Piano, poesia e louvor

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Conhecido por suas mais de 500 músicas, o maestro Jader Santos relembra a sua passagem pelos Arautos do Rei e a vitória contra o câncer
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Defensor de uma personalidade brasileira para o quarteto, com o tempo Jader foi moldando o estilo do grupo e aproximando os Arautos do Rei dos jovens. Créditos das imagens: Fotolia e Rodolfo Sanches

Em algum momento da vida você deve ter se identificado com as composições do pastor e maestro Jader Dornelles Santos. Com mais de 500 músicas em seu ministério, Jader personifica a frase dita pela bailarina russa Anna Pavlova: “Deus nos dá o talento, e o trabalho o transforma em genialidade”. Suas canções já foram interpretadas pelo quarteto Arautos do Rei e pelo grupo Novo Tom, além de integrar o repertório do Hinário Adventista do Sétimo Dia e de várias coletâneas do Ministério Jovem.

Filho de Ivone Dornelles e Job Feliciano dos Santos, Jader chegou ao mundo de surpresa. Era 17 de julho de 1962 quando sua mãe foi à maternidade para dar à luz o primogênito, Jobson, e se descobriu mãe de dois meninos. Os gêmeos lhe trouxeram felicidade duplicada. Ao bebê inesperado, ela deu o nome Jader, que significa “pedra preciosa”, o que, de fato, ele tem sido para a música adventista brasileira.

Quando os gêmeos nasceram, Job cursava Teologia e Ivone trabalhava como secretária no antigo IAE, atual Unasp, campus São Paulo. Após a graduação, ele foi atuar como pastor em Ijuí (RS), sua cidade natal. Foi no interior gaúcho, acompanhando o ministério do pai, que Jader deu os primeiros sinais de sua inclinação musical.

Durante os cultos, seu lugar já era marcado. Sempre ao lado do piano, Jader observava atentamente como a pianista combinava notas musicais para que delas fluísse harmonia. Em casa, todo objeto de superfície lisa, como fogão, armário ou mesa, fazia-se piano. Percebendo o interesse explícito do filho, o pai o matriculou em uma escola de piano, instrumento que ganhou em seu décimo primeiro aniversário. Jader passava seis horas tocando.

O empenho, somado ao talento, mostrou resultado. Com seis meses de prática, ele foi convidado para ser pianista do coral da Igreja Central de Goiânia. Aos 11 anos, o filho de pastor já sabia qual seria sua profissão. Dois anos mais tarde, foi o mais jovem a se inscrever num concurso que reuniu músicos de todo o país. Competindo com musicistas veteranos, Jader chegou à semifinal. Não venceu, mas o concurso lhe serviu de combustível.

Apesar de estar convicto de que o filho seria músico, o pastor Job o aconselhou a cursar Teologia para que tivesse melhor embasamento para suas composições. Jader seguiu o conselho e foi para o IAE estudar no seminário. Em 1981 conquistou a habilitação técnica em piano e, depois de graduado em Teologia, estudou no Conservatório de Música Brasileira, no Rio de Janeiro. Mais tarde, ele ainda faria um mestrado em música na Universidade Andrews (EUA).

O TOM DOS ARAUTOS

Grande admirador do ministério A Voz da Profecia, o sonho dele era fazer parte do quarteto Arautos do Rei. O sonho foi realizado em 1983, quando ele se tornou pianista do grupo. Sua primeira tarefa foi reestruturar o quarteto, que, na época, carecia do segundo tenor. A segunda tarefa foi preparar um novo disco, pois o grupo estava havia mais de dois anos sem gravar. Nasceu o álbum Deus Quer Alguém, que surpreendeu por sua qualidade.

