com base no exemplo do personagem bíblico Daniel
Donny Chrissutianto
Entre os vários hinos que eu gostava de cantar quando criança, e que até hoje ainda guardo no coração, está um sobre Daniel: “Faze como Daniel, Serve o eterno Deus. Entre os infiéis, fiel, Marcha para os Céus” (Coro do hino “Faze Como Daniel”, HASD 484, de autoria de Philip P. Bliss, 1873).
Há algo precioso e desafiador quanto ao caráter de Daniel. Ele amava a Deus profundamente e O obedecia incondicionalmente. “A aprovação de Deus era-lhe mais cara que o favor do mais poderoso potentado da Terra – mais cara mesmo que a própria vida. Ele se determinou permanecer firme em sua integridade, fossem quais fossem os resultados”(Ellen G. White, Profetas e Reis, 1992, p. 483).
Seja crescendo em Judá, aguardando por antecipação a chegada do Messias ou ser levado para a Babilônia como um jovenzinho cativo, prisioneiro do exército de Nabucodonosor; seja suportando as provações e aflições numa sociedade hostil em Babilônia ou permanecer como testemunha destemida diante dos poderosos governantes da Babilônia ou Medo-Pérsia; seja como aquele homem corajoso atirado na cova dos leões ou o fiel profeta a quem Deus revelou a mais longa profecia da História, desde a sua época até os nossos dias, Daniel permanece altivo e corajoso, com um firme propósito e clara visão de quem ele era e a Quem ele servia.
É esse Daniel, sua resolução moral, sua solidez espiritual, sua destemida e absoluta confiança em Deus que sempre me deixaram fascinados. Na vida de Daniel, notamos que “[um] caráter nobre não é resultado de acidente; não é devido a favores especiais ou dotações da Providência. É o resultado da autodisciplina, da sujeição da natureza mais baixa à mais alta, da entrega do eu ao serviço de Deus e do homem” (p. 488).
Quais são algumas lições que podemos aprender da vida e serviço dedicado de Daniel, um gigante espiritual, um líder imponente na Babilônia de Nabucodonosor e na Medo-Pérsia de Dario? O capítulo 6 do livro de Daniel nos dá alguns indicadores que nos ajudam bastante.
1. Ele tinha muitos talentos. A Bíblia diz que ele possuía “grandes qualidades” (Daniel 6:3). Dario reconhecia a habilidade de Daniel e desejava tê-lo como primeiro-ministro em seu reino.
Isso não foi algo assim tão surpreendente porque o rei que o antecedeu, Nabucodonosor, descobriu que Daniel e seus amigos “eram dez vezes mais sábios do que todos os magos e encantadores de todo o seu reino” (Daniel 1:20) e os havia nomeado para cargos de liderança. O caráter e as visões de Daniel impressionaram tanto o imperador medo-persa que ele não hesitou em colocá-lo numa elevada posição de liderança em seu palácio. A condição inicial de Daniel como cativo vindo de Jerusalém não limitou seus esforços em fazer o seu melhor para a glória de Deus.
2. Ele era íntegro. Ter êxito profissional extraordinário não é a única maneira de ser um bom líder e um fiel servo do Senhor. Daniel viveu como um homem íntegro. Esse foi o resultado de seu relacionamento com o Senhor.
A Bíblia diz que “ele era fiel; não era desonesto nem negligente” (Daniel 6:4). Ele tratava o seu trabalho e seus negócios com sinceridade e honestidade. Não foi encontrada nenhuma falha nele. Quando os inimigos tentaram denunciar Daniel pelo que eles consideravam como sendo suas fraquezas, não conseguiram encontrar nada. Mantinha a sua mente firme, e em toda a sua vida tinha como alvo ser sempre fiel a Deus e fazer os deveres que lhe eram confiados em seu ofício com habilidade e cuidado. “Seu inquebrantável apego ao direito era uma brilhante luz nas trevas morais dessa corte pagã” (p. 542).
3. Ele era fiel. A integridade de Daniel estava arraigada em seu firme apego e fidelidade a Deus. Seu caráter estava em harmonia com a lei de Deus. Obviamente, Daniel tinha sido ensinado a obedecer a Deus desde a sua infância. Ele sabia que “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é entendimento” (Provérbios 9:10). “A lei de seu Deus”, à que faz referência Daniel 6:5, diz respeito a mais do que aos Dez Mandamentos. Ela se refere a todos os princípios físicos, morais, sociais e espirituais da verdade e do viver correto. Mesmo quando jovem, Daniel era cuidadoso na observância dos princípios de saúde de seu chamado de fé (Daniel 1:8).
Para Daniel, era mais importante seguir a Deus e ser fiel aos Seus preceitos do que seguir as tradições humanas e todo o conhecimento do mundo.
