Missão verde

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O compromisso dos cristãos com a preservação ambiental

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Como cristãos, por que também devemos cuidar do meio ambiente? Afinal, Deus não nos fez donos da Terra para usá-la em nosso benefício? Os seres humanos não valem mais que rios, árvores ou animais? Não foram os israelitas punidos por adorar a Terra e tudo o que nela existe? Não acreditamos na segunda vinda, quando a Terra será consumida pelo fogo e, então, o próprio Deus criará “um novo Céu e uma nova Terra”? Não é a nossa missão salvar pessoas, e não o planeta?

RESPONSABILIDADE CRISTÃ

Embora essas preocupações tenham seu lugar, talvez devêssemos começar com outra pergunta: Por que
não deveríamos nos preocupar com o meio ambiente? Afinal, cuidar da criação é bíblico. Há quatro pilares que apoiam essa premissa.

1. Somos feitos à imagem do Criador. Tudo começa com Deus. Gênesis registra estas palavras: “Deus viu tudo o que havia feito, e eis que era muito bom” (Gn 1:31). O Senhor criou os seres humanos à Sua imagem para refletir Seu caráter e os colocou como administradores de Sua criação: “E Deus disse: ‘Façamos o ser humano à Nossa imagem, conforme a Nossa semelhança. Tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os animais que rastejam pela terra’” (Gn 1:26).

A posição de administradores, no entanto, está ligada a uma relação compartilhada. É algo significativo, por exemplo, que o Senhor tenha criado os animais e os seres humanos a partir do “pó da terra” e concedido a cada um a bênção correspondente: “Sejam fecundos, multipliquem-se” (Gn 1:22, 28). Em essência, “ao Senhor pertence a terra e a sua plenitude” (Sl 24:1). E nós devemos ser mordomos responsáveis pelo ecossistema em que vivemos.

2. Deus continua ligado à Sua criação e a protege. O relacionamento e cuidado de Deus por Sua criação estão documentados em toda a Bíblia (Jó 12:10; Sl 65:9-13; Is 43:20, 21; Lc 12:6; Hb 1:3). Observe, por exemplo, o dilúvio. Diante de uma catástrofe global iminente, Deus procurou preservar as várias espécies (Gn 6:19-21; 7:2, 3). Mesmo depois que passou o dilúvio, “Deus Se lembrou de Noé e de todos os animais selvagens e de todos os animais domésticos que estavam com ele na arca” (Gn 8:1). Finalmente, ao estabelecer a aliança com Noé, o Senhor afirmou: “Eis que estabeleço a Minha aliança com vocês, e com a descendência de vocês, e com todos os seres vivos que estão com vocês: tanto as aves, os animais domésticos e os animais selvagens que saíram da arca como todos os animais da terra” (Gn 9:9, 10).

As Escrituras Sagradas também deixam claro que Deus não apenas protege, mas supre as necessidades de todos os seres criados. Jesus declarou: “Observem as aves do céu, que não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros. No entanto, o Pai de vocês, que está no Céu, as sustenta” (Mt 6:26). Em suma, a Bíblia ensina que o Senhor protege, preserva e supre as necessidades de todas as criaturas. Devemos nós ser menos cuidadosos?

3. Deus espera que cuidemos da criação. Gênesis 2:15 indica que Adão e Eva foram comissionados a servir e preservar o planeta e tudo o que nele existe. Essa é uma responsabilidade que nunca foi revogada.

A instrução de Deus aos israelitas incluía a bondade para com os animais: “Se você enxergar o jumento ou o boi que pertence ao seu compatriota caído no caminho, não se omita” (Dt 22:4). Os animais também devem receber o benefício de seu trabalho: “Não amarrem a boca do boi quando estiver pisando o trigo” (Dt 25:4). Da mesma forma, Salomão destacou que “o justo cuida dos seus animais” (Pv 12:10).

Além disso, o Senhor também prescreveu um tempo de descanso para a terra e os animais. Isso deveria ocorrer a cada sábado (Êx 20:10; Dt 5:12-15). Ele também estabeleceu o ano sabático, período que ocorria de sete em sete anos, quando os animais domésticos deveriam descansar, e a terra, ser regenerada (Êx 23:10; Lv 25:2-7).

