Fatos surpreendentes sobre o nascimento da obra editorial adventista
Beth Thomas
Quando os pioneiros adventistas começaram a descobrir verdades bíblicas, como a obra de Jesus no santuário celestial e o sábado do sétimo dia, eles se reuniam frequentemente para estudar e orar juntos. Ficaram fortemente impressionados com a necessidade de compartilhar essas informações com outras pessoas. Mas, como? Foi durante uma série de conferências, especificamente relacionadas ao sábado, que surgiu uma solução inesperada.
“Logo depois de realizada a quinta dessas conferências sobre o sábado, em 1848, celebrou-se outra reunião no lar de Otis Nichols, em Dorchester (próximo a Boston), Massachusetts. Os irmãos estavam estudando e orando acerca de sua responsabilidade de disseminar a luz que o Senhor fizera incidir em sua vereda. Ao estudarem, Ellen White foi tomada em visão, e nessa revelação foi-lhe mostrado o dever de publicar essa luz. Ela conta o incidente: ‘Depois da visão, eu disse ao meu esposo: Tenho uma mensagem para você. Você deve começar a publicar um pequeno jornal e enviá-lo ao povo. Que seja pequeno a princípio, mas, quando as pessoas o lerem, mandarão recursos para imprimi-lo, e será um sucesso desde o início. A partir desse pequeno começo, foi-me mostrado ser como torrentes de luz que circundam o mundo’” (Primeiros Escritos [CPB, 2022], p. 21, 22).
“Aí estava um chamado à ação. O que Tiago White poderia fazer? Possuía poucos bens deste mundo. Mas a visão era uma ordem divina, e sentiu-se compelido a ir em frente, pela fé. Assim, com sua Bíblia que lhe custara 75 centavos e uma concordância bíblica já sem capas, Tiago White pôs-se a preparar os artigos sobre a verdade do sábado e outros tópicos semelhantes para imprimi-los em um pequeno periódico. […]
A revista, folheto ou livreto preparado tinha oito páginas, de mais ou menos 15 centímetros por 22. Seu título era The Present Truth [A Verdade Presente], e trazia a data de julho de 1849. Depuseram sobre o assoalho a pequena pilha de revistas. Então os irmãos e irmãs se reuniram em volta delas e, com lágrimas, imploraram a Deus que abençoasse a pequena publicação, ao ser expedida. Então o material foi preparado, embrulhado e endereçado, e Tiago White o levou ao correio de Middletown, à distância de 12 quilômetros. Foi assim que começou a obra de publicações da Igreja Adventista do Sétimo Dia” (ibid., p. 22).
A ADVENTIST REVIEW CONTINUA SENDO UMA DAS PUBLICAÇÕES MAIS ANTIGAS DA IGREJA NOS ESTADOS UNIDOS, PUBLICADA SEM INTERRUPÇÃO DESDE 1849
O casal White viajava muito, mas conseguia publicar as edições de The Present Truth. Foi enquanto estavam hospedados na casa da família Harris, em Auburn, Nova York, que lançaram um segundo periódico, mais extenso. Era uma revista mensal chamada de Advent Review (Revista do Advento). Não se tratava da Advent Review and Sabbath Herald (Revista do Advento e Arauto do Sábado), que seria criada mais tarde, mas de outro periódico que enviavam aos fiéis entre as edições de The Present Truth.
A pioneira apresentou o novo jornal de 48 páginas da seguinte forma: “Nosso objetivo nesta revista é animar e revigorar o verdadeiro crente, mostrando o cumprimento da profecia na maravilhosa obra passada de Deus, ao chamar e separar do mundo e da igreja nominal um povo que está aguardando o segundo advento de nosso querido Salvador” (Ellen G. White, Life Sketches [1915], p. 136).
Em novembro de 1850, os fiéis realizaram uma conferência em Paris, no estado de Maine. Um dos assuntos discutidos foi a crescente obra de publicações. Após algumas considerações, decidiram expandir o jornal e escolheram um nome apropriado: The Advent Review and Sabbath Herald (Revista do Advento e Arauto do Sábado).
Ataques do inimigo
Ellen White relembrou uma série de eventos que ocorreram enquanto estava hospedada com a família Harris; ataques que certamente tinham a intenção de impedir o trabalho que eles haviam acabado de começar.
