Quando o tempo com Deus deixa de ser mais uma tarefa
Callie Buruchara

Nos últimos 14 anos, meus momentos devocionais têm sido a parte mais desafiadora da minha caminhada com Cristo, apesar de eu ter experimentado diversos métodos, testado horários variados, realizado diferentes atividades e utilizado traduções distintas da Bíblia.
No início, tinha dificuldades porque acreditava que o amor de Deus por mim diminuía e só era liberado conforme eu passasse tempo com Ele. Uma hora devocional significava que o Senhor estaria satisfeito comigo e, talvez, até me abençoasse. No entanto, se o tempo fosse reduzido a 15 minutos, ou, pior ainda, a nada, eu acreditava que teria que suportar o castigo divino e a perda do direito de me aproximar Dele naquele dia.
Felizmente, o Espírito Santo me convenceu de que o amor de Jesus por mim é tão constante quanto o Seu caráter. Não tenho poder suficiente para alterar esse amor com base no que faço ou deixo de fazer.
Tentativas frustradas
Então, surgiu um novo problema: Como posso ter a melhor vida devocional possível? Sou uma primogênita clássica: perfeccionista do tipo A. Para complicar ainda mais, como engenheira de software, minha vida profissional é dedicada a encontrar soluções ideais, tornar processos mais eficientes e resolver problemas rapidamente. Meu cérebro está programado para identificar padrões, criar sistemas e otimizar tudo.
Naturalmente, tratei meu relacionamento com Deus da mesma forma. Houve até mesmo um breve período em que acreditei ter descoberto a fórmula perfeita. Eu tinha um sistema: logo ao acordar, lia a Bíblia; orava enquanto dirigia para o trabalho; e ouvia sermões enquanto estava na academia. Além disso, mantinha um diário de oração de bolso, no qual registrava as preces respondidas, apenas para me convencer de que estava fazendo tudo da maneira certa.
Passei muito tempo tentando descobrir a equação devocional perfeita. Seriam 30 minutos de estudo da Bíblia? Uma hora? Devo me dedicar a uma única passagem ou ler narrativas mais amplas? Devo orar antes ou depois do estudo? Por quanto tempo? E quanto à música? Devo cantá-la ou apenas ouvi-la? Será que fazer uma caminhada na natureza ajuda ou acaba me distraindo?
Pensei que, se conseguisse encontrar a configuração ideal, poderia replicá-la todos os dias sem esforço, como um algoritmo espiritual que, uma vez aperfeiçoado, funcionaria automaticamente. Mas isso não deu certo.
Quanto mais eu tentava otimizar meu tempo com o Senhor, mais vazia me sentia. Era como tentar ter uma conversa profunda enquanto se verifica constantemente a hora. Tecnicamente presente, mas, na realidade, ausente. Estava mais concentrada no processo do que em Deus.
Esses dias me surpreendi fazendo isso novamente. Sentei-me para orar com a Bíblia aberta no colo, mas minha mente já corria para todas as tarefas que me aguardavam. Inconscientemente, comecei a cronometrar minha oração, como se Deus e eu estivéssemos em uma reunião de trabalho, com uma pausa obrigatória às 7h30. Eu não tinha tempo para estar ali, apenas para fingir que estava.
Ellen White captou essa tendência com uma precisão assustadora: “Muitos, mesmo nas horas de devoção, deixam de receber a bênção da comunhão real com Deus. Estão com muita pressa. Com passos apressados, entram na adorável presença de Cristo e ficam ali, no lugar sagrado, talvez por um momento, mas não esperam Seu conselho. Não têm tempo de permanecer com o Mestre divino. E, com seus fardos, eles voltam a suas atividades” (Educação [CPB, 2021], p. 185).
Esta última linha me faz parar toda vez que a leio: “Com seus fardos, eles voltam a suas atividades.” Isso acontece com você também? Levar suas ansiedades, seus medos, suas decisões para Jesus, apenas para pegá-los novamente em sua pressa de passar para a próxima tarefa? Talvez tenhamos todos os elementos certos em nossa experiência devocional. Mas nossa pressa e desatenção os tornam vazios e sem sentido.
Deus relacional
Eis o que estou aprendendo: Deus não me ama menos quando estou com pressa. Seu amor não depende de quanto tempo eu oro ou de quantos capítulos da Bíblia leio. O problema não é que Ele retira Seu amor quando estou apressada, mas que me torno menos consciente de que Seu amor está sempre presente.
