Reformadores da saúde

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Compromisso adventista com o bem-estar integral completa 160 anos

Theodore Levterov

Foto: Allef Vinicius

Desde 1863, os adventistas do sétimo dia destacaram-se gradualmente por promover um estilo de vida saudável. Estudos atuais demonstram que os adventistas são significativamente mais saudáveis, vivendo, em média, de sete a dez anos a mais do que a população em geral (saiba mais aqui). Ellen White, cofundadora da denominação, desempenhou um papel crucial no estabelecimento das práticas do estilo de vida adventista, que estão relacionadas a muitas dessas descobertas recentes.

Em 1863 e 1865, Ellen White recebeu duas visões essenciais sobre saúde. De certa forma, essas visões foram o ponto da virada para a nova denominação. Elas levaram os membros a se tornarem não apenas reformadores da saúde, mas também a incorporar essa missão em sua identidade e pregação.

A VISÃO DE 1863

Os adventistas guardadores do sábado oficialmente se organizaram como Igreja Adventista do Sétimo Dia em 21 de maio de 1863, em Battle Creek, Michigan (EUA). Apenas duas semanas depois, em 6 de junho, Ellen White recebeu sua primeira grande visão sobre saúde, transmitindo princípios essenciais relacionados à importância de uma vida saudável, com algumas instruções específicas para Tiago e Ellen White.

A mensagem central dessa primeira visão era simples: os adventistas, incluindo o casal White, deveriam prestar mais atenção à saúde, pois essa era uma questão fundamental. Além disso, a visão destacou que a boa saúde deveria ser uma experiência integral, dependendo do estilo de vida individual. Esse marco inicial reflete a ênfase de Ellen White quanto à saúde, tanto em seu pensamento quanto em seus escritos.

Um ano depois, ela expandiu seus escritos, publicados sob o título “Saúde”, no livro Spiritual Gifts, volume 4. Nessa obra, ela discutiu sobre dieta, perigos da intemperança, controle do apetite, proibição de carne suína, benefícios de uma dieta vegetariana, efeitos venenosos do tabaco e de outros estimulantes, importância da higiene e do ar puro, equilíbrio entre trabalho e descanso, benefícios da água, uso de remédios naturais para cura em vez do uso frequente de medicamentos, importância da crença em Deus e outras aplicações práticas. Foi a partir desse momento que ela começou a descrever a saúde de maneira abrangente, conectando aspectos físicos, emocionais e espirituais essenciais à vida.

A VISÃO DE 1865

Curiosamente, ou talvez não tão curiosamente assim, poucos membros responderam à mensagem de Ellen White para priorizar a saúde. Afinal, pensavam que Jesus estava voltando em breve, e a saúde não fazia parte da missão da Igreja Adventista.

Em 25 de dezembro de 1865, Ellen White recebeu uma segunda grande visão sobre saúde, em Rochester, Nova York. “Foi-me mostrado que se penetrou muito pouco na reforma de saúde até agora. Enquanto alguns examinam profundamente e exercem sua fé na Obra, outros permanecem indiferentes e mal deram o primeiro passo na reforma. Parece haver neles um sentimento de descrença, e, quando essa reforma res­tringe o apetite concupiscente, muitos retrocedem. Têm outros deuses diante do Senhor. Seu paladar, seu apetite, é seu deus” (Testemunhos Para a Igreja, v. 1 [CPB, 2021], p. 426).

O MINISTÉRIO DE CURA DE JESUS INCLUÍA TODAS AS PESSOAS, E OS ADVENTISTAS DEVERIAM SEGUIR SEU EXEMPLO

No entanto, a visão de saúde de 1865 não foi apenas um alerta contra a negligência. Ellen White recebeu a mensagem de que a saúde se tornaria uma parte fundamental da missão adventista. “Foi-me mostrado que a reforma de saúde faz parte da mensagem do terceiro anjo e está tão intimamente ligada a ela como o braço e a mão estão ligados ao corpo. Vi que, como um povo, devemos realizar um movimento de vanguarda nesta grande obra” (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 426). Os adventistas do sétimo dia não deveriam apenas praticar a reforma de saúde, mas a igreja tinha a obrigação espiritual de ensinar aos outros sobre seu significado e seus benefícios.

Essa segunda visão exortou a Igreja Adventista a estabelecer instituições de saúde para apoiar os esforços médico-missionários denominacionais.

Ellen White destacou que o evangelismo médico tinha o potencial de alcançar pessoas que não poderiam ser alcançadas por outros tipos de evangelismo. “Nosso povo deve ter uma instituição própria e sob seu controle, para benefício dos doentes e sofredores entre nós, os quais desejam saúde e vigor para poderem glorificar a Deus em seu corpo e espírito, os quais Lhe pertencem. Se tal instituição for corretamente dirigida, haverá meios de divulgar nossos pontos de vista a muitos que dificilmente seriam alcançados pelos métodos comuns de pregar a verdade. […] Colocando-se assim sob a influência da verdade, alguns não apenas obterão alívio para suas enfermidades físicas, mas encontrarão cura para seu coração perturbado pelo pecado” (Testemunhos Para a Igreja, v. 1, p. 431).

De certa forma, Ellen White enfatizou a relação entre o evangelho e os ministérios da saúde. Afinal, Jesus fez as duas coisas, ensinou e curou, dedicando “mais tempo a curar os enfermos do que a pregar”
(A Ciência do Bom Viver [CPB, 2021], p. 9). Além disso, Suas práticas de cura transcenderam a cura das aflições físicas. “O Salvador tornava cada ato de cura uma ocasião para implantar princípios divinos na mente e na alma. Esse era o desígnio de Sua obra” (ibid., p. 10).

O ministério de cura de Jesus incluía todas as pessoas, e os adventistas deveriam seguir Seu exemplo. Com o passar dos anos, a igreja respondeu às visões e aos apelos de Ellen White e, globalmente, a denominação tornou-se líder na promoção da saúde integral e de uma vida saudável.

Atualmente, a Igreja Adventista possui o maior sistema de saúde protestante do mundo, com centenas de hospitais, clínicas, asilos e casas de repouso em diferentes países. Tudo começou há 160 anos com a mensagem simples de que a saúde deveria fazer parte da identidade e da missão adventista.

THEODORE LEVTEROV é diretor associado do Patrimônio Literário de Ellen G. White, em Silver Spring, Maryland (EUA)

(Artigo publicado na edição de dezembro/2023 da Revista Adventista / Adventist World)

Última atualização em 11 de dezembro de 2023 por Márcio Tonetti.