Conheça a história de pioneirismo e a filosofia da revista que tem promovido o estilo de vida adventista há várias gerações
AGATHA LEMOS
Você já notou que as pessoas se interessam cada vez mais pela saúde? Ao mesmo tempo, a ciência avança trazendo novidades e confirmações sobre o estilo de vida saudável mais adequado para nossa época. Chama a atenção o fato de que muitas das recomendações da atualidade têm que ver com um retorno ao natural, à simplificação da vida e à adoção de hábitos preventivos.
Por outro lado, há sempre algumas doses de exagero aqui e ali. Se, de um lado, a prevenção se tornou uma boa aposta, de outro, a hiperprevenção tem ganhado espaço por meio do consumo de bens, serviços e produtos tecno-
científicos que prometem vida longa e saudável.
Em meio a tudo isso, o que não falta é conteúdo de saúde circulando por várias plataformas. Das páginas impressas às eletrônicas, e também nas redes sociais, as pessoas trocam informações e conselhos, nem sempre orientadas, sobre dietas, medicações, receitas culinárias e muito mais.
Sim, a saúde está no imaginário social. O problema é que isso ocorre nem sempre com responsabilidade. Como saber se a fonte da informação recebida é confiável ou se determinada pesquisa tem relevância do ponto de vista de sua abrangência e metodologia? Como identificar que determinado tema não se trata apenas de modismo?
Para quem não é especialista na área fica difícil perceber tais questões. Fica difícil também escolher em qual veículo de comunicação investir a fim de que seja possível acompanhar as notícias de saúde com segurança. Felizmente, há oito décadas a revista Vida e Saúde oferece divulgação científica com solidez.
HISTÓRICO
O periódico circula ininterruptamente no Brasil desde 1939. No entanto, a primeira tentativa de criar o veículo ocorreu 25 anos antes, quando a Casa Publicadora Brasileira lançou a Saúde e Vida. “Nessa época, a CPB, cuja sede ficava em Santo André (SP), ensaiava os primeiros passos no mercado editorial nacional. Assim, em 1914 lançou a primeira revista de saúde para o público brasileiro, durante o auge da Primeira Guerra Mundial. O primeiro número, com 16 páginas, trazia temas como os efeitos maléficos do álcool e do cigarro, orientações para portadores de tuberculose, alimentação infantil, primeiros socorros em caso de queimaduras e outros temas de prevenção”, afirma Francisco Lemos, que foi editor da revista e estudou a influência do periódico sobre os leitores em sua dissertação de mestrado apresentada em 2012.
Apesar de não haver nenhum registro oficial de que Vida e Saúde seja a primeira revista popular do Brasil sobre estilo de vida saudável, muitas evidências levam a crer que ela seja a precursora do jornalismo em saúde. “Foi só a partir da década de 1980, com a preocupação sobre o cuidado do corpo, que começaram a surgir publicações semelhantes em outras editoras”, analisa Marília Scalzo no livro Jornalismo de Revista (Editora Contexto, 2003).
Outros indícios de que a revista Vida e Saúde provavelmente seja a mais antiga do segmento vêm dos assinantes. Alguns contam que, desde muitas décadas atrás, já se interessavam por assuntos de saúde, mas não encontravam material popular de divulgação científica. É o caso do cirurgião-dentista Ângelo Roccella, de 87 anos e assinante há 62. “Em 1955, quando me tornei assinante da Vida e Saúde, esta era a única revista que trazia informação sobre prevenção, saúde e alimentação. No mercado editorial brasileiro não havia outra publicação com informação confiável sobre o estilo de vida natural” (Vida e Saúde, julho de 2013, p. 8-9).
Em períodos em que estudar não era privilégio de todos e a saúde não tinha o mesmo destaque que tem nos dias de hoje, suas orientações, até então inovadoras, chamavam a atenção das pessoas comuns. Por se tratar de um veículo que sempre buscou tornar o conhecimento acessível, a revista desde o início procurou interagir com o leitor e contextualizar as informações.