É como estar sentado em uma sala com as cortinas fechadas. O Sol não deixa de brilhar porque não podemos vê-lo. Mas quanto vamos sentir de seu calor e sua luz depende inteiramente de dedicarmos tempo para abrir as cortinas. Essa talvez seja a lição mais difícil de aprender para alguém como eu: Deus não é um lugar para ser bem-sucedido. Ele não é um projeto a ser otimizado. Ele não é um hábito a ser aprimorado. Ele é uma Pessoa com quem devemos ter um relacionamento.
DEUS NOS CONVIDA A CONHECÊ-LO, NÃO APENAS A SABER MAIS SOBRE ELE
Ellen White continuou: “Uma agitação nunca antes vista está tomando conta do mundo. Nos divertimentos, no ganhar dinheiro, na briga pelo poder, na própria luta pela existência, há uma força terrível que absorve o corpo, a mente e a alma” (Educação, p. 185).
Sinto essa força todos os dias. Provavelmente você também sinta. Seja você um estudante em Manila tentando equilibrar os estudos e a fé, uma mãe em São Paulo fazendo malabarismos com os filhos e o tempo de oração, ou um empresário em Nova York tentando manter as prioridades espirituais, essa “força terrível” puxa todos nós.
Em nossa era digital, nos acostumamos a respostas instantâneas, soluções imediatas e otimização constante. Tratamos nossa vida espiritual como aplicativos que precisam ser atualizados, sempre buscando o próximo recurso, a próxima melhoria, ou a próxima versão. Mas os relacionamentos não funcionam dessa forma. Nunca funcionaram!
O custo nem sempre é óbvio no início. Mas, com o passar do tempo, a pressa em nossa comunhão com Deus deixa marcas: o endurecimento sutil do coração, a dificuldade cada vez maior em ouvir Sua voz e o cansaço que o sono parece não resolver.
A força de Deus não diminui quando passamos correndo por Ele. Sua sabedoria não desaparece. Sua paz não se enfraquece. Mas nosso acesso a essas dádivas, nossa consciência de Sua presença e nossa capacidade de recebê-las se tornam dramaticamente limitados pela nossa pressa. No entanto, o Senhor nunca está com pressa.
Novo paradigma
O Criador do Universo, Aquele que mantém todas as coisas unidas, que orquestra os movimentos das galáxias e sabe quando um pardal cai, nunca está apressado.
Não há registro de que Jesus tenha corrido durante Seu ministério terrestre. Ele tinha apenas três anos e meio para cumprir todas as profecias, atender às inúmeras necessidades ao Seu redor e capacitar uma dúzia de discípulos para dar continuidade à Sua obra. Mesmo assim, sempre reservava tempo para observar as pessoas, parar para conversar e permitir-Se ser interrompido.
Esse não é apenas um detalhe interessante sobre a personalidade de Jesus, mas uma revelação profunda sobre a natureza divina. Sua presença tranquila é um convite para nós, não para conquistarmos Seu amor por meio de longos devocionais, mas para desacelerarmos o suficiente a fim de perceber que Seu amor já nos pertence.
Não vou oferecer um plano de cinco passos para melhorar seus devocionais. Já experimentei muitas dessas estratégias para saber que elas não são a resposta. A própria ideia de “melhorar” os devocionais revela o quanto ainda estamos presos à lógica do desempenho, em vez de buscarmos a presença.
TALVEZ TENHAMOS OS ELEMENTOS CERTOS EM NOSSA EXPERIÊNCIA DEVOCIONAL. MAS NOSSA PRESSA E DESATENÇÃO OS TORNAM VAZIOS E SEM SENTIDO
Em vez disso, há uma verdade que tem transformado minha vida aos poucos: não ter pressa com Deus não se trata de gerenciamento de tempo, mas de confiança.
Quando me apresso em meu tempo com Deus é porque, no fundo, não acredito que Ele possa multiplicar meu tempo. Não confio que permanecer em silêncio diante Dele tornará o restante do meu dia mais fácil de administrar. Meu perfeccionismo sussurra que, se eu não estiver sempre em movimento, produzindo e otimizando, tudo acabará desmoronando. O salmista nos indica um caminho diferente: “Aquietem-se e saibam que Eu sou Deus” (Sl 46:10).
Observe que a quietude precede o conhecimento, não como uma sugestão, mas como um pré-requisito. Esse é mais um motivo pelo qual o sábado é, para mim, o dia mais desafiador e ao mesmo tempo mais belo da semana: somos ordenados a descansar e permitir que nosso Pai nos lembre de que Ele é Deus e nós, feitura de Suas mãos.
