O décimo mandamento

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A cobiça se transformou em um pecado cada vez mais esquecido

Imagem: Adobe Stock

Você já percebeu como o espírito de descontentamento está generalizado? Muitos estão buscando desesperadamente aquilo que finalmente satisfará seus desejos e suas vontades, mas descobrem que quanto mais têm e adquirem, mais querem.

Grande parte do conflito no mundo gira em torno de pessoas que se apegam egoisticamente à riqueza, à posição e ao poder. Por sermos seres humanos caídos, somos inclinados ao egoísmo, em contraste direto com o caráter perfeito e altruísta de Deus. O pecado e o egoísmo andam de mãos dadas. Em alguns círculos, entretanto, a palavra “pecado” não mais é ouvida. Alguns preferem não falar dele, preferindo se concentrar apenas em mensagens positivas.

A Bíblia, por sua vez, tem muito a dizer sobre o pecado, inclusive nos Dez Mandamentos. Entre eles está o décimo mandamento que, cada vez mais, é negligenciado. É o que trata do pecado da cobiça (Êx 20:17). De fato, se você perguntasse às pessoas na rua o que é cobiça, imagino que muitos nem sequer saberiam o significado da palavra. Em termos simples, a cobiça envolve o desejo egoísta e desmedido por aquilo que os outros possuem.

Infelizmente, muito do que está ao nosso redor foi concebido para nos fazer desejar exatamente desta maneira: sentir vazio e anseio por aquilo que não temos e, às vezes, desejar especificamente o que pertence aos outros. Desde as formas mais tradicionais de publicidade até os algoritmos das mídias sociais, somos bombardeados incessantemente com mensagens que estimulam nosso cérebro a ficar insatisfeito e desejar muitas coisas das quais não temos necessidade ou das quais não faremos bom uso.

Por outro lado, Paulo deu o exemplo de como “viver contente em toda e qualquer situação” (Fp 4:11). Nesse contexto, ele escreveu: “Tudo posso Naquele que me fortalece” (v. 13). Contudo, sendo bem honestos, não são necessárias campanhas publicitárias inteligentes ou algoritmos de mídia social para nos fazer cobiçar. Somos muito bons nisso!

SOMOS BOMBARDEADOS INCESSANTEMENTE COM MENSAGENS QUE ESTIMULAM NOSSO CÉREBRO A FICAR INSATISFEITO E DESEJAR MUITAS COISAS DAS QUAIS NÃO TEMOS NECESSIDADE OU DAS QUAIS NÃO FAREMOS BOM USO

A cobiça, de muitas maneiras, é o pecado esquecido dos nossos dias. Talvez isso nem seja surpresa, já que está tão intimamente ligado à origem do pecado, quando Satanás caiu, concentrando-se em seu orgulho e buscando ser exaltado até mesmo sobre o trono de Deus. Jesus, porém, fez exatamente o oposto. Em contraste direto com o diabo, Ele humilhou-Se, tornando-Se humano e morrendo por nós (Fp 2:5-8).

Um dos principais objetivos da ênfase que as Escrituras dão ao pecado é a promessa de que podemos ter vitória por intermédio de Cristo e que, finalmente, por meio da Sua obra, todo pecado, sofrimento e morte serão erradicados. Se depositarmos nossa fé em Jesus, descobriremos que nossos anseios mais profundos, aos quais nada no mundo pode satisfazer plenamente, serão satisfeitos para sempre em Seu reino vindouro. E, mesmo agora, podemos encontrar Nele o contentamento e a paz que excedem todo entendimento (Fp 4:7).

Enquanto aguardamos, oremos intencional e continuamente para que Deus mude nosso coração, a fim de que nos afastemos do egoísmo e passemos a amar altruisticamente, seguindo o exemplo máximo de amor altruísta dado por Jesus, o Autor e Consumador de nossa fé (Hb 12:2), que nos amou e Se entregou por nós (Ef 5:2). 

JOHN PECKHAM é editor associado da Adventist World e professor de teologia e filosofia cristã na Universidade Andrews (EUA)

(Texto publicado na Revista Adventista de maio/2024)

Última atualização em 27 de maio de 2024 por Márcio Tonetti.