Livro revela como o homem que caçava o cangaceiro Lampião se tornou o propagador de uma mensagem que iluminou o nordeste do Brasil
O ano de 1911 não registra nenhum fato histórico extraordinário no Brasil. Contudo, em março daquele ano nasceram dois personagens que posteriormente estariam ligados à vida de Lampião, o líder de cangaceiros que aterrorizou o sertão nordestino nas décadas de 1920 e 1930. Maria Bonita, mais tarde companheira de Lampião, nasceu no dia 8 de março. E, com apenas alguns dias de diferença, nasceu Plácido da Rocha Pita, que anos depois integraria a milícia formada para perseguir o bando de Lampião.
A primeira edição da autobiografia Por Que Mudei de Exército foi lançada em 1985, três anos após o falecimento do autor. Agora a segunda edição atualizada do livro está sendo disponibilizada pela CPB (2018, 160 p.) no intuito de mostrar à nova geração como a mensagem adventista se consolidou no Nordeste do país.
No primeiro capítulo do livro, o autor descreve como foi livrado das mãos de uma parteira embriagada que tentou matá-lo por achar que ele fosse um monstro. Também descreve sua infância difícil e a decisão de deixar o lar em busca de uma vida melhor. O capítulo seguinte narra sua drástica mudança: de leiteiro a miliciano. No entanto, é a partir do terceiro capítulo que a mudança mais importante da vida de Plácido da Rocha Pita é relatada: como ele compartilhou uma mensagem de luz no sertão.
No prefácio da primeira edição, o pastor Francisco Nunes Siqueira definiu Plácido da Rocha Pita como o “escritor-herói” e “o homem certo no lugar certo”. Por ser um filho do agreste, lia como poucos a alma do povo sertanejo. Trabalhando como pastor e colportor, ele estabeleceu igrejas e escolas e se preocupou com o bem-estar integral dos que tinham a sobrevivência ameaçada pela seca.
A obra descreve, com detalhes preciosos, episódios como a ocasião em que Plácido Pita teve que enfrentar o marido violento de uma senhora que havia aceitado seguir Jesus e mudar de vida. Conta também as decisões difíceis que esse evangelista teve que tomar, como abrir mão da estabilidade da carreira militar para servir na região do baixo São Francisco; tratar pessoas doentes e extremamente pobres onde não havia médicos; cuidar da esposa doente sem ter recursos; enfrentar um surto de malária ao trabalhar em lugares inóspitos e encarar a saudade da família por ficar longos períodos longe de casa.
Esses são apenas alguns dos muitos desafios enfrentados por um homem que deixou gravado na história do adventismo no Brasil todo o seu amor a Deus, sua dedicação para consolidar a mensagem bíblica no sertão e seu sacrifício em favor da salvação de pessoas.
ADRIANA SERATTO é graduada e pós-graduada em Português e Literatura. Trabalha como revisora de livros denominacionais na CPB
LEIA UM TRECHO DO LIVRO
“Começaram as lutas, provas duríssimas. Tinha que vencer a mim mesmo. Alguns vícios muito fortes. […] A prova maior viria ainda. Fui fazer compras no armazém, onde meus colegas compravam pinga. Encontrei lá a turma do copo, todos já em dose alta. Queriam me obrigar a beber. Meus argumentos foram em vão. Procurei me retirar; um que estava em fogo mais alto me deu um banho de cachaça, entornando-me um copo cheio sobre a farda. Dei graças a Deus por poder suportar tamanha afronta e perdoar” (p. 20).
(Resenha publicada na edição de setembro de 2018)
Última atualização em 9 de outubro de 2018 por Márcio Tonetti.