Novo diretor da Faculdade Adventista de Teologia do Unasp (FAT), campus Engenheiro Coelho (SP), fala sobre as mudanças no currículo diante dos desafios pastorais no século 21
Com as crescentes mudanças ocorridas no mundo, a Igreja Adventista do Sétimo dia tem procurado readequar o currículo pastoral aos novos tempos. Essa, aliás, é uma das quatro principais ênfases da denominação na América do Sul para o próximo quinquênio.
Com o objetivo de tornar o ministério pastoral mais relevante e próximo das reais necessidades de uma igreja em crescimento, a Faculdade Adventista de Teologia (FAT) do Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP), entra em uma nova fase.
No Dia do Pastor (22 de outubro), a Revista Adventista traz entrevista com o novo diretor do curso de teologia do Centro Universitário Adventista de São Paulo. Antes de assumir a função, o pastor Reinaldo Siqueira, que possui doutorado em Teologia pela Universidade Andrews (EUA) e pós-doutorado em Literatura Hebraica pela USP, foi reitor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT) ao longo de quatro anos.
Ele comenta os principais ajustes feitos pela FAT no currículo pastoral com o objetivo de formar pastores com profundo conhecimento bíblico e habilidades para desenvolver um ministério relevante no século 21, além de comentar como o seminário está buscando se aproximar mais da igreja, atendendo suas necessidades.
Qual é o foco do ensino teológico para o próximo quinquênio?
Temos enfatizado o preparo de líderes que estejam bem equipados para exercer da maneira mais eficiente possível o ministério em qualquer função dentro da obra, seja ela pastoral, educacional ou missionária, tendo em vista as necessidades da igreja e os desafios da missão na atualidade. Embora nosso principal foco seja a formação de pastores para atuar no contexto brasileiro, o seminário também está tomando uma dimensão internacional. A FAT tem buscado ajudar a igreja em outros lugares da América do Sul e do mundo, formando jovens que sirvam como missionários e líderes em outras comunidades fora do país.
Quais os principais desafios na formação pastoral no século 21?
Vivemos em uma sociedade bem diferente em relação ao que era há trinta ou quarenta anos. Um grande desafio é alcançar o coração das pessoas num contexto pós-moderno e relativista com verdades fundamentais como a salvação em Cristo Jesus, a vida eterna e a segunda vinda de Jesus. Chegar até essas pessoas que estão sempre ocupadas com seus afazeres e suas próprias conquistas é um grande desafio. Outra dificuldade é chegar às classes não atingidas, que incluem não somente os secularizados e pós-modernos, mas também pessoas de outras religiões e culturas dentro e fora do país, haja vista que nossa missão é mundial.
Como manter uma identidade bíblica e confessional, atendendo às necessidades de uma igreja inserida nesse contexto social e culturalmente tão desafiador?
A igreja tem entendido cada vez mais que sua identidade está mais ligada com a missão e a mensagem do que com as formas culturais. As formas culturais, conforme a própria Bíblia ensina, podem ser variadas desde que estejam dentro do padrão bíblico, mas a mensagem e a missão consistem na verdadeira marca da identidade adventista. Enquanto mantivermos a crença em nossa mensagem bíblica, de forma bem fundamentada, e na missão que Deus nos deu, manteremos nossa identidade. Precisamos entender isso para cumprir a missão nacional, internacional e também transcultural.
Qual é o perfil que se espera do pastor para o exercício do ministério em nossos dias?
o perfil de um pastor que seja cada vez mais competente e conhecedor de todas as áreas, seja a bíblica, histórica, filosófica, relacional ou evangelística, mas que, acima de tudo, demonstre paixão por Deus, pela sua Palavra, pela missão e pela igreja. É necessário que, além de todo conhecimento, ele tenha por motivação o mesmo amor que motivou Cristo e, é claro, a submissão ao Espírito Santo, para que seja por Ele dirigido.
Quais iniciativas têm sido promovidas pela Faculdade de Teologia visando essa ênfase na formação pastoral?
Temos recorrido a várias estratégias. Por exemplo, diminuímos o número de alunos que ingressam em nosso programa de ensino, justamente para tentar oferecer um atendimento melhor a eles. Tínhamos um número elevado de discentes, o que tornava a relação muito impessoal. Contudo, ao mesmo tempo que reduzimos a quantidade de alunos, aumentamos o quadro de professores, a fim de que cada docente possa atender dentro da sua especialidade, ou seja, na área em que desenvolveu seus estudos e aprofundou seus conhecimentos.
