Em autobiografia, Kari Paulsen, esposa de ex-líder mundial dos adventistas, conta como superou frustrações e foi surpreendida pela fé
ANDRÉ OLIVEIRA
Kari cresceu num vale tranquilo no leste da Noruega, mas foi criada em um lar conturbado pelas desavenças entre seus pais. Ela conviveu com o medo e as tensões da Segunda Guerra Mundial. Por causa do conflito, faltavam alimentos, roupas e calçados para ser trocados pelos cupons fornecidos pelo governo. Nesse contexto, as pessoas tinham que ser criativas para sobreviver à escassez.
A mãe de Kari era excelente costureira. Muitas vezes, ela transformava em peças novas as roupas usadas, desgastadas e que haviam se tornado pequenas para seus filhos. Esses episódios ensinaram a Kari uma lição, expressa num provérbio inglês, que a acompanharia por toda a vida: “É preciso cortar a roupa de acordo com a quantidade de pano disponível.” Isso significa que é preciso ressignificar as situações adversas a fim de que se tornem uma experiência significativa.
Desde cedo, a dor e o sofrimento foram companheiros íntimos da jornada de Kari. Diagnosticada com um problema cardíaco de nascença, a previsão dos médicos foi que ela não passaria da adolescência. Ela foi a primeira pessoa do seu país a ser submetida a um processo cirúrgico no Hospital da Universidade de Oslo. Durante o longo e doloroso período de recuperação, ela se voltou para Deus e prometeu que, se o Senhor a curasse daquela enfermidade, ela se tornaria cristã.
Kari mal podia imaginar que Deus não apenas preservaria sua vida, mas a guiaria por uma estrada de aventuras e milagres. Por intermédio de uma tia que vivia numa cidade vizinha, ela conheceu a Igreja Adventista. Kari teve que ir morar com outra tia, pois foi expulsa de casa pelo pai, que não aceitava que ela se aproximasse dos adventistas.
Depois de completar os estudos bíblicos, ela decidiu ser batizada. Ao concluir o ensino médio, foi trabalhar numa clínica adventista na Suécia. Alguns meses depois, saiu para colportar a fim de custear os estudos universitários. Então seguiu para o seminário teológico adventista na Dinamarca, onde conheceu Jan Paulsen, um estudante de Teologia norueguês que se tornaria seu esposo e posteriormente presidente mundial da Igreja Adventista (1999-2010).
Após o programa de estudos teológicos, Kari Paulsen e seu esposo serviram à Igreja Adventista por mais de 50 anos, na Noruega, Gana, Nigéria, Inglaterra e na liderança mundial da denominação. Em sua autobiografia, Contra as Expectativas (CPB, 173 p.), lançada recentemente, ela conta detalhes de sua inspiradora história de fé, resiliência, sacrifícios e superação, escrita pela graça de Deus e no tempo Dele.
Dividida em 15 capítulos curtos, a obra traz relatos comoventes das experiências da família Paulsen, seja enfrentando problemas de saúde, provações financeiras, guerra e outras dificuldades de um ministério transcultural. É uma leitura que enriquece, pois nos ajuda a ver o sofrimento a partir da perspectiva do serviço a Deus e ao próximo.
ANDRÉ OLIVEIRA é pastor e editor da Lição da Escola Sabatina dos adultos
(Esta resenha foi publicada originalmente na edição de julho de 2019 da Revista Adventista)