O legado continua

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Cursos de Teologia e Enfermagem do Unasp celebram marcos históricos
Luciana Ferreira e Thamires Mattos
No ano em que o primeiro curso privado de Enfermagem aberto na cidade de São Paulo completou 50 anos, 34 alunos receberam o diploma (de branco). Foto: Larryson Borges

Na manhã do dia 2 de agosto de 1915, com um número bastante reduzido de alunos e apenas três professores, era lançada na região do Capão Redondo, então cidade de Santo Amaro (SP), a pedra fundamental do Seminário da Conferência União Brasileira dos Adventistas do Sétimo Dia. Esse foi o nome dado inicialmente ao primeiro seminário adventista brasileiro, que nasceu com o propósito de capacitar obreiros locais e, ao longo do tempo, foi capaz de ajudar a suprir demandas globais.

Desde o início, seu propósito foi muito claro: “Formar pastores mais bem preparados para pregar o evangelho nas mais diversas situações, culturas e lugares”, conforme define o doutor Adolfo Suárez, reitor do Seminário Latino-Americano de Teologia (SALT), órgão que administra os oito seminários adventistas do continente.

Ao longo de todos esses anos, a Faculdade de Teologia do Unasp, nome pelo qual ela passou a ser conhecida a partir de 1955, já graduou mais de 3,6 mil pastores para atuar não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Um deles nasceu um ano após o surgimento do seminário: 30 de agosto de 1916. Odorino de Souza deixou o ministério na Igreja Episcopal Anglicana para cursar Teologia no seminário adventista. Hoje, aos 103 anos, ele está, evidentemente, aposentado, mas continua com o mesmo senso de missão. Sua vida é prova do poder de Deus e da influência da FAT.

A tocha levantada por dedicados homens como Odorino prosseguirá nas mãos dos integrantes da 100ª turma de formandos da Faculdade Adventista de Teologia. “Deus é fiel e continua chamando homens e mulheres para servi-Lo. A missão na igreja está viva. Ao chamar essas pessoas, Deus concede os dons necessários e capacita cada uma delas para atender as necessidades da missão”, frisa o doutor Reinaldo Siqueira, diretor da FAT.

Nos dias 14 e 15 de dezembro, 65 novos egressos receberam o diploma em uma cerimônia marcada pela emoção, por homenagens e gratidão. Na ocasião, o presidente da Igreja Adventista para a América do Sul, pastor Erton Köhler, que se graduou na turma de 1989, e o quarteto Arautos do Rei apresentaram mensagens especiais aos recém-formados e a seus familiares.

Marcello Brandi Cabrerizo é um dos que fizeram parte da centésima turma. O caminho até a formatura foi difícil e cheio de escolhas. Ele abriu mão de uma vida estável, levou toda a família para um lugar desconhecido, vendeu livros para se sustentar, e, no percurso, viu sua mãe descansar no Senhor. Cabrerizo tinha uma história de sucesso aos olhos do mundo: trabalhava em uma multinacional no Rio de Janeiro e frequentava lugares de alto padrão financeiro. Mesmo assim, a voz do Espírito Santo o moveu – assim como no caso do pastor Odorino – a se dedicar à pregação do evangelho em tempo integral.

O plano era iniciar o curso teológico no campus Engenheiro Coelho em 2015. No entanto, um evento feliz – o nascimento da filha – fez com que ele adiasse a entrada para o ano seguinte. Em 2016, sem tempo para se preparar para o vestibular, estava sem perspectivas. Mas, sem que esperasse, foi aprovado no processo seletivo. Chegou a Engenheiro Coelho, no interior de São Paulo, confiante no chamado divino. Após quatro anos de curso, ele comemora a realização de um sonho. “Minha grande esperança é ver Cristo voltando em nossa geração”, declara, agradecido.