FILOSOFIA EDITORIAL
Promover a saúde por meio da reeducação dos hábitos sempre foi sua proposta. Fundamentando-se em oito remédios naturais (alimentação vegetariana, exercício físico, água, ar puro, luz solar, abstinência de substâncias nocivas e de sentimentos ruins, repouso e confiança em Deus), a revista se propõe a difundir um estilo de vida saudável e, ao mesmo tempo, simples.
Alertar a sociedade quanto aos riscos da destruição do planeta e promover atitudes que protejam pessoas, animais, rios, fontes de água, o ar e as florestas também faz parte do seu conjunto discursivo sobre medidas preventivas de saúde.
A revista Vida e Saúde parte do princípio de que a saúde é muito mais do que a ausência de doença. Antes, a saúde é um estado de bem-estar integral, em que vários fatores concorrem para esse fim.
Com base nessa filosofia, em 1939, quando a obesidade ainda não era um problema de saúde pública nacional e internacional, a revista já tratava desse assunto. No mês de setembro do referido ano, uma matéria de duas páginas convidava: “Combatamos a obesidade”.
Considerando a atualidade do tema, é no mínimo curioso o fato de a revista ter começado a explorar o assunto há 80 anos. Atualmente, a Organização Mundial de Saúde aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A projeção é que, em 2025, cerca de 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso; e mais de 700 milhões, obesos. O número de crianças com sobrepeso e obesidade no mundo pode chegar a 75 milhões, caso nada seja feito.
Ainda em 1939, no mês de maio, a revista tratou sobre o valor nutricional e até medicinal das frutas. Naquela época, ainda não conhecíamos flavonoides, fitoquímicos, antocianinas, nem antioxidantes. Reconhecia-se que a uva faz muito bem, mas desconhecia-se o resveratrol, que combate radicais livres e faz da uva um alimento nutracêutico, ou seja, que além de nutrir também age como remédio, principalmente para o coração. O mesmo se pode dizer sobre o tomate e a melancia, ricos em licopeno, outro nutracêutico que previne o câncer de próstata.
O movimento para o corpo também desde cedo ocupou as páginas da publicação. Muito antes de as academias se tornarem tão comuns do cenário urbano, a edição de novembro de 1939 apresentava uma matéria com o título: “Exercícios para pessoas de vida sedentária”. A autora da matéria dizia que a pessoa inativa envelhece rapidamente por falta de atividade física.
Outro ponto em que a revista se destaca se deve aos seus colaboradores. Textos e reportagens são assinados por especialistas, mestres e doutores em saúde. Em janeiro de 2015, a revista passou por uma atualização gráfica e apresentou novidades editoriais, como as seções Pediatria, Sexualidade, Corpo Humano e Beleza Saudável. Além disso, a seção de receitas passou a ter caráter educativo, com dicas de um chef, e houve uma aproximação maior do leitor, inclusive pela presença da revista nas redes sociais e com a criação do site revistavidaesaude.com.br. “Quando assumi a revista, há quatro anos, o grande desafio foi tornar ainda melhor um produto que já era muito bom e que tem uma rica tradição no Brasil”, declara Michelson Borges, editor do periódico.
Reconhecendo seu legado octogenário, em março a Câmara Municipal de Tatuí, cidade em que está localizada a editora que produz e imprime o material, aprovou uma moção de aplauso e congratulações à equipe do periódico, “pelo seu bilhante serviço de informar, instruir e trabalhar para a construção de uma mentalidade brasileira pró-saúde”.
AGATHA LEMOS é jornalista, mestre em Ciência e editora associada de Vida e Saúde
(Matéria publicada originalmente na edição de maio de 2019 da Revista Adventista)
Última atualização em 30 de maio de 2019 por Márcio Tonetti.