Mesmo em tempos de guerra, o meio ambiente deveria ser protegido: “Quando sitiarem uma cidade por muito tempo, […] não destruam as árvores” (Dt 20:19). Séculos depois, Jesus instruiu Seus discípulos a praticar a conservação do meio ambiente. Após alimentar milhares de forma miraculosa, Ele orientou: “Recolham os pedaços que sobraram, para que nada se perca” (Jo 6:12). Em tudo, há provas convincentes de que Deus espera que os seres humanos cuidem do meio ambiente.

4. Deus Se entristece quando Sua criação é profanada. Ele apontou as consequências quando o mundo que criou é violado e contaminado: “Ai dos que ajuntam casas e mais casas […] até que não haja mais lugar, e ficam como únicos moradores no meio da terra! Eu ouvi o Senhor dos Exércitos dizer isto: ‘Na verdade, muitas casas ficarão desertas, até as grandes e belas ficarão sem moradores’”(Is 5:8, 9). No verso seguinte, o Senhor advertiu: “Uma grande vinha produzirá somente alguns litros de vinho, e um saco cheio de semente não dará mais do que alguns quilos de trigo” (Is 5:8-10). No Salmo 107, o autor declarou que Deus transformou rios em desertos e terras férteis em solo estéril “por causa da maldade dos seus habitantes” (v. 33, 34).

A BÍBLIA ENSINA QUE O SENHOR PROTEGE, PRESERVA E SUPRE AS NECESSIDADES DE TODAS AS CRIATURAS. DEVEMOS NÓS SER MENOS CUIDADOSOS?

Em termos que parecem semelhantes aos relatórios atuais, o Senhor descreveu os resultados da exploração ambiental: “A Terra pranteia e murcha; o mundo enfraquece e murcha; enfraquecem os mais nobres do povo da Terra. A Terra está contaminada por causa dos seus moradores, porque transgridem as leis, violam os estatutos e quebram a aliança eterna. Por isso, a maldição consome a Terra, e os que habitam nela se tornam culpados” (Is 24:4-6).

Finalmente, em termos apocalípticos, os 24 anciãos sentados ao redor do trono de Deus clamam: “As nações se enfureceram; chegou, porém, a tua ira, e o tempo determinado para serem julgados […] e para destruíres os que destroem a Terra” (Ap 11:18).

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DA CONTRADIÇÃO À AÇÃO

A Bíblia é clara em apresentar o interesse de Deus pelo meio ambiente e a nossa responsabilidade de cuidar da criação. O problema é a contradição.

Quando eu era adolescente, morava próximo a uma floresta tropical. Nossa família costumava caminhar pela floresta com bastante frequência, e eu ficava maravilhado com as árvores altaneiras, as aves que revoavam em suas copas e as borboletas que flutuavam nos fachos intermitentes da luz do Sol entremeando a rica folhagem. À noite, porém, podia ouvir o motor dos caminhões de madeira que carregavam até o porto os enormes troncos de árvores que cresceram e ali permaneceram durante séculos. Eu sentia tristeza por isso. Lembro-me, também, do meu sentimento de orgulho, naquela época, de ter uma escrivaninha, que ia de uma parede à outra de meu quarto, feita de um único bloco de mogno. Uma contradição!

Não faz muito tempo, vi um desses carros que prometem emissão zero de carbono, com um adesivo “Go green!” (“Seja ecológico”) colado no para-choque, no estacionamento de uma churrascaria. Outra contradição!

Certa ocasião, visitei uma escola na qual os professores falavam sobre o aquecimento global e a camada de ozônio. Os alunos fizeram cartazes em defesa das baleias e criaram murais alusivos à proteção do nosso planeta. Era uma escola que usava pratos e utensílios descartáveis não biodegradáveis, mantinha as luzes acesas desnecessariamente e não praticava a coleta seletiva de lixo. Outra contradição!

Para evitar essas e outras contradições, o que o cristão deve fazer?

1. Informar-se. Identifique as causas do problema em questão e procure definir as possíveis soluções, com base em uma perspectiva cristã. A Bíblia, por exemplo, identifica a causa implícita na crise ambiental: “Tenham cuidado e não se deixem dominar por qualquer tipo de avareza, porque a vida de uma pessoa não consiste na abundância dos bens que ela tem” (Lc 12:15). O profeta Oseias apontou para o resultado dessa vida egoísta: “Por isso, a terra está de luto, e todos os seus moradores desfalecem, juntamente com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar estão morrendo” (Os 4:3). Em essência, a crise ecológica está enraizada em nossa ganância e recusa de praticar uma gestão ambiental responsável.

