Entenda como as mães podem se libertar do peso dos julgamentos e das comparações ao educar seus filhos
Não faz muito tempo, recebi a esperada notícia do positivo gestacional. Quanta alegria! Menino ou menina? Consultas, exames de ultrassom. Enquanto as formas do corpo mudavam, se arredondando cada vez mais, o amor também crescia e a expectativa junto com ele.
As grávidas são um grande ímã de conselhos — na maioria das vezes, não solicitados. Mães de primeira viagem com um pequeno no colo, mais ainda. Então escutei todos os tipos de opiniões: qual tipo de parto eu deveria ter, de que forma alimentar meu filho, como evitar birras, dicas para ensinar a dormir a noite inteira e por aí vai.
Se antes as novas mães contavam com uma grande rede de auxílio para a adaptação ao novo mundo de cuidar de uma minipessoa, com mãe, sogra, tias, irmãs, vizinhas, primas morando por perto e mais do que dispostas a estender a mão, a realidade atual torna a maternidade uma experiência cada vez mais solitária. Os núcleos familiares são bem mais reduzidos. A família estendida nem sempre tem laços próximos e, muitas vezes, mora em uma geografia que impede o contato constante. As avós costumam ter uma vida profissional ativa, bem como outros tipos de compromissos. Mas os palpites não parecem ter diminuído. As mães que me leem vão concordar: a gente ouve de tudo.
E nesta época em que a opinião deixa o círculo de amigos íntimos e assume proporções impensadas ao ser postada nas diversas redes sociais, logo descobri que a maternidade se tornou uma espécie de guerra, com opiniões divergentes quase que irreconciliáveis. Cada um alardeia o que pensa ser correto com a avidez de um soldado no front de guerra.
Tem mãe que agenda cesárea. Tem mãe que dá à luz o filho de modo natural, sem analgesia. Tem mãe que faz amamentação prolongada. Tem mãe que dá mamadeira desde a primeira semana de vida do bebê. Tem mãe que se preocupa em apresentar brincadeiras pedagógicas e conceitos escolares desde a mais tenra idade. Tem mãe que acredita que a criança deve ser livre desses saberes acadêmicos ao longo dos primeiros anos de vida. Tem mãe que acredita na importância das vivências culturais e leva o pequeno a concertos e exposições. Tem mãe que prefere ir ao shopping. Tem mãe que entrega o tablet nas mãos do menino e o deixa livre para escolher a programação. Tem mãe que segue à risca a orientação de não permitir nenhuma atividade de tela até os dois anos de idade. Tem mãe que acostuma o bebê no carrinho. Tem mãe que o carrega pra lá e pra cá no sling. Tem mãe que é adepta das papinhas compradas prontas. Tem mãe que madruga na feira orgânica para preparar comida fresca e caseira para o bebê. Tem mãe que fica em casa para se dedicar aos filhos. Tem mãe que trabalha o dia inteiro, por necessidade ou por opção.
E então é possível à mãe se ver no meio de um cabo de guerra, sendo puxada para lá e para cá, pelas mais diversas correntes e opiniões em todas as áreas de criar os filhos. Ao cansaço associado à tarefa prazerosa, mas extremamente cansativa de cuidar dos pequenos, soma-se o peso das comparações, dos pré-julgamentos e da necessidade de justificar suas escolhas para pessoas que nem são tão próximas assim.
Neste mês das mães, quero presentear cada uma com um pote de leveza. Leveza ao encarar outras mães que fizeram escolhas bem diferentes das próprias: menos olhares de julgamento, mais compreensão. Leveza para dar conselhos, se eles forem necessários, acompanhados de uma boa dose de graça e da disposição sincera em colocar a mão na massa e ajudar. Leveza para encarar a própria jornada como mãe pelas lentes do Pai celestial, que conhece o fim desde o princípio e sabe que cada uma dessas fases difíceis vai passar. E o melhor: está disposto a dar toda a sabedoria necessária para você agir da melhor maneira possível.
Um pote de leveza para as mães sobrecarregadas.
Cecília Eller é graduada em Letras e Tradutor e Intérprete, e tem mestrado em Linguística
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.