Evento realizado na Bahia traz teólogos para debater tema central para a fé adventista
Adoração é o ponto central da história da redenção. O que fazemos ou deixamos de fazer; o que dizemos, o que amamos, e o que obtemos revelam quem adoramos e quem pretendemos ser. Se adoramos, reconhecemos a soberania do Criador e Mantenedor de todo o Universo. Se pretendemos ser adorados, achamo-nos em rebelião contra Deus, aliados ao “príncipe deste mundo”, aquele que, querendo ser adorado, promoveu a rebelião no céu, usurpando o trono e as prerrogativas de Deus.
A Bíblia diz que devemos adorar “aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas”, e que “ao Senhor nosso Deus adoraremos, e só a Ele daremos culto” (Ap 14:7; Mt 4:10).
Mas como podemos ser verdadeiros adoradores? Jesus ensinou que “Deus é Espírito e é necessário que seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:24); e que “são estes (aqueles que o adoram em espírito e em verdade) que o Pai procura para seus adoradores” (v. 23).
Você também já parou para pensar no fato de que a Bíblia relaciona missão com adoração? A salvação do homem está intimamente ligada à questão da adoração. Quem é salvo por Deus, adora a Deus. O evangelho eterno é pregado com o chamado à adoração. Mas como pregar essa mensagem, ensinando os pecadores a adorar a Deus, sem compreender perfeitamente em que consiste a verdadeira adoração? Como vão crer em nossa pregação, se não virem na nossa própria vida a revelação da mensagem que pregamos? Assim, entendemos que é de suma importância para a igreja, hoje, ser devidamente instruída quanto à forma, ao conceito, à teologia, à dimensão e ao objeto da adoração bíblica.
Tendo em vista essas preocupações, igrejas adventistas da região de Capim Grosso (BA) realizaram o 1º Simpósio de Adoração. O evento que ocorreu nos dias 22 e 23 de abril teve como palestrantes o doutor Jean Carlos Zukowski, professor de Teologia no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP), Daniel Lins, professor de Filosofia do Instituto Adventista de Ensino do Nordeste (Iaene), e o pastor Pablo Sanches, ministro de música da mesma instituição.
Durante o evento, foram apresentados vários seminários com abordagens filosóficas, teológicas e práticas. Além dos seminários, também houve espaço para esclarecer dúvidas dos membros da igreja.
Ao refletir sobre a era pós-moderna, caracterizada pela velocidade, busca pelo prazer e ausência de compromisso, o professor Daniel Lins concluiu que tal realidade afeta a qualidade da adoração. Para o doutorando em Filosofia, fatores como meditação paciente, renúncia, abnegação e compromisso estão sendo descartados, inclusive entre os que professam a fé cristã.
Ele ainda considerou que a geração atual é cada vez mais egocêntrica e volúvel. O que é produzido hoje tende a ser descartável ou, na melhor das hipóteses, substituído pelo que for mais atrativo. Nesse contexto, a religião, com suas regras e princípios invariáveis, encontra séria rejeição por parte cultura pós-moderna. Assim, de acordo com Lins, ao pensarmos em preparar alguém para ser um discípulo moderno de Jesus, temos que levar em consideração sua nova forma de pensar e de ver a vida. Para ele, nunca foi tão forte o apelo do apóstolo: “Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2, NVI).
Como observou o pastor Jean Zukowski, o problema é que essa geração não quer mudar. “Você descobre que não se deve comer porco, então você encontra uma forma de fazer glúten com sabor de porco. Não deve beber café, então toma cevada ou café descafeinado. Não que haja problema com a cevada. Mas o problema está com a mente que não quer mudar”, ele ressaltou.
Entretanto, conforme lembrou o palestrante, somente quando se faz uma entrega sem reservas a Deus, como um “sacrifício vivo”, é que estamos praticando a verdadeira adoração. E isso só acontece depois de termos sido instruídos na ciência da salvação e estarmos convertidos.
Sábado e adoração
Em outro seminário apresentado no simpósio, Zukowski também lembrou que o sábado é o ponto alto da adoração da semana, pois, segundo ele, “adorar é estar na presença de Deus, no dia que Ele prometeu estar diretamente ligado ao ser humano”.
Além de relembrar que o sábado é parte da última luta por adoração, conforme Apocalipse 14:7, Jean Zukowski ainda argumentou que a razão pela qual o homem deve adorar a Deus reside no fato de que Ele é Criador de todas as coisas, inclusive do sábado, feito para a adoração. Para o teólogo do Unasp, o sábado situa o homem quanto ao seu status (ser inteligente para reconhecer a soberania de Deus), sua origem, sua redenção e seu propósito de existência. Ele é o fundamento da adoração.
Ao falar sobre esse dia especial estabelecido por Deus na criação, o professor também mencionou que ele é um sinal da autoridade do Criador e Legislador do Universo, o único digno de culto e adoração. “Foi para conservar essa verdade sempre diante da mente dos homens que Deus instituiu o sábado no Éden”, disse, citando a escritora norte-americana Ellen G. White. Como ele lembrou, no livro O Grande Conflito (p. 437), a profetisa também afirmou que: “Tivesse sido o sábado universalmente guardado, os pensamentos e afeições dos homens teriam sido dirigidos ao Criador como objeto de reverência e culto, jamais tendo havido idólatra, ateu ou incrédulo. A guarda do sábado é um sinal de lealdade para com o verdadeiro Deus, ‘Aquele que fez o céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas’.”
Segundo enfatizou Zukowski, a obra da redenção consiste, entre outras coisas, em levar o homem de volta ao estado de adorador, guardando o sábado para dedicação exclusiva à adoração e serviço a Deus.
Música e adoração
Outro objetivo do evento foi discutir o conceito da adoração e sua relação com a música. Tanto o doutor Jean Zukowski quanto o pastor Pablo Sanches apresentaram grandes contribuições nessa área. Os palestrantes sintetizaram o assunto com a ideia de que Deus é quem tem que estar sempre no centro da adoração. O homem deve sair de cena.
Ao apresentar uma palestra sobre as preferências musicais adventistas, Sanches mostrou como ocorreu o desenvolvimento da música sacra e o processo de escolha dos hinos que hoje compõem o Hinário Adventista. Ele procurou chamar a atenção do público para o tipo de referência musical que as igrejas têm usado para os cultos e o cuidado que se deve ter com repertórios “ecléticos”.
JOSÉ MOREIRA DE MATOS, mestrando em Missão Urbana, é pastor em Capim Grosso (BA)
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.