A necessidade de permanecer unido ao corpo de Cristo
Milton Andrade
A evasão de membros é um desafio para muitas denominações cristãs. Fatores como imaturidade espiritual, desavenças entre irmãos, descrédito com a liderança e questões doutrinárias encabeçam a lista de motivos pelos quais as pessoas abandonam a igreja.
Com a recente pandemia e a dificuldade de acesso aos cultos, a situação se agravou, gerando desânimo na fé e afastamento da comunidade religiosa por parte de muitos. A frase “abandonei a igreja, mas não deixei Deus” tornou-se o lema de uma parcela da sociedade que se autointitula “desigrejada”, composta por crentes em Jesus que preferem permanecer separados do corpo de Cristo.
Poderíamos afirmar, aproveitando o uso das metáforas bíblicas referentes à igreja, que essas pessoas optam por um aprisco sem cercas, uma família sem vínculos, um exército sem pelotão e um edifício sem paredes. O número dessa população tem, inclusive, crescido mais do que a própria população brasileira. Os sem religião já são o terceiro maior grupo no campo religioso, atrás apenas de católicos e pentecostais.
Nesta época de relativismo, descrédito das instituições e relacionamentos descartáveis, a convivência entre indivíduos em qualquer ambiente, até mesmo na igreja, tem sido cada vez mais desafiadora.
Nem todo mundo quer se submeter a um sistema religioso. Para muitos, seguir uma rotina eclesiás-
tica se tornou uma tarefa pesada e desnecessária. Então, questionam: “Ainda vale a pena fazer parte da igreja? Qual é o objetivo de pertencer a uma comunidade cheia de regras?” Parece que o caminho mais fácil é sair pela porta dos fundos.
Diante dessa realidade, o livro Decepcionados com a Igreja se apresenta como uma obra urgente e indispensável, principalmente para aqueles que estão desanimados com a igreja e não mais a consideram a menina dos olhos de Deus, “a igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade” (1Tm 3:15).
De forma prática e motivadora, Fernando Beier apresenta argumentos convincentes a favor da importância da comunidade de fé na vida do cristão. O leitor reconhecerá que a obra foi escrita sob a ótica de um pastor apaixonado pela igreja.
Por meio de experiências pessoais e de valiosas citações, Beier desafia aqueles que já se filiaram à igreja para permanecer no corpo de Cristo, trilhando o caminho do perdão, da aceitação e do apoio mútuo. O autor reconhece que relacionamentos não são fáceis; mas também não são descartáveis. É preciso paciência, perseverança e muito amor.
Foi dessa maneira que a igreja apostólica deu os primeiros passos e cumpriu a missão outorgada por Jesus. Da mesma forma, a igreja atual é desafiada a seguir o mesmo princípio, tendo Cristo como Fundamento da fé, o Espírito Santo como Capacitador e o Pai como Aquele que “age por meio de todos e está em todos” (Ef 4:6).
O leitor será estimulado a olhar para a igreja da mesma forma como Cristo a enxerga. Mesmo com falhas e defeitos, ela ainda é um lugar de refúgio, cura e relacionamentos duradouros. É na comunhão dos crentes que a graça de Deus é experimentada e compartilhada. Assim, esse “edifício” que hoje está em construção, formado por um exército de pecadores salvos pela graça, muito em breve chegará triunfante ao Céu e terá o privilégio de se unir à família celestial.
TRECHO
“Nenhuma família é perfeita, e a igreja é uma grande família de imperfeitos. Mas Aquele que deseja nos aperfeiçoar continua sendo o mesmo – Jesus Cristo. Faz parte do plano Dele nos ensinar a lidar com as incongruências e os defeitos de nossos irmãos” (p. 52).
MILTON ANDRADE é editor de livros na CPB
(Resenha publicada na seção Estante da Revista Adventista de março/2023)
Última atualização em 30 de março de 2023 por Márcio Tonetti.