Pesquisadores investigam rastros de dinossauros na Bolívia
Michelson Borges

Nos dias 4 a 7 de setembro, a cidade de Cochabamba e o Parque Nacional Torotoro, na Bolívia, sediaram o 5o Encontro Sul-Americano de Fé e Ciência, organizado pelo Departamento de Educação da Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista e pela Universidade Adventista da Bolívia (UAB). O evento reuniu mais de 70 pesquisadores de oito países da América do Sul, que tiveram a oportunidade de assistir a palestras e workshops com especialistas, além de realizar pesquisas de campo no maior registro de pegadas de dinossauros do mundo.
Segundo Francislê Neri de Souza, diretor do Geoscience Research Institute (GRI) na DSA, “em um mundo em que o naturalismo predomina, encontros como este fortalecem as convicções dos participantes e oferecem ferramentas científicas para que estudantes e pesquisadores possam defender a visão bíblica das origens”.
Além de investigar e divulgar a filosofia adventista sobre as origens, o GRIDSA tem oferecido capacitações em locais geologicamente relevantes, como as Ilhas Galápagos, no Equador (2016 e 2020), a Chapada do Araripe, no Brasil (2019), e o deserto de Ocucaje, no Peru (2022). A escolha desses locais é baseada nas áreas de interesse das pesquisas do GRI, com o objetivo de reforçar o estudo das ciências das origens e sua relação com a fé.
Evidências de inundação
Um dos momentos mais marcantes do encontro na Bolívia foi a expedição ao Parque Nacional Torotoro, onde existem mais de 20 mil pegadas de dinossauros documentadas. Liderada pelo
Dr. Raúl Esperante, membro do GRI na Califórnia (EUA), a expedição permitiu que os participantes estudassem as pegadas fossilizadas, que remontam aos períodos Triássico, Jurássico e Cretáceo. Esperante e sua equipe têm pesquisado a área desde 2019, o que resultou em diversas publicações científicas internacionais. Como consequência, o governo boliviano pretende fomentar o turismo na região.
As pegadas encontradas em Torotoro, principalmente de dinossauros terópodes, juntamente com rastros de aves e marcas de natação, sugerem uma interação entre dinossauros e ambientes inundados, levantando questões sobre como esses animais sobreviveram em diferentes ecossistemas. A ausência de fósseis de dinossauros na região também pode indicar que os milhares de espécimes estivessem migrando ou fugindo de uma inundação.


Um dos momentos mais marcantes do encontro na Bolívia foi a expedição ao Parque Nacional Torotoro, onde existem mais de 20 mil pegadas de dinossauros documentadas. Fotos: Cortesia do autor
Lançamento de livro
Durante o encontro, foi lançado o livro Contribuições Para o Ensino do Criacionismo, organizado pelo GRI-DSA. Com 20 capítulos escritos por 28 autores, a obra é voltada para professores e pesquisadores da rede educacional adventista, oferecendo estratégias didáticas para o ensino do criacionismo.
Além das palestras e workshops, o evento contou com a presença de figuras importantes, como Ronald Nalin, diretor mundial do GRI. “Eventos como este ajudam a fortalecer a pesquisa acadêmica em instituições adventistas, promovendo um ambiente no qual ciência e fé se complementam na busca por respostas sobre as origens da vida.”
Por sua vez, o professor e pastor Antônio Marcos Alves, líder de Educação da DSA, afirma que o modelo bíblico criacionista é a pedra angular da Igreja Adventista e, portanto, também da Educação Adventista. “Queremos fortalecer nossa identidade, com profundidade teológica e científica”, sublinha.
Desafios e avanços
Um dos maiores desafios enfrentados pela rede educacional na América do Sul é equilibrar o ensino do evolucionismo, obrigatório nos currículos nacionais, com o criacionismo. Alves defende que “os alunos precisam conhecer os argumentos e as limitações do evolucionismo, para desenvolverem um pensamento crítico que os capacite a avaliar os dados com base na fé cristã”.
Para suprir as lacunas conceituais no ensino das origens, o GRI desenvolveu a Escala de Percepção Sobre Ciências das Origens (Epsco), que diagnostica o conhecimento dos estudantes e sugere melhorias na didática do criacionismo.
O 5o Encontro Sul-Americano de Fé e Ciência destacou a importância de espaços em que ciência e religião podem se encontrar de forma harmoniosa. As pesquisas em Torotoro continuam a ampliar a compreensão do passado da Terra, ao mesmo tempo em que reafirmam a crença na criação divina. Além disso, o evento proporcionou uma plataforma para que os pesquisadores de diferentes países compartilhassem experiências, fomentando uma comunidade acadêmica comprometida com a integração entre ciência e fé.
Para Adolfo Suarez, reitor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (Salt), um evento como esse permite que os cientistas se reúnam para discutir temas de interesse da Igreja Adventista, além de possibilitar o compartilhamento de novas pesquisas, bibliografias e projetos que cada instituição está realizando. “Também é um momento muito importante para ‘acertar os ponteiros do relógio identitário’ no que diz respeito à filosofia das origens”, ressalta.
Ele acrescenta que um dos principais desafios atuais é trazer o tema à sala de aula com três componentes essenciais: profundidade, clareza e compreensão para as diversas faixas etárias. Afinal, como tornar o criacionismo mais evidente e tornar a igreja mais consciente de que essa bandeira é estratégica? Para tanto, segundo o pastor Suárez, é necessário investir na produção de materiais em áudio (podcasts) e vídeo (documentários e filmes), pois as novas gerações, especialmente, preferem aprender sobre o tema usando mídias mais dinâmicas e interativas. “Outro passo importante é criar ou fortalecer ministérios de apoio aos jovens universitários que estudam em instituições não cristãs, a fim de ajudá-los a enfrentar os desafios de uma formação universitária secular. “Essa é uma questão essencial, pois está relacionada à salvação de nossos jovens”, ele sublinha.
O boliviano Luís Eduardo Paniagua Terzo, que está cursando a graduação em Ciências Biológicas no Unasp, campus São Paulo, voltou à sua terra natal para acompanhar o evento. Além do contato com outros pesquisadores, ele superou suas expectativas em relação ao trabalho com pegadas de dinossauros. “Como líder de um grupo de pesquisas, fiquei muito feliz ao ver o interesse que os participantes demonstraram na atividade e todas as perguntas que fizeram”, ressalta.
Para Maura Brandão, doutora em Ciências e apresentadora do quadro “Observatório das Origens”, no YouTube, participar do 5o Encontro de Fé e Ciência foi uma experiência única. “Aprender na prática como são feitas as investigações das pegadas de dinossauros foi muito enriquecedor e edificante, além de reforçar ainda mais princípios importantes da cosmovisão criacionista”, conclui.
Em 2026, a Universidade Adventista do Chile será sede do próximo encontro, que terá foco na astronomia e suas implicações para o estudo das origens.
MICHELSON BORGES é editor na CPB
(Reportagem publicada na Revista Adventista de novembro/2024)
Última atualização em 24 de outubro de 2024 por Márcio Tonetti.