REVISTA O SEMINARISTA

Como uma forma de marcar a data e registrar a história da FAT, foi produzida uma edição comemorativa de O Seminarista, primeiro jornal do seminário. Os 3,5 mil exemplares foram distribuídos durante o programa, que reuniu líderes da igreja (como o pastor Erton Köhler, na foto), funcionários da instituição e os familiares dos formandos. Foto: AICOM

A cerimônia de formatura foi um momento propício para relembrar a trajetória do seminário e a atuação de Deus. Em comemoração à 100ª turma, a Casa Publicadora Brasileira preparou, em parceria com a FAT, uma edição comemorativa de O Seminarista, periódico que surgiu por iniciativa dos alunos da primeira turma e foi impresso na gráfica da CPB no início dos anos 1920.

Por meio de vários artigos e imagens emblemáticas, o material procurou mostrar o que mais de um século de ensino representou para a comunidade adventista e a sociedade em geral. Foram destacados aspectos como a contribuição teológica da FAT e a expansão de sua produção acadêmica (que nos últimos anos tem conquistado espaço no cenário adventista internacional e fora do meio denominacional), bem como o papel que o seminário teve na formação de pastores, administradores e missionários para o Brasil e o mundo.

A revista foi entregue a todos os participantes do Culto de Ação de Graças (no dia 14) e na Colação de Grau do curso de Teologia (no dia 15).

MINISTÉRIO PARCEIRO

O ano de 2019 também foi especial para a graduação em Enfermagem, que completou meio século de existência e foi o quarto curso de ensino superior nessa área aberto na capital paulista e o primeiro numa instituição privada. Oferecido, desde o início, no campus São Paulo, o curso sempre teve o propósito de treinar pessoas para servir a Deus.

Ao longo dessas cinco décadas, o bacharelado passou por diversas mudanças estruturais e de nome: inicialmente, era chamado de Faculdade Adventista de Enfermagem (FAE). Hoje, o Unasp São Paulo colhe os frutos do bom trabalho que começou em 1969. A nota da última avaliação do MEC foi quatro, em uma escala de zero a cinco. Desde a sua fundação, o curso realiza nos entornos do campus um trabalho que é referência no bairro do Capão Redondo, Zona Sul da capital paulista. Anualmente, mais de mil pessoas da comunidade são atendidas.

Léia Araújo Bonfim sempre teve vontade de trabalhar na área da saúde. Orava muito para que a vontade de Deus fosse feita. No entanto, diversos percalços financeiros e pessoais a fizeram adiar o sonho. Em 2014, quando tudo se acertou para o início de uma graduação em Enfermagem, ela teve duas opções: cursá-la em uma universidade ­secular ou em uma instituição adventista. No momento, lembrou de suas preces. Viu no Unasp a oportunidade de ter educação de qualidade, acompanhada de uma convivência religiosa agradável.

Após quatro anos, marcados por dificuldades acadêmicas e familiares, ela se graduou na área. “Por meio do curso de Enfermagem do Unasp percebi que o trabalho do enfermeiro é a melhor porta de acesso ao coração de muitas pessoas. É possível sim servir a Deus e testemunhar de Cristo através do nosso trabalho”, ressalta.

O Unasp comemorou o aniversário do curso durante todo o ano. Uma das principais formas de fazer isso foi incentivar os alunos a ser missionários voluntários em lugares dentro do Brasil e ao redor do mundo. De acordo com a atual coordenadora do bacharelado, Vivian Zorzim, a enfermagem adventista move filhos e filhas de Deus a cuidar de seus semelhantes. Seu lema é “cuidar para salvar”. Assim, trabalha de mãos dadas com a Teologia.

LUCIANA FERREIRA é jornalista e atua como produtora e locutora da Rádio Unasp; THAMIRES MATTOS, jornalista e mestranda em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp, exerce a função de editora-chefe da agência experimental do curso de Comunicação Social no campus Engenheiro Coelho (SP)

(Matéria publicada na edição de janeiro de 2020 da Revista Adventista)

Última atualização em 15 de janeiro de 2020 por Márcio Tonetti.