“Deveríamos ir a Port Byron para ler as páginas de prova da revista que estava sendo impressa em Auburn. Pareceu-nos que Satanás estava tentando impedir a publicação da verdade que estávamos trabalhando para apresentar ao povo. Sentimos que deveríamos avançar com fé. Meu marido disse que iria a Port Byron buscar as provas do jornal. Nós o ajudamos a montar o cavalo, e eu o acompanhei. O Senhor o fortaleceu no caminho. Ele recebeu sua prova e uma nota informando que a publicação sairia da gráfica no dia seguinte, e que deveríamos estar em Auburn para recebê-la.
Naquela noite, fomos acordados pelos gritos de nosso pequeno Edson, que dormia no quarto acima do nosso. Era por volta da meia-noite. Nosso garotinho agarrava-se à irmã Bonfoey, depois com as duas mãos lutava contra o ar, e então, aterrorizado, gritava: “Não, não!” e agarrava-se mais a nós. Sabíamos que esse era o esforço de Satanás para nos irritar e nos ajoelhamos em oração. Meu marido repreendeu o espírito maligno em nome do Senhor, e Edson adormeceu tranquilamente nos braços da irmã Bonfoey, e descansou bem durante a noite. Então, meu marido foi atacado novamente. Ele estava sentindo muita dor. Ajoelhei-me ao lado da cama e orei ao Senhor para que fortalecesse nossa fé. Eu sabia que Deus havia agido por ele e repreendido a doença, e não podíamos pedir que Ele fizesse o que já havia sido feito. Mas oramos para que o Senhor continuasse Sua obra. Repetimos estas palavras: ‘O Senhor ouviu a oração. O Senhor agiu. Nós acreditamos sem duvidar. Continue a obra que o Senhor começou!’ Assim, por duas horas, suplicamos ao Senhor e, enquanto orávamos, meu marido adormeceu e descansou bem até o amanhecer. Quando se levantou, estava muito fraco.
Confiamos na promessa de Deus e decidimos seguir em frente pela fé. Estávamos sendo esperados em Auburn naquele dia para receber o primeiro número do jornal. Acreditávamos que Satanás estava tentando nos impedir, e meu marido decidiu ir confiando no Senhor. O irmão Harris preparou a carruagem, e a irmã Bonfoey nos acompanhou. Meu marido teve que ser ajudado a subir na carroça, mas a cada quilômetro que percorríamos ele ganhava força. Mantivemos nossa mente fixa em Deus e nossa fé em constante exercício, enquanto seguíamos em paz e felizes. Quando recebemos o jornal pronto e voltamos para Centerport, tivemos a certeza de que estávamos cumprindo nosso dever. A bênção de Deus repousava sobre nós. Havíamos sido muito esbofeteados por Satanás, mas, por meio do fortalecimento de Cristo, saímos vitoriosos. Tínhamos um grande maço de papéis conosco, contendo preciosas verdades para o povo de Deus.
Queríamos viver com poucos gastos para que o jornal pudesse ser mantido. Os amigos da causa eram poucos e pobres em bens deste mundo e fomos ainda obrigados a lutar com a pobreza e grande desânimo. Sobrecarregavam-nos os cuidados, e muitas vezes ficávamos sentados até à meia-noite, e em certas ocasiões até às duas ou três da madrugada, lendo as provas.
Trabalho excessivo, cuidados, ansiedades, falta de alimento próprio e nutriente, exposição ao frio em nossas longas viagens de inverno eram coisas demasiadas para meu marido, e ele cedeu ao peso desse fardo. Ficou tão fraco que dificilmente podia andar para a redação. Nossa fé foi provada ao extremo. Tínhamos voluntariamente suportado privações, trabalhos, sofrimentos, e não obstante nossos intuitos eram mal-interpretados, e éramos olhados com desconfiança e receio. Poucos daqueles por cujo bem havíamos sofrido, pareciam apreciar nossos esforços.
Estávamos por demais perturbados para poder dormir ou repousar. As horas em que deveríamos ser refeitos pelo sono eram frequentemente empregadas em responder a longa correspondência motivada pela inveja. Muitas horas, enquanto outros dormiam, passamos em prantos angustiosos e lamentações perante o Senhor. Finalmente disse meu marido: ‘Minha esposa, não vale a pena tentar lutar por mais tempo. Essas coisas estão me oprimindo demasiadamente, e logo me levarão ao túmulo. Não posso prosseguir. Escrevi para o jornal uma nota em que declaro que não o publicarei mais.’ Quando ele saiu da sala para levar a nota à redação, eu desmaiei. Ele voltou e orou por mim. Sua oração foi atendida e fiquei aliviada.