4. Ele era um homem de oração. A vida de fé e de oração de Daniel era notória. Quer fosse quanto ao convite para comer dos manjares do rei oferecido aos ídolos ou ao seu compromisso de quando e como deveria orar, Daniel permaneceu firme à sua fé. Sua vida de oração era tão genuína e destemida quanto a sua fé. “A oração era para ele uma necessidade. Ele fazia de Deus a sua força e o temor do Senhor estava continuamente diante dele em todos os acontecimentos de sua vida” (Ellen G. White, Santificação, 2006, p. 20). Quando os inimigos de Daniel quiseram romper o relacionamento de amizade que existia entre ele e o rei, não conseguiram encontrar nenhum defeito de caráter ou falha em suas responsabilidades, mas sabiam que poderiam prender Daniel usando o seu comprometimento religioso. Havia uma coisa em que Daniel jamais poderia ceder: sua fidelidade e adoração ao seu Deus, por ele praticadas publicamente ou a sós em seu quarto, sem receio ou parcialidade. A fidelidade ao seu Deus fez finalmente com que fosse jogado na cova dos leões. Para Daniel não havia ameaça que pudesse separá-lo de seu Deus. “Daniel foi lançado na cova dos leões por ser leal à sua aliança com o Céu” (Atos dos Apóstolos, 1986, p. 575). Nenhuma cova de leões, nenhuma ameaça do rei poderia separar Daniel de seu Deus. A oração era a chave nas mãos de Daniel e, por meio da oração, a vida e a esperança de Daniel foram sustentadas e preservadas.
5. Ele era um homem de coragem. Daniel não ficou desanimado ou amargurado, mesmo quando foi lançado na cova dos leões. Ele podia dizer: “Ó rei, vive para sempre!” (Daniel 6:21) para aquele que ordenou a sua punição. E falou essas mesmas palavras enquanto ainda estava na cova dos leões. Mesmo quando as pessoas não apreciavam o que ele fazia, continuava fazendo a coisa certa para glorificar o nome de Deus (v. 22). Como Daniel podia resistir ao ser intimidado em uma situação como essa? Qual era a sua fonte de coragem? Os comentários de Ellen White são esclarecedores: “Um homem cujo coração se firme em Deus será na hora de sua maior prova o mesmo que era em sua prosperidade, quando a luz e o favor de Deus e do homem incidiam sobre ele. A fé alcança o invisível, e se apega a realidades eternas” (Profetas e Reis p. 545). Para Daniel, a posição não era tudo. Ele preferia perder sua oportunidade de continuar como primeiro-ministro a negar Seu Deus.
6. Ele era uma pessoa de influência. Independentemente dos vários ventos políticos que sopraram por todo o reino, quer no governo de Nabucodonosor ou de Dario – Daniel foi tão fiel aos princípios em sua filosofia de vida e à lei, que sua influência sobre o reino se manteve sempre estável, sem qualquer comprometimento de sua parte. Quem quer que fosse o monarca reinante, Daniel procurava apresentar o seu Deus a ele (Daniel 2:27, 28; 4:27, 28; 5:18-29; 6:21, 22). Como resultado, Nabucodonosor reconheceu: “Não há dúvida de que o seu Deus é o Deus dos deuses” (Daniel 2:47), e Dario admitiu que o Deus de Daniel era o “Deus vivo” (Daniel 6:20). Daniel não permitiu que ninguém, nem qualquer coisa viesse a interceptar o seu relacionamento com Deus. Pelo contrário, Daniel se determinou a influenciar outros, inclusive os reis a quem serviu, a fim de que eles pudessem conhecer a verdade. Eis um exemplo a ser seguido pelos cristãos de hoje, pois, seja qual for a posição ou profissão que Deus lhes tenha dado, deveriam eles usar essa oportunidade para partilhar a verdade com outros.
7. Ele era um homem de fé. Quando Daniel foi retirado da cova dos leões, o texto inspirado nos diz que “viram que não havia nele nenhum ferimento, pois ele tinha confiado no seu Deus” (Daniel 6:23). Como homem de fé, Daniel confiava em Deus, independentemente do que acontecesse. A palavra confiado nesse texto tem a mesma raiz do termo fidedigna, no verso 4. Sugere que a confiança de Daniel no Senhor era o fundamento para ele se manter uma pessoa digna de confiança. Sua fé em Deus foi constantemente manifestada em suas decisões diárias e em suas ações para que todos ao seu redor, mesmo o rei, pudesse ver o caráter de Deus refletido nele.
Daniel foi verdadeiramente um homem escolhido pelo próprio Deus. Seu caráter não foi construído da noite para o dia. Foi o resultado de uma disciplina fervorosa e porque ele permaneceu continuamente fazendo a vontade de Deus e andando em Seus caminhos. “Um caráter tal não é obra do acaso; nem se deve a favores e concessões especiais da Providência. Um caráter nobre é o resultado da disciplina própria, da sujeição da natureza inferior pela superior – da renúncia do eu para o serviço de amor a Deus e ao homem” (Ellen G. White, Educação, 1996).
Ouse ser, verdadeiramente, um Daniel!
DONNY CHRISSUTIANTO é professor assistente do Departamento Teológico-Histórico do Adventist International Institute of Advanced Studies (AIIAS), nas Filipinas
(A versão original deste artigo foi publicada na revista Diálogo, 31:2 (2019), p. 18-20, e está disponível em: https://dialogue.adventist.org/pt/3198/daniel-um-homem-escolhido-por-deus. Usado com permissão)
Última atualização em 15 de janeiro de 2020 por Márcio Tonetti.