O corpo de Cristo

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Obra destaca a relação simétrica entre adoração, ministério e autoridade na igreja como moldura adequada para o cumprimento da missão

Vinícius Mendes

Adoração, ministério e autoridade. A depender do sentido atribuído a essas três palavras, a face da igreja perante o mundo recebe diferentes contornos. A adoração e a liturgia revelam nossa visão sobre Deus e sobre nós mesmos. Por sua vez, o exercício da autoridade na igreja e o entendimento sobre a natureza do ministério pastoral retratam uma determinada visão de mundo e acabam direcionando certas escolhas no campo da eclesiologia (doutrina da igreja).

Na Bíblia, a igreja é apresentada por meio de metáforas, como o corpo e a noiva de Cristo, rebanho do Senhor, lavoura, edifício e família de Deus, coluna e baluarte da verdade. Essas figuras pretendem traduzir a complexidade do mosaico pelo qual se revela a face de Jesus ao mundo. Instituída por Cristo no primeiro século, a igreja tem uma missão específica: proclamar o evangelho eterno (Ap 14:6-12) ao mundo e ser uma referência para a humanidade. Porém, devido à fragmentação do mundo cristão e às diferentes cosmovisões que coexistem na cristandade, é essencial saber qual é a compreensão de igreja que emerge das Escrituras.

Para oferecer uma visão abalizada sobre eclesiologia adventista, o Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI, na sigla em inglês) produziu uma série de três livros. A Igreja: Adoração, Ministério e Autoridade (CPB, 2020, 476 p.) é a obra que conclui a sequência. Organizado pelo então diretor do BRI, Ángel Manuel Rodríguez, e escrito por um time altamente qualificado de teólogos, o livro provê uma visão bíblica sobre a eclesiologia adventista. Message, Mission and Unity of the Church e Teologia do Remanescente (CPB, 2012, 256 p.) compõem a trilogia.

Em tempos em que a adoração e a liturgia têm sido encaradas por muitos como um produto mercadológico e, por isso, adaptável ao “gosto do freguês”, ao longo de dez capítulos A Igreja apresenta esse tema a partir de uma perspectiva bíblica e histórica.

Os demais oitos capítulos do livro tratam do ministério e da autoridade na igreja e respondem a perguntas como: Existe diferença essencial entre um pastor ordenado e um leigo? A resposta a essa e outras questões encaminham o debate para uma posição equilibrada. Nas Escrituras, não há nem o poder quase que inalienável da ordenação (catolicismo) nem a diluição da autoridade pastoral em uma estrutura eclesiástica enfraquecida e que tende a secularizar o ofício ministerial (protestantismo).

No centro, a Bíblia apresenta o ministério pastoral como santo e tendo sua autoridade fundamentada exclusivamente em Deus, nas Escrituras e no reconhecimento da igreja. A autoridade da liderança eclesiástica, portanto, resulta de uma vida conformada com os princípios bíblicos e não em um suposto poder místico da ordenação.

Precisamos muito de uma visão equilibrada sobre adoração, ministério e autoridade. A compreensão apropriada desses pontos emoldura os traços da face de Cristo em uma relação harmônica com Seu corpo, a igreja. É esse belo retrato que proclama com poder a última mensagem de advertência ao mundo.

TRECHOS

“A adoração inclui a lembrança dos atos salvíficos de Deus, o compromisso atual e a antecipação de um futuro com Ele e uns com os outros. É histórica, contemporânea e profética” (p. 149).

“Uma vez que o ministério cristão consiste em uma extensão do ministério de Cristo, sua fonte suprema de autoridade é Deus. […] A autoridade se origina em Deus e vem aos seres humanos somente por delegação, por intermédio da igreja em harmonia com as Escrituras” (p. 301, 302).

VINÍCIUS MENDES é editor de livros na CPB

(Resenha publicada na seção Estante da edição de novembro de 2020)