Mas é preciso formar uma nova geração de leitores, diz coordenador da editoria de livros da CPB
Camila Torres
Em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional do Brasil, em 1810, a data 29 de outubro foi instituída como Dia Nacional do Livro. Na entrevista a seguir, convidamos o pastor Diogo Cavalcanti, editor de livros denominacionais da CPB, para conversar sobre as mudanças no mercado editorial, as crises das livrarias e os desafios da editora para a próxima geração de leitores. Editor na CPB há 13 anos, Cavalcanti discorre também sobre a rotina e os frutos desse trabalho minucioso.
Como é o trabalho de um editor de livros?
Resumidamente, o editor seleciona materiais para publicação e, em alguns casos, a seleção acontece em conjunto com outros profissionais. Esse profissional é responsável por tomar o material desde o início em que ele é concebido e transformar a ideia original do autor em um livro. Existem as etapas de ajuste do texto na parte gramatical, linguagem, estilo, a consistência das informações, entre outros requisitos.
Como está o mercado editorial no Brasil e no mundo?
Acho importante destacar que muita gente confunde o universo dos livros com o das revistas e dos jornais, e há uma grande distinção entre eles. No mundo das revistas e dos jornais está acontecendo uma grande transformação, as pessoas estão deixando de assinar revistas e jornais impressos e partindo para o on-line, porque essas são informações de consumo rápido. Por outro lado, a área dos livros não está tendo essa queda tão grande. Lógico, ocorreram mudanças, surgiu o livro digital, mas as pessoas continuam buscando especialmente o livro impresso. No Brasil, o livro impresso responde por 99% das compras. Ou seja, os e-books representam apenas 1% das vendas.
E a crise das livrarias?
Penso que, ao transformar a livraria num shopping, o consumidor entra numa selva de livros e se perde. É uma crise das livrarias, não uma crise das editoras. Sempre tem editoras que estão ganhando e que estão perdendo. A questão das livrarias é que muitas apostaram em megalojas, em que o consumidor entra e vê centenas, milhares de livros em volta dele e muitas vezes tem uma sensação de vertigem, porque ele não sabe nem por onde começar a olhar. O leitor perde a noção de prioridade, ele precisa saber que livro é importante para os interesses dele.
Os livros religiosos continuam em alta. Como você interpreta esse fenômeno?
É interessante falar do mercado geral e falar do mercado da Casa Publicadora Brasileira. Fazemos parte da estatística que mostra que os livros não caíram tanto. Há um interesse das pessoas, mesmo em tempos de crise, em buscar informações espirituais. A crise é uma motivação para as pessoas lerem mais, buscarem saídas, entenderem o mundo em que elas estão vivendo. E eu creio que os livros ajudam as pessoas a enfrentarem as crises.
Pensando na nova geração de leitores, como a CPB tem se preparado para atender as novas formas de consumo?
Um dos nossos lançamentos para 2020 é o Devocional Teen. Estamos torcendo e orando para que essa meditação conquiste o coração dos adolescentes, mas eu acho que muito adulto vai querer comprar também – eu mesmo comprei dois. É um projeto muito ousado, com ilustrações personalizadas em cada página. Com certeza ele é um dos projetos mais diferentes da CPB. Esse tipo de iniciativa vai estimular mais os adolescentes a lerem. Essa é para mim a maior preocupação. Para os nativos digitais – e eu já colocaria como nativos de smartphone-, o grande desafio é tirar a pessoa do celular, porque você tem configurada uma questão de saúde. Muitos não percebem que têm uma dependência do celular. Isso não é uma questão de costume nem de cultura, mas uma questão de saúde. Muitos jovens e muitos pais não percebem isso e acabam liberando o smartphone. O grande desafio das editoras é levar a nova geração a pegar um livro e ler.
Você pode compartilhar alguma experiência pessoal envolvendo esse tema?
Eu escrevi o livro Promessa Cumprida, que fala sobre a fundação da Igreja Adventista na cidade de Aparecida, interior de São Paulo, coração do catolicismo no Brasil. É a história do pastor Luís Gonçalves, que chegou lá em 1992. Esse trabalho foi fruto de um livro-reportagem que eu escrevi como trabalho de conclusão de curso. Têm sido uma satisfação ouvir os leitores comentarem sobre o quanto esse relato se assemelha àqueles dos tempos bíblicos: o missionário chegando à cidade e pregando onde não tinha nenhum adventista, e Deus guiando miraculosamente a vida dele ali. Conheci os personagens citados no livro e, a cada dia, conheço mais pessoas que entram em contato comigo. Então, o livro é uma história viva. Tem sido uma experiência recompensadora ver as páginas deste e de outros materiais que produzimos transformando a vida das pessoas.
Última atualização em 7 de novembro de 2019 por Márcio Tonetti.