Entenda o modelo de liderança eclesiástica adventista
Marcelo Coronel

A pergunta do meu vizinho me surpreendeu, mas, ao mesmo tempo, me fez refletir: “Estou bastante informado sobre as notícias da igreja”, comentou ele, já que conhece vários adventistas do bairro e da região de Florida Oeste, em Buenos Aires.
“O Papa de vocês já os visitou?”, perguntou.
Ele se referia à visita do pastor Ted Wilson, então presidente da Associação Geral, que esteve na Argentina em fevereiro de 2025. Durante sua passagem pelo país, visitou Florida Oeste para a reinauguração da sede administrativa reformada da União Argentina e participou de um culto especial pela remodelação interna da Igreja de Florida.
Procurei compreender meu vizinho, que em sua mente comparou nossa igreja e seu sistema de governo com a Igreja Católica Apostólica Romana e sua estrutura hierárquica. Minha resposta foi que sim, recebemos a visita do nosso líder mundial e principal administrador da Igreja – o presidente da Associação Geral –, mas que ele não exerce uma função papal, como ocorre com o líder do catolicismo romano. Refletindo sobre isso, este artigo tem como objetivo explicar brevemente essa questão, dentro do contexto de uma Assembleia da Associação Geral, ocasião em que será escolhido um líder para servir à igreja mundial.
Entendendo a liderança eclesiástica
De forma resumida, explicaremos o surgimento do modelo papal, que começou a se formar como resultado do afastamento do modelo bíblico de liderança eclesiástica – um modelo servil e missionário, baseado em um sistema representativo e corporativo, sob a direção do Espírito Santo (Mc 3:14, 15; Mt 20:26-28; At 6:1-7; 14:21-23; 15:1-6, 22, 23; 16:4, 5; 20:17; 21:18; Ef 4:11, 12; 1Tm 5:17; Tt 1:5; 2:2-5; Hb 13:7, 17; Tg 5:14; 1Pe 5:1-5) –, rumo a um modelo centralizado, exclusivista, episcopal, sucessório e romano.[1]
A Bíblia é clara ao afirmar, curiosamente por meio de Pedro – considerado o primeiro papa segundo o catolicismo romano –, o sacerdócio universal de todos os crentes, descartando assim qualquer ideia de ministério ou sacerdócio exclusivista (1Pe 2:5, 9, 10). Pedro não reivindicou um pontificado exclusivo. Ele usou expressões coletivas e corporativas (“sacerdócio santo, geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus”) para falar sobre a identidade, o ministério e a missão da igreja: “a fim de proclamar as virtudes Daquele que os chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz.” A eclesiologia apresentada por Pedro não é papal, mas corporativa – utiliza termos inclusivos e coletivos, e não exclusivos; é evangelística – ao falar de anunciar, usa literalmente a expressão “evangelizar”, ou seja, proclamar; e é também missionária – faz referência ao chamado (kale?, em grego) e à obra de iluminar nas trevas.
Cristo, nosso modelo de liderança
Em contraste, como adventistas, definimos e delineamos a liderança eclesiástica com base em nosso único credo: as Sagradas Escrituras. Nosso exemplo de liderança é Jesus Cristo (Jo 13:15). Jesus veio para servir e salvar (Mc 10:45). Por isso, a liderança eclesiástica deve ser cristocêntrica, servidora e missionária. Devemos continuar o modelo de liderança, missão e serviço de Cristo, buscando servir, capacitar, discipular, pregar, ensinar e curar como fazia o Mestre.
Nosso modelo de liderança é representativo e corporativo, o que significa que nenhum líder assume autoridade própria ou inerente. Pelo contrário, os líderes são escolhidos e nomeados temporariamente para servir e exercer diferentes funções conforme a missão, mas sempre em submissão ao corpo da igreja. A denominação escolhe líderes para desempenhar diversos papéis e ministérios, sob a direção do Espírito Santo, com o propósito de continuar impulsionando a missão. A igreja recebeu autoridade da parte de Cristo para cumprir essa missão até o fim dos tempos (Mc 3:14, 15; Mt 28:19, 20).
Com base nos princípios bíblicos, compreendemos que nosso único Legislador, Rei e Juiz é Deus (Is 33:22). Em contraste, o catolicismo atribui autoridade eclesiástica absoluta – legislativa, executiva e judicial – ao papa (Autoridad, Reglamentos y Eclesiologías en Contraste [Editorial UAP, 2024], p. 22, 23). Por essas diferenças teológicas substanciais, nós, adventistas do sétimo dia, não temos um papa. Talvez o nosso maior desafio hoje seja assumir plenamente nossa identidade missionária, tanto pessoal quanto corporativa, a fim de exercer com humildade o real sacerdócio concedido por Cristo – servindo e liderando conforme o modelo de Jesus – para impulsionar, promover e cumprir a missão sob a direção do Espírito Santo até sua prometida consumação.
MARCELO D. CORONEL é presidente da Missão Bonaerense do Norte, na Argentina
[1] Para aprofundar na descrição do modelo católico e suas diferenças em relação ao modelo adventista, ver: Marcelo D. Coronel, Autoridad, Reglamentos y Eclesiologías en Contraste: Un Estudio Comparativo Entre las Posiciones Católico Romana y Adventista del Séptimo Día Sobre la Autoridad de la Reglamentación Eclesiástica a la Luz de las Implicancias Eclesiológicas de Su Documentación Normativa (Editorial UAP, 2025), p. 15, 16, 29-67. Em 1870, no Concílio Vaticano I, por meio da constituição dogmática Pastor Aeternus, o catolicismo romano concentrou a autoridade eclesiástica absoluta na figura do papa.
Última atualização em 4 de julho de 2025 por Márcio Tonetti.