Missionária no Amazonas

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Voluntária conta como foi dedicar as férias para projetos sociais e evangelísticos em comunidades ribeirinhas

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Lidiane Pinheiro de Souza trocou as férias por serviço humanitário e evangelístico em comunidades de difícil acesso do Amazonas. Foto: arquivo pessoal

As férias chegaram. Eu queria fazer algo diferente com os 30 dias que tinha para descansar. No meu coração, sempre quis ser missionária. Mas o que é ser um missionário? Segundo o dicionário Aurélio, missionário é “aquele que foi incumbido de realizar determinada missão”. E como adventistas do sétimo dia temos a missão de pregar o evangelho eterno a todo o mundo. Sabemos que podemos ser missionários em nossa cidade, bairro, rua ou até em nossa própria casa, mas por que não pregar o evangelho e conhecer uma nova cultura, fazer novos amigos, se aventurar e levar o evangelho a lugares difíceis de se alcançar?

Esses são alguns dos motivos pelos quais a igreja mantém vários projetos que, a cada ano, envolvem centenas de jovens e adultos em missões de longa e curta duração. Nas missões de longa duração você dedica um ano ou mais para viver em alguma região do Brasil ou em outro país. Como é maior o tempo de permanência no local, é possível realizar um trabalho de acompanhamento mais minucioso. Já nas missões de curta duração, dedica-se de 10 a 30 dias para o atendimento às necessidades locais mais urgentes.

Há dois anos conheci a ONG Salva-Vidas Amazônia (Asvam), dirigida por missionários adventistas que atendem populações ribeirinhas no maior estado brasileiro. Lá, eles trabalham com missões de curta e longa duração, dando todo o suporte necessário aos missionários que desejam fazer parte do projeto. Se você quer participar de uma missão de um ano ou mais, eles oferecem em sua sede, em Manaus, a Escola de Missões. Nessa escola, você receberá um preparo especial para trabalhar intensivamente com as comunidades ribeirinhas do rio Amazonas. Durante três meses o missionário tem aulas sobre a cultura local, missiologia, psicologia missionária, vida no campo, nutrição e culinária. Além disso, ele também aprende com pastores locais e outros convidados de várias partes do país sobre evangelismo, profecias e organização de igrejas. Depois desse preparo, o missionário é enviado sozinho ou em dupla para morar numa comunidade, atender suas necessidades e evangelizá-la.

Como eu queria participar de uma missão de curta duração, ao entrar em contato com o projeto Salva-Vidas Amazônia, fui encaminhada para um grupo de missionários que iria para uma missão de 15 dias no interior do Amazonas. A condição era pagar uma taxa para despesas de alimentação e transporte (no caso, o barco) e, também, as passagens aéreas. Desembarcamos em Manaus e logo nos apossamos do que seria nossa “morada”: um belo e confortável barco. Lá dormimos em beliches, redes e tomamos banho com a água do rio. Vimos muitos peixes, botos, jacarés, macaquinhos, tucanos, araras, papagaios. Ainda pudemos apreciar as estrelas sem a interferência da iluminação urbana e contemplar pores do sol de tirar o fôlego. Que maravilha!

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O barco saiu de Manaus. Rumamos a Leste do estado do Amazonas, mais de 30 horas de barco. Parece muito, mas há comunidades que ficam a até dez dias de barco. Marcar presença nessas localidades isoladas ainda é um grande desafio. Estima-se que 80% do esforço missionário para alcançar pessoas para Cristo esteja concentrado numa área que fica a aproximadamente 300 km da capital do estado, distância equivalente a apenas um dia de viagem de barco. Da mesma maneira que o governo tem dificuldades em levar educação, saúde e energia elétrica para o povo que vive nos rincões da Amazônia, as igrejas têm dificuldades para chegar a esses lugares com a mensagem de salvação.

Nosso roteiro incluiu a visita a cinco comunidades ribeirinhas bastante carentes. Passamos dois dias em cada uma. O dia começava muito cedo, pois precisávamos nos esforçar para atender o maior número possível de pessoas. Todas as comunidades são muito pobres. Algumas muito sujas, sem condições mínimas de saneamento básico. Outras são mais bem organizadas. Contudo, todas são muito carentes de amor, atenção e instrução. A maioria das famílias tem mais de cinco filhos porque, para eles, filho é sinônimo de bolsa família e, por sua vez, mais dinheiro. No entanto, esse dinheiro é, muitas vezes, revertido em bebidas e drogas.

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A alimentação é basicamente peixe e farinha. Na falta do leite, os bebês tomam mamadeira de farinha e água. Por isso, as crianças são desnutridas e, por consequência, têm atraso escolar. A escola, quando disponível na comunidade, é composta de duas salas de aula. Geralmente, há uma ou duas professoras que ensinam as crianças numa mesma sala, mesmo que elas avancem de nível. Não há uma biblioteca e poucos são os livros disponíveis.

selecionada-2Nessas comunidades, oferecemos atendimento médico, odontológico, psicológico, escola cristã de férias, visitas missionárias, pesquisas com famílias, distribuição de medicamentos e literaturas, realizamos reuniões evangelísticas, palestras de como deixar de fumar, sexualidade, alcoolismo, entre outros temas. Além disso, ajudamos com pinturas de telhas para reforma de igrejas. Foi uma bênção! Em todo contato que tivemos, tentamos transmitir o amor de Deus e falar sobre a salvação que Jesus oferece a todas as pessoas.

IMG_9461Nós, missionários, saímos de lá muito impactados ao perceber quão grandes obras Deus pode realizar por meio de pessoas tão comuns e falhas como nós. Tudo de que precisamos é ter um coração disposto a ser usado por Ele. O tempo todo fomos levados a refletir sobre a possibilidade de ser feliz com bem pouco e que aquilo que chamamos de “problema”, comparado à realidade dessas comunidades, é insignificante.

Tenho muita gratidão por essa rica oportunidade. Volto com um novo olhar sobre a vida e motivada a ajudar esse povo com o máximo que eu puder. Eles precisam de doações de roupas, alimentos, remédios, dinheiro, e, principalmente, das nossas orações.

Assim como eu e meus amigos fomos usados e transformados, você também pode ser! Não tenha medo de abrir mão das férias ou mesmo deixar tudo para trás para fazer o trabalho do Senhor. Eu estive lá e digo que é recompensador. Se esse é seu sonho, oportunidades não faltarão.

LIDIANE PINHEIRO DE SOUZA é professora e autora de livros didáticos da Casa Publicadora Brasileira

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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.