As Escrituras também apontam para a solução do problema: “Ame o seu próximo como você ama a si mesmo” (Mc 12:31). Nós amamos nossos vizinhos globais ao permitirmos que tenham um lugar decente para viver. O objetivo é elevar a nossa própria consciência espiritual e aprofundar o nosso compromisso de servir como guardiões do planeta. Isso ocorre quando reconhecemos que Deus é o Criador e Mantenedor do mundo natural; quando aplicamos os princípios bíblicos da moral cristã, da integridade e do comportamento ético em todos os aspectos da vida; e quando desenvolvemos atitudes de gestão correta e de serviço em relação à vida, à saúde e ao meio ambiente.

2. Ser exemplo em gestão ambiental. Reduza. Reuse. Recicle. Restaure. Use a água de maneira responsável. Não desperdice comida. Plante uma árvore. Transforme seu lixo orgânico em adubo. Ajude a limpar uma rua, um parque ou um córrego. Participe de um programa de reciclagem de vidro, papel e plástico. Utilize lâmpadas que economizam energia. Leve sua própria sacola ao supermercado. Caminhe, ande de bicicleta e use o transporte público sempre que puder. Faça suas compras próximo de onde mora. Colete a água da chuva. Aproveite a energia solar.

De fato, uma das contribuições mais importantes que você pode fazer para beneficiar o ecossistema é se tornar vegetariano. Um estudo da Universidade de Loma Linda constatou que uma dieta à base de plantas resulta em quase um terço menos de emissões de gases de efeito estufa do que uma dieta com produtos de origem animal (S. Soret et al., “Climate change mitigation and health effects of varied dietary patterns in real-life settings through North America”, The American Journal of Clinical Nutrition, n. 100, 2014, p. 476-482).

Além disso, de acordo com a Water Education Foundation, são necessários cerca de 10 mil litros de água para produzir cerca de meio quilo de carne bovina (link.cpb.com.br/f1d5a6). Em contraste, apenas 100 litros de água são necessários para produzir meio quilo de trigo.

3. Compartilhar o conhecimento. Transmita essas prioridades e preocupações ambientais àqueles que vivem ao seu redor de forma criativa e atraente. Se você puder fazer isso, realize algumas pesquisas ambientais, fornecendo uma base empírica para obter decisões estratégicas.

Em essência, devemos nos tornar agentes de mudança para impedir a exploração egoísta dos recursos da Terra e a degradação irresponsável do meio ambiente, que resultam em sofrimento generalizado, desordem ambiental e ameaça à mudança climática. Para controlar o consumo desenfreado e o consumismo irresponsável. Para interromper o esgotamento de recursos não renováveis e a poluição que ameaçam os ecossistemas da Terra. Para criar e implementar uma agenda ambiental. Nosso objetivo deve ser responder às necessidades humanas enquanto cumprimos com o nosso mandado de cuidar do meio ambiente. Temos que gerir os recursos da Terra fielmente.

FUTURO SUSTENTÁVEL

Deus vislumbra um futuro sem problemas ambientais. No entanto, é um futuro que depende de nossas decisões. “Se o Meu povo, que se chama pelo Meu nome, […] se converter dos seus maus caminhos, […] perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra” (2Cr 7:14). Como consequência, “o deserto e a terra seca se alegrarão; o ermo exultará e florescerá como o narciso […]. A areia escaldante se transformará em lagos, e a terra seca, em mananciais de água. Onde os chacais costumavam viver, crescerá a erva com canas e juncos” (Is 35:1, 7).

Nesse ecossistema florescente, Deus, mais uma vez, estabelecerá um pacto de gestão ambiental. “Naquele dia, farei a favor dela uma aliança com os animais selvagens, com as aves do céu e com os animais que rastejam sobre a terra. Tirarei da terra o arco, a espada e a guerra e farei com que o meu povo repouse em segurança” (Os 2:18). “Não se fará mal nem dano algum em todo o Meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Is 11:9).

O que é necessário? “O que se requer destes encarregados é que cada um deles seja encontrado fiel” (1Co 4:2). Medimos a nossa gestão pelos ecossistemas saudáveis, desenvolvimento sustentável e consumo responsável. “Encarregados” fiéis. Isso é o que devemos ser. Então, vislumbre o futuro e aja agora! 

Nota: Este artigo foi publicado originalmente na revista Diálogo.

JOHN WESLEY TAYLOR é presidente da Universidade Andrews (EUA)

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Última atualização em 6 de junho de 2024 por Márcio Tonetti.