Uma história de lealdade a Deus que desafiou o regime nazista
Milton Andrade

As autobiografias têm o poder de nos transportar para as experiências mais marcantes da vida de alguém. Um exemplo disso é a de Pawel Cieslar, um jovem polonês que viveu sob o domínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Sua narrativa é intensa e inspiradora, abordando temas como fé, coragem e resiliência.
O livro Nunca Vou me Render (CPB, 2024, 352 p.) conduz o leitor por cenas vívidas que vão da serenidade de uma fazenda em Wisla ao caos das estações de trem lotadas, passando pelo frio cortante dos rios congelados da Polônia. Cada cenário revela a dureza dos anos de guerra, mas também a presença reconfortante de Deus na vida do autor e de sua família.
A história de Cieslar começa com a ocupação alemã em território polonês, quando ele tinha apenas dez anos. Com a invasão nazista, sua vida e a de sua família foram devastadas pela violência e pelo medo. Forçados a renunciar à herança polonesa e à fé adventista do sétimo dia, perderam liberdades fundamentais, como o direito de exercer sua religião e de manter suas Bíblias. Em vez de ceder à rendição, Cieslar e sua família encontraram refúgio e força justamente na fé, mantendo suas convicções, mesmo em um ambiente hostil.
Em diversos momentos, o autor se recusou a prestar a saudação a Hitler, um ato que simbolizava lealdade ao ditador nazista. Esse gesto de resistência, simples, mas poderoso, demonstra sua coragem e princípios inabaláveis. Ele escolheu a lealdade a Deus e aos seus valores, apesar do risco de morte. Seu lema, “nunca me render”, serve como um fio condutor ao longo de sua vida e da obra, revelando a força que a comunhão com o Senhor pode proporcionar em situações difíceis.
Premiado na Austrália, o livro de Cieslar traz detalhes inéditos sobre a ocupação nazista na Polônia e inclui eventos emocionantes, soluções inesperadas e imagens impressionantes. Esta autobiografia, que mantém o leitor atento do começo ao fim, convida-nos a refletir sobre o poder da fé em sustentar uma pessoa diante de grandes desafios e como a coragem de um jovem se transformou em um poderoso testemunho de resistência em tempos adversos.
MILTON ANDRADE é editor na CPB
TRECHO
“Diariamente, havia a possibilidade de que os soldados da SS estacionassem em frente à porta e entrassem atirando em todo mundo ou prendessem os presentes para que fossem torturados e, então, desaparecessem, enviados a um campo de concentração. Quanto ao “amanhã”, esse era um conceito sobre o qual não podíamos nos dar ao luxo de pensar. A cada dia celebrávamos o fato de estar vivos” (p. 48).
(Resenha publicada na seção “Estante” da Revista Adventista de janeiro/2025)
Última atualização em 3 de fevereiro de 2025 por Márcio Tonetti.