Na manhã seguinte, durante o culto doméstico, caí em visão e fui instruída a respeito do assunto. Vi que meu marido não devia abandonar o jornal, pois Satanás estava experimentando impeli-lo a dar exatamente esse passo, e estava operando por meio de seus agentes para tal fim. Foi-me mostrado que deveríamos continuar a publicar, e o Senhor nos ampararia” (Ellen G. White, Life Sketches, p. 137-140).
O Senhor, de fato, sustentou a obra. Desde esse início pouco promissor, a Adventist Review continua sendo uma das publicações mais antigas da igreja nos Estados Unidos, publicada sem interrupção desde 1849, passando por várias mudanças de nome e reformulações de marca.
Luz que se propaga
No entanto, como uma revista sediada na América do Norte se transformou nas “torrentes de luz” que Ellen White viu irradiando para todas as partes do mundo? Em 2004, o então presidente da Associação Geral (AG), Jan Paulsen, abordou William Johnsson, editor da Adventist Review na época, com uma proposta empolgante, porém assustadora. “Precisamos de uma revista, um veículo comum, para ajudar a manter os adventistas unidos ao redor do mundo”, disse Paulsen. Qual seria a tarefa específica? Enviar a revista da igreja para aproximadamente 1 milhão de lares em todos os continentes, sem custo para os membros, e concentrar-se primeiro nas regiões em que o inglês é usado. Se mais tarde houvesse recursos disponíveis, a publicação poderia ser traduzida para outros idiomas.
HOJE, COMO “TORRENTES DE LUZ”, A REVISTA ADVENTIST WORLD É ENVIADA PELO CORREIO PARA 1,6 MILHÃO DE LARES EM TODO O MUNDO
Essa não foi uma ideia irrefletida. Era algo que Paulsen vinha considerando desde sua chegada à AG como vice-presidente, em 1995. Ele estava profundamente preocupado em manter a igreja unida e coesa. “Esse deveria ser um documento que nutrisse, informasse, motivasse e afirmasse os princípios que compartilhamos”, explicou Paulsen. “Era para dizer aos nossos membros que estamos juntos como uma família em todo o mundo.”
Johnson levou a proposta para a diretoria da Adventist Review. Naquela época, a revista era impressa semanalmente. No início, alguns membros da equipe ficaram preocupados. Como eles conseguiriam produzir conteúdo adicional para a revista, especialmente para um público internacional? Roy Adams, editor associado da Review na época, disse: “Sempre achei que, se nossa organização é mundial, nossos principais líderes deveriam ter […] uma comunicação direta e contínua com toda a comunidade adventista do mundo inteiro. Essa convicção me encheu de coragem e me uniu ao restante da equipe para realizar a difícil tarefa.”
Por ser uma revista internacional, “as possibilidades de impressão precisavam ser exploradas, não apenas na América do Norte, mas também em outras regiões”. A resposta para o financiamento e a publicação veio milagrosamente por meio da igreja na Coreia do Sul. “Foi incrível como essa tarefa, que era quase inimaginável, foi realizada tão rapidamente e funcionou”, disse Paulsen. “Acredito que foi um produto inspirado pelo Céu.” Essa revista inspirada tornou-se a Adventist World.
O conceito da Adventist World foi votado no Concílio Outonal da igreja, em 2004, e seu projeto apresentado em 2 de julho, na 58a Assembleia Geral da Igreja, em Saint Louis. A primeira edição foi lançada em setembro de 2005 e, de acordo com as atas da comissão editorial da Adventist World de 3 de outubro de 2005, a primeira tiragem foi de 1,1 milhão de exemplares. As atas também registraram cinco edições: Coreia, Sul do Pacífico, América do Norte, América Central e parte da Europa.
Hoje, como “torrentes de luz”, a revista Adventist World é enviada pelo correio para 1,6 milhão de lares em todo o mundo, e tanto seus artigos quanto os da Adventist Review e outras mídias são acessados por milhares de outras pessoas por meio das plataformas on-line e sites. Mantendo-se fiel à intenção original, a Adventist Review e a Adventist World “ainda animam e revigoram o verdadeiro crente, mostrando o cumprimento da profecia no maravilhoso trabalho de Deus no passado, ao chamar e separar do mundo e da igreja convencional um povo que está aguardando o segundo advento de nosso querido Salvador”
(veja o artigo “Para o mundo inteiro”, na edição de maio de 2023 da Revista Adventista).
BETH THOMAS é editora-assistente da Adventist World
(Artigo publicado na edição de agosto/2024 da Revista Adventista/Adventist World)
Última atualização em 2 de setembro de 2024 por Márcio Tonetti.