Também vamos diversificar o programa de ensino. Tanto em nível sul-americano quanto local o currículo pastoral tem sido adaptado às necessidades da igreja hoje. Semelhantemente, nosso programa de mestrado já está passando por um processo de reformulação, na tentativa de atender à necessidade de maior especialização dos nossos líderes. Futuramente, o sonho é oferecer isso em nível de doutorado.
Como ficará a parte prática no ensino teológico?
Estamos tentando uma comunicação mais próxima com os campos de trabalho da igreja em diversos níveis, a fim de conhecer melhor suas necessidades. Queremos proporcionar aos nossos alunos uma experiência rica na parte prática aqui em nossa região ou em alguma missão nacional ou no exterior, bem como oportunidades de realizarem projetos de estudos em outras instituições.
Dentro dos objetivos do quinquênio também estamos dialogando com a igreja para descobrir como fazer com que essa parte prática do ensino seja mais próxima da realidade da igreja local. Por exemplo, aqui na igreja do Unasp já existe um projeto de reformulação do estágio que ocorre nos dois primeiros anos da graduação. O propósito é aproximar mais os alunos da dinâmica da congregação, a partir dos diferentes ministérios da igreja do Unasp. Eu creio que esse será um processo interessante que trará muitos benefícios aos alunos.
Além disso, estamos repensando, juntamente com a Divisão Sul-Americana, a prática pastoral de todas as etapas do curso, para que ela possa ser mais efetiva. Uma proposta é aproximar mais os pastores que já estão nos distritos, aqueles que tenham esse desejo e também o dom, envolvendo-os como mentores. Essa parceria pode ajudar a melhorar a prática distrital e evangelística.
A FAT tem incentivado a participação dos alunos em diversos grupos de pesquisa. Qual é o papel desses grupos nessa fase de mudanças?
Esses grupos de pesquisa fazem parte da nossa rotina acadêmica. Aqui nós envolvemos os pastores de todas as áreas da teologia por que entendemos que, ao concluir o curso, o discente precisa ter um conhecimento bem fundamentado das crenças adventistas e habilidades para analisar a Bíblia com mais precisão e eficácia. Queremos desenvolver nos alunos essas habilidades de investigação e pesquisa, dando uma boa base para seu conhecimento e prática. Acreditamos que essas iniciativas resultarão em pesquisas que beneficiarão a igreja em todas as áreas de estudo.
A igreja Adventista na América do Sul tem outras três ênfases para os próximos cinco anos: Comunicação estratégica, o trabalho com as novas gerações e o desenvolvimento dos dons espirituais na igreja. Como a FAT pretende interagir com essas áreas?
Além de possibilitar o aprofundamento acadêmico, o que já está sendo pensado, os alunos também poderão exercer alguma prática de estágio nessas áreas. De certa maneira, o seminário sempre foi um dos elementos mais fortes da igreja no que diz respeito à missão. Se olharmos ao redor das nossas faculdades de teologia, podemos ver quantas igrejas surgiram após a chegada dos seminários. Quantos jovens estão envolvidos em evangelismo, na missão, nas várias regiões do Brasil! Além disso, queremos envolver nossos jovens de maneira mais ativa na área da comunicação e das novas tecnologias, promovendo o contato com a TV Novo Tempo, por exemplo. Tudo isso para que eles possam desenvolver melhor os dons e talentos que Deus lhes deu.
O que a FAT vai procurar oferecer aos pastores que já estão no ministério?
Já contamos com o sistema de educação continuada que a igreja oferece aos pastores por meio de seminários, palestras, entre outros programas. Mas estamos reformulando nosso sistema de pós-graduação por acreditarmos que um grande público-alvo é justamente o grupo de pastores que já atua na obra.
Antes nós tínhamos apenas um programa de mestrado para todos os alunos. Chegamos a ter cento e sessenta discentes cursando a mesma grade com as mesmas matérias. Dentro dessa nova proposta, buscaremos oferecer mestrados específicos que vão contemplar áreas que o aluno e a igreja gostariam de aprofundar. Dessa maneira queremos dar oportunidade para que o pastor, professor ou líder enriqueça seu ministério na área que ele gostaria de aprofundar e desenvolver.
O que a igreja pode esperar dos novos pastores?
A igreja pode continuar esperando pastores, professores e professoras com dedicação total e melhor preparados dentro da esfera que o bacharelado oferece. Queremos formar ministros com uma boa base para que possam servir da melhor maneira a igreja na pregação do evangelho.
WILLIAN SILVESTRE é estudante de Teologia e Jornalismo no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP)
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.