A igreja pode colher bons frutos ao envolver as pessoas no cultivo de hortaliças
Damáris Gonçalves
Elas têm se tornado cada vez mais presentes na paisagem tanto das pequenas quanto das grandes cidades. E são um forma de transformar pequenos espaços em áreas produtivas. As hortas comunitárias se multiplicaram nos últimos anos, ganhando ainda mais relevância no contexto da crise sanitária. No coração da segunda maior favela de São Paulo, por exemplo, onde milhares de pessoas vivem empilhadas e em situação de insegurança alimentar, uma área de apenas 900 m² tem sido utilizada desde outubro do ano passado para o cultivo de 60 espécies de hortaliças e frutas, destinadas a um projeto de distribuição de marmitas.
Cidades como Curitiba e Maringá, no estado vizinho, já contabilizam dezenas de hortas comunitárias que, com o apoio da prefeitura, produzem anualmente toneladas de alimentos. Iniciativas desse tipo têm sido apoiadas pela igreja em diferentes regiões do país. Em São Benedito (CE), a ADRA mantém uma plantação de hortaliças e árvores frutíferas que tem abastecido algumas famílias. A ideia agora é buscar parcerias a fim de aumentar a produção e alimentar mais gente.
O mesmo ocorre no âmbito da igreja local. Em Ourizona (PR), a cerca de 40 quilômetros de Maringá, um grupo de voluntários criou uma horta no chamado Espaço Calebe, inaugurado no início do ano. Os canteiros começaram a ser cultivados pelos membros da igreja, mas aos poucos a própria comunidade tem colocado as mãos na terra. A produção local é distribuída principalmente para as pessoas envolvidas com as programações e oficinas oferecidas pelo centro de influência. “A horta foi uma forma de nos aproximarmos e atender as necessidades da vizinhança”, diz Tadi Venites, coordenador do projeto.
Em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, Regina Venturini começou uma iniciativa similar no ano passado. Ao assumir a liderança do departamento de ação solidária na Igreja do Jardim Mauá, ela procurou reforçar a importância de uma boa alimentação por meio do cultivo orgânico de hortaliças. “A horta comunitária também é uma forma de divulgar nossa mensagem de saúde”, acredita. Ao mesmo tempo, o projeto beneficia os membros da igreja, pois semanalmente uma família recebe uma cesta repleta de alimentos colhidos na horta. Por essa razão, Regina enfatiza que o projeto tem mostrado a preocupação da igreja com a comunidade como um todo, o que contribui para ampliar sua influência.
No período de 2017 a 2019, a Igreja Adventista de Pinhais, na capital paranaense, também manteve uma horta comunitária que ajudou a sustentar refugiados haitianos. Apesar de a maioria desses imigrantes ter mudado de endereço, o projeto se adaptou para atender outros públicos.
Em outros lugares, projetos de hortas comunitárias também levaram a população local a aproveitar melhor o espaço doméstico para produzir o próprio alimento. Esse, aliás, foi um dos reflexos de uma horta plantada pela Missão Calebe na pequena cidade de Alvorada D’Oeste (RO). Lá, as famílias foram incentivadas a reutilizar pneus e a usar estruturas verticais como canteiros no ambiente doméstico. “Isso ajuda bastante, pois temos uma baixa renda e é algo a menos para comprar. A gente só precisava de incentivo e orientação, pois a vontade sempre tivemos”, afirmam Geise e Samuel Bonifácio, uma das famílias envolvidas.
Além de fornecer comida saudável, abrir portas para o evangelho e integrar os participantes, as hortas comunitárias também podem ser um meio de geração de renda.
DAMÁRIS GONÇALVES é assessora de comunicação da Associação Sul-Paranaense
(Matéria publicada na edição de setembro de 2021 da Revista Adventista)