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Ministério Adventista das Possibilidades tem se fortalecido e tornado as congregações mais inclusivas

Vanessa Moraes

Realizado on-line nos dias 3 e 4 de dezembro, o Encontro de Pessoas com Deficiência Física e Mobilidade Reduzida registrou 200 inscritos e recebeu 12 convidados para falar sobre o tema.

A vida conjugal do baiano José Pereira da Silva Filho e da paranaense Sabrina Dolores Duono começou numa casinha pequena, no fundo de um quintal na capital paulista. Mas, com o passar do tempo, o casal sentiu a necessidade de um espaço maior para viver. Ao procurar uma casa para alugar, encontraram um local que poderiam chamar de lar. Contudo, quando o locatário descobriu que ambos eram deficientes visuais, impôs condições que inviabilizavam o fechamento do contrato. Foi preciso recorrer a um advogado para que a locação se tornasse possível.

Eles moraram nessa casa alugada por cerca de três anos. Curiosamente, quando avisaram que deixariam aquele imóvel, os proprietários disseram que gostariam que o casal permanecesse lá por mais tempo. A convivência havia quebrado a barreira do preconceito.

Hoje, aos 50 anos de idade, José, que perdeu 98% da visão por causa de uma doença degenerativa, conta que se mudou para São Paulo em 2008 em busca de recursos que o ajudassem a viver melhor com a deficiência visual. A pequena cidade baiana em que morava não oferecia cursos de braile, nem de informática para cegos.

Também foi na maior cidade brasileira que ele se reconectou com o adventismo, denominação na qual havia sido batizado aos 22 anos de idade. “Quando comprei um apartamento, soube que havia uma igreja adventista perto e comecei a frequentá-la. Em 2017, também conheci um grupo de adventistas que planejavam estabelecer um ministério que abraçaria as pessoas com deficiência. Hoje sou um líder nesse ministério e atuo através dele para alcançar outras pessoas”, relata. José coordena o Pequeno Grupo Visão Real na Igreja Adventista do Belém, em São Paulo.

Iniciativas como essa contribuíram para que, nos últimos anos, a Igreja Adventista estabelecesse um ministério oficial voltado para as pessoas com necessidades especiais. A educadora Roberta Moretti, que acumula mais de três décadas de experiência na área de educação especial e inclusão e se especializou em orientação e mobilidade de deficientes visuais, também tem apoiado esse trabalho. Por exemplo, ela coordena o Ministério Adventista das Possibilidades (MAP) na Igreja do Belém, além de ser conselheira do MAP para a sede administrativa da igreja na América do Sul e membro da chamada “Task Force for the Blind”, grupo ligado à sede mundial adventista responsável por elaborar ações para o Ministério Adventista de Cegos e Baixa Visão.

Na Igreja do Belém, na capital paulista, o Ministério Adventista das Possibilidades envolve cerca de 40 pessoas. Foto: MAP

Roberta conta que o MAP local, que retomou as atividades presenciais recentemente, realiza encontros mensais do pequeno grupo, prepara a igreja e a comunidade para se tornarem cada vez mais acolhedoras e inclusivas, oferece atendimento individual para criar vínculos e gerar confiança e busca parcerias com órgãos públicos, universidades e outras instituições para desenvolver projetos.

MUDANÇA DE NOME

Apesar de ter sido oficializado há cerca de dois anos, o Ministério Adventista das Possibilidades já existe há mais tempo. Porém, tinha outro nome: Ministério das Necessidades Especiais. De acordo com o líder sul-americano dessa pasta, pastor Alacy Barbosa, já existiam iniciativas isoladas voltadas aos surdos, cegos e outros grupos. Porém, o MAP surgiu com o objetivo de consolidar a compreensão de que todos são chamados para servir.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, divulgada em agosto do ano passado, 8,4% da população brasileria (o que corresponde a 17,3 milhões de pessoas) têm algum tipo de deficiência, seja visual, auditiva, motora ou intelectual. O levantamento feito pelo IBGE, em parceria com o Ministério da Saúde, mostrou que 14,4 milhões viviam em domicílios urbanos e 2,9 milhões em residências rurais. Além disso, foi constatado que uma em cada quatro tinha mais de 60 anos.

Além de olhar para essa camada expressiva da população, o MAP também se propõe a alcançar outros grupos que se sentem excluídos pela sociedade. Por isso, o ministério abrange sete áreas: cegos e pessoas com baixa visão; deficiêntes físicos e com mobilidade reduzida; pessoas com transtornos, síndromes, deficiência intelectual e paralisia cerebral; enlutados; órfãos e crianças em situação de vulnerabilidade social; e cuidadores.

“Não se trata de um ministério independente. É um movimento que deve permear todos os departamentos da igreja. A intenção é trabalhar a inclusão e o envolvimento desses grupos nas atividades e programações, de forma que todos possam participar. As igrejas devem ser conscientizadas e sensibilizadas a criar um olhar inclusivo”, Alacy frisa.

NOVIDADES

Para 2022, está prevista a inclusão do Ministério das Possibilidades no Manual da Igreja Adventista. E a ideia é que cada igreja local defina um líder para cuidar dessa área.

O MAP já funciona em diversos locais do Brasil e da América do Sul. Em junho de 2021, por exemplo, a sede administrativa da igreja na região sul do Rio de Janeiro lançou oficialmente o MAP por meio de uma live. O mesmo ocorreu na União Central Brasileira em novembro, embora nas regiões leste e norte da capital paulista esse ministério já funcione há dois anos. Segundo o pastor Alacy, o plano é motivar cada sede administrativa da Igreja Adventista a formar equipes de voluntários que possam realizar treinamentos e capacitar as igrejas locais não só no aspecto técnico, mas no olhar de amor e respeito a todas as pessoas.

EVENTOS

Foi para promover ainda mais a importância do MAP e a urgência da criação desse ministério nas igrejas locais que, nos dias 3 e 4 de dezembro, a Divisão Sul-Americana promoveu o Encontro de Pessoas com ­Deficiência Física e Mobilidade Reduzida. O encontro on-line trouxe informações, dicas e orientações sobre a vida de pessoas com deficiência e como acolhê-las no mercado de trabalho, na igreja e no ambiente social. O evento foi transmitido ao vivo por meio do canal Adventistas Brasil, no YouTube, e está disponível para quem quiser assistir aqui. A programação contou com a participação da secretária da pasta de Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, Célia Leão (que ficou paraplégica aos 19 anos em decorrência de um acidente automobilístico), de especialistas na área e de líderes e conselheiros do MAP.

“Esse encontro pioneiro mostra a preocupação da igreja em abraçar as pessoas com deficiência física e todos os grupos que o MAP abrange. Nosso objetivo é incluí-las em todas as atividades da igreja, a fim de que elas percebam que também são parte da missão bíblica de salvação e descubram que, a despeito das circunstâncias, possuem inúmeras possibilidades para trabalhar para Deus”, ressalta o pastor Alacy Barbosa.

Depois do evento sobre pessoas com deficiência física, a Divisão Sul-
Americana também promoveu um encontro para discutir a deficiência intelectual. Transmitido nos dias 18 e 19 de dezembro, o 3º Webinar Internacional sobre Autismo, Down e Paralisia Cerebral convidou educadores, médicos, pastores e pesquisadores da área para abordar o tema.

VANESSA MORAES é jornalista e trabalha como assessora de comunicação da Associação Paulista Leste, em São Paulo (SP)

(Matéria publicada na edição de janeiro de 2022 da Revista Adventista)

Última atualização em 19 de janeiro de 2022 por Márcio Tonetti.