Projeto oferece assistência aos familiares de autistas
O sonho da catarinense Keiny Goulart sempre foi ser mãe de um casal. Primeiro veio a Myah. Dez meses depois, um exame médico comprovou as suspeitas: um novo bebê estava chegando, desta vez um menino. Diferentemente da irmã, Derek foi muito precoce em todos os seus estágios iniciais. Sempre muito organizado, elétrico em tudo que fazia, atento aos mínimos efeitos sonoros e com dificuldades em concentrar o olhar nos olhos de outra pessoa. Percebendo isso, Keiny consultou diferentes especialistas até chegar ao diagnóstico: o caçula tinha o Transtorno do Espectro Autista (TEA). “Naquele momento meu mundo desabou, pois não sabia como lidar com isso. Precisei buscar ajuda de uma psicóloga”, relembra a mãe.
Segundo dados do Center of Deseases Control and Prevention (CDC), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, estima-se que haja um caso de autismo a cada 110 pessoas. Somente o Brasil registra aproximadamente 2 milhões de pessoas com o transtorno. E, apesar da Lei Berenice Piana (12.764/12), que criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, o grande desafio é acolher as famílias e ajudá-las a lidar com a situação.
Foi com esse propósito que Keiny e o esposo, pastor Marlon Bruno, decidiram criar a Rede Adventista de Apoio à Família Autista (RAAFA), lançada oficialmente há dois anos. A RAAFA se apoia no seguinte tripé: amar, acolher e apoiar.
Um dos meios de alcançar esse objetivo são os 40 grupos de WhatsApp divididos por estados e eixos temáticos (como nutrição para autistas, alfabetização, dicas jurídicas, apoio espiritual, entre outros).
O pastor Roberto Vieira colabora como moderador do grupo no Espírito Santo. Pai da Heloísa, que é autista, ele explica que o propósito é oferecer não apenas ajuda técnica, mas também suporte espiritual. “Compartilhamos experiências pessoais, desabafamos e enviamos informações jurídicas, espirituais e indicações de palestras. Foi por meio do grupo que também conseguimos ajudar financeiramente famílias que estavam passando por necessidades”, comenta.
“Em hebraico, RAAFA significa ‘cura’ e é isso que desejamos oferecer às famílias: cura espiritual e emocional. Aliás, o trabalho já resultou no batismo de seis pessoas, e os relatos de transformação pessoal são inúmeros. Eu mesma posso afirmar que, depois que tive um filho autista, entendi melhor o que significa amar. Tenho um olhar mais humano e sou mais dependente de Deus”, ressalta Keiny.
Ao mesmo tempo que tem oferecido assistência aos de fora, o projeto também atende às famílias adventistas. De acordo com os idealizadores da iniciativa, no território brasileiro há pelo menos seis pastores com algum grau de autismo e mais de 60 famílias ministeriais que necessitam de apoio para lidar com crianças que apresentam os sinais desse transtorno.
Hoje a RAAFA está presente em mais de 40 pontos do Brasil e em outros 10 países (para saber mais, acesse: somosraafa.org). Com a ampliação dessa rede de apoio, o projeto passou a promover também webinars nacionais e internacionais on-line que já chegaram a alcançar até 250 mil pessoas de 70 países. Considerando o avanço da vacinação contra a Covid-19, a expectativa é promover encontros presenciais a partir deste ano.
MAIRON HOTHON, jornalista e mestrando em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp, atua como assessor de comunicação na sede da Igreja Adventista para a região Sul do Espírito Santo
(Matéria publicada na Revista Adventista de abril de 2022)
Última atualização em 7 de abril de 2022 por Márcio Tonetti.