Com o tempo, Jader foi moldando o estilo do quarteto. Defensor de uma personalidade própria para o grupo brasileiro, ele rompeu com a tradição de copiar fielmente tudo o que A Voz da Profecia norte-americana produzia. O jovem de então também queria aproximar os jovens do quarteto, sem perder a linha tradicional do grupo. Pouco a pouco, o pianista conduziu o quarteto para um estilo mais dinâmico e, ao mesmo tempo, profundamente sacro. Paralelamente, ele conduzia o trio Viva Voz e o grupo Voz da Profecia. Durante os 15 anos em que trabalhou no ministério, Jader ainda encontrou tempo para gravar dois trabalhos solos: Segredos do Coração e De Tudo um Pouco. Foi nesse período que conheceu a esposa, Lúcia Raquel Tavares, numa apresentação do quarteto em 1988, e com quem teve seu único filho: Guilherme.

Outra conquista foi ter duas de suas composições inseridas no hinário lançado em 1996: “Além do Rio” (nº 470) e “Eu Não Me Esqueci de Ti” (nº 499). A inspiração para a segunda canção, uma das mais conhecidas do grupo Prisma, veio de um sermão que ele ouviu sobre a volta de Jesus. Em seu currículo constam ainda mais de 100 músicas produzidas para o quarteto Arautos do Rei, muitas das quais ganharam popularidade e têm resistido ao teste do tempo, como “Se Ele Não For o Primeiro”, “Eu Não Sou Mais Eu” e “O Céu é Jesus”, além do musical O Libertador.

De acordo com Jader, não há segredo para compor. As músicas apenas devem soar em bom tom, e a melodia precisa estar no lugar certo. Suas composições fazem lembrar a beleza do Céu e reforçam a esperança da volta de Jesus, seu maior sonho.

Em 1998, Jader começou a sentir muitas dores no abdômen. Exames indicaram apenas cansaço físico. Após novas dores num sábado, decidiu buscar um diagnóstico no Hospital Adventista Silvestre, no Rio de Janeiro. Resultado: câncer em estado de metástase. Foi realizada uma cirurgia de urgência para a retirada do tumor principal; porém, o procedimento afetaria um dos rins. Por isso, os médicos recomendaram sessões de quimioterapia para reduzir o tamanho do tumor e possibilitar a remoção dele sem danificar outros órgãos.

Ao pesquisar sobre a doença e conversar com vários profissionais, Jader descobriu que tinha boas chances de cura; contudo, poderia haver efeitos colaterais, como a perda da audição. Dali em diante, enfrentou um dilema. Contrariando a família, mas contando com as orações dela, ele optou por um tratamento natural numa clínica em Atibaia (SP).

Após 25 dias de tratamento, fez novos exames. Já havia decidido: se o tratamento natural não fizesse efeito, começaria a quimioterapia. Para sua surpresa, o câncer havia estagnado. Os médicos, mais uma vez, o pressionaram. Mas ele não desistiu do tratamento natural. “Foi um período em que eu ouvia a voz de Deus. Eu sabia o que ele queria para minha vida, e não era a quimioterapia”, conta. Então descobriu uma clínica nos Estados Unidos, em que deu continuidade ao tratamento alternativo. A recuperação foi lenta.

Nesse período, Jader era dominado pela ansiedade de obter resultados positivos e pelo medo de ter feito a escolha errada ao optar por aquele tratamento. Tinha sede por compor, mas não encontrava inspiração. Percebeu que estava sendo injusto com Deus, concentrando suas forças apenas na cura. Foi então que se ajoelhou e pediu ajuda para compor em meio à provação. Não demorou muito até que concluísse a música “Escolhi Louvar Teu Nome”.

Depois de quatro meses, vieram sinais animadores. O tumor não havia se espalhado, e, em um ano, reduzira em 60%. Depois disso, fez acompanhamento médico semestral por cinco anos. “Peço a Deus que transforme essa experiência de cura em testemunho vivo do que é possível alcançar quando seguimos os princípios de saúde dados por ele”, diz.

Hoje, Jader Santos é professor de música no Unasp, campus Engenheiro Coelho, onde dirige o 7mus, quinteto masculino de jovens. “Sou grato a Deus pela oportunidade de trabalhar com uma nova geração de músicos e passar esse legado para frente”, conclui. O aprendizado o levou à conclusão de que louvar a Deus é uma escolha, a melhor delas, a despeito das circunstâncias.

QUELEN PRISCILA DA CRUZ é estudante de Jornalismo no Unasp

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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.