Então, experimentei algo diferente. Em vez de marcar o tempo do meu devocional com um cronômetro, simplesmente sentei-me com minha Bíblia em mãos e disse a Deus: “Estou aqui pelo tempo que for necessário”.
Foi uma sensação desconfortável. Minha mente insistia em se voltar para minha lista de tarefas, os prazos iminentes e todos os motivos pelos quais eu não poderia me dar ao luxo de ficar ali “sem fazer nada”. Tudo em mim desejava transformar aquele momento em mais um exercício de produtividade: medir, otimizar e sistematizar meu tempo com Deus. Mas eu fiquei.
Nesse espaço sem pressa, algo mudou. As palavras das Escrituras começaram a ganhar profundidade. Minhas orações deixaram de parecer uma recitação e se transformaram em uma conversa. O silêncio entre as palavras tornou-se menos incômodo.
Não me tornei mais espiritual de repente. Deus não Se fez mais presente de maneira inesperada. Mas, na quietude, percebi que Seu amor é constante, Sua força, sempre disponível, e Sua presença, imutável.
É verdade que minha nova atitude não corrigiu de imediato minha tendência à pressa, mas ela me lembrou do que é possível quando escolhemos nos aquietar na presença de Deus.
Lógica divina
Talvez você também esteja farto de devocionais apressados. Cansado de carregar seus fardos de volta ao trabalho, de passar pelo círculo da presença amorosa de Cristo sem realmente parar para receber Seus conselhos.
O Senhor não está exigindo que nós dediquemos ao momento devocional um tempo enorme todos os dias. Ele não nos pede que aperfeiçoemos nossa rotina de estudo ou encontremos o algoritmo espiritual ideal. Ele espera que estejamos totalmente presentes no tempo que temos, que confiemos Nele o suficiente para nos aquietarmos e O aguardarmos, mesmo quando tudo em nós quiser nos apressar.
Deus nos convida a conhecê-Lo, não apenas a saber mais sobre Ele. E isso exige tempo: tempo sem pressa, agitação, ou a necessidade de otimizar. O mundo continuará girando em seu ritmo frenético, mas cabe a nós escolher se queremos acompanhar sua velocidade.
Ele não Se impressiona com nosso sucesso, mas é tocado por nossa dependência. Todas as minhas tentativas de otimizar meu tempo com Deus eram, de fato, esforços para manter o controle e preservar minha independência. No entanto, a verdadeira comunhão acontece nos espaços vulneráveis, nos quais finalmente admitimos que não podemos otimizar nosso caminho para a intimidade com o Senhor.
Há uma ironia que estou começando a entender: quanto mais tento apressar meu tempo com Deus para chegar ao “trabalho real”, menos eficaz me torno. Percebi que, nos dias em que realmente desacelero com Ele, minha mente fica mais clara, minhas decisões mais sábias e meu trabalho flui com mais naturalidade. Não porque eu tenha recebido uma bênção especial, mas porque finalmente me coloquei na posição de receber o que o Senhor tem oferecido o tempo todo.
A lógica não faz sentido no papel: Como passar mais tempo em quietude pode resultar em um dia mais produtivo? Mas este é exatamente o ponto: a economia divina opera de maneiras que desafiam nossos cálculos humanos. O Senhor multiplica aquilo que entregamos, especialmente nosso tempo.
Talvez este seja o verdadeiro convite: abandonar a ilusão de controle e parar de tentar conquistar o que já nos é dado gratuitamente. Diminuir o ritmo é, em si, uma confissão de que não estamos realmente no comando de tudo – Ele está. Nossos devocionais apressados revelam mais sobre nossas dificuldades em confiar do que sobre nossas habilidades de gerenciar o tempo. Às vezes, é exatamente nesse espaço desconfortável, entre nosso impulso de fazer e o chamado divino para simplesmente estar, que o Senhor deseje nos encontrar.
Deus está falando em meio a toda essa correria enlouquecedora. Ele convida a nos retirarmos e a comungarmos com Ele. Não para merecer Seu amor; esse já é nosso. Não para receber Sua força; ela já está disponível. Mas para nos conscientizarmos dessas verdades de uma forma que transforme nossa maneira de viver. O Senhor não está com pressa. Nunca esteve. Ele está apenas esperando você e eu.
Callie Buruchara é engenheira de software e mora em New Market, na Virgínia (EUA)
(Artigo publicado na edição de janeiro/2025 da Revista Adventista / Adventist World)
Última atualização em 28 de janeiro de 2025 por Márcio Tonetti.