Substitutos do café

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A influência adventista na cultura alimentar

Lucas Diemer

Crédito da imagem: Adobe Stock

A discussão sobre o consumo de café sempre se revelou como um tema controverso na Igreja Adventista. Ao longo de gerações, ­­as orientações de Ellen White sobre hábitos alimentares, que condenam o consumo da bebida devido aos seus efeitos negativos, têm sido seguidas.

Entretanto, essa postura enfrenta desafios consideráveis em países como o Brasil, em que há uma forte indústria cafeeira. Atualmente, os conselhos da autora frequentemente se tornam alvos de críticas e podem até correr o risco de sofrer cancelamentos.

Nos Estados Unidos, no fim do século 19, embora o cenário fosse substancialmente diferente do presente, os mesmos conselhos também não receberam aceitação e reconhecimento amplos. Naquela época, o café estava ganhando popularidade, especialmente em razão do rápido crescimento das indústrias.

Após a Guerra Civil Americana, o país passou por mudanças significativas, com um aumento na população e migração para áreas urbanas em busca de oportunidades. Isso trouxe desafios para um estilo de vida moderno, para os quais as pessoas não estavam preparadas. As influências da publicidade e da indústria cinematográfica moldaram os hábitos alimentares da sociedade. As consequências desse padrão alimentar impactaram a população, resultando em casos frequentes de neurastenia, um diagnóstico popular na era vitoriana. Esse diagnóstico estava associado ao ritmo acelerado da sociedade industrializada, caracterizado por dificuldade de concentração, fadiga crônica, ansiedade e exaustão mental, comparável ao estado da Síndrome do Esgotamento Profissional.

Entre os indivíduos afetados pela neurastenia estava Charles William Post (1854-1914), adventista norte-americano e ferrenho opositor do consumo de café. Após enfrentar dois colapsos nervosos, ele procurou tratamento no Sanatório de Battle Creek, em Michigan (EUA). Lá, ele conheceu o Doutor John Harvey Kellogg (1852-1943), diretor da instituição.

OS ESFORÇOS ADVENTISTAS INFLUENCIARAM A CULTURA ALIMENTAR NORTE-AMERICANA, AUMENTANDO A CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE OS EFEITOS DA CAFEÍNA

Além de criar o cereal de flocos de milho e a manteiga de amendoim, Kellogg desenvolveu o Minute Brew, uma bebida sem cafeína feita de cereal torrado, farelo de pão e melaço. Em uma carta endereçada a Daniel Hartman Kress e sua esposa, Lauretta (Carta 200, 1902), Ellen White mencionou a essa bebida usando o termo genérico cereal com caramelo, sugerindo que ela poderia ser uma alternativa adequada ao café a ser servida no Sanatório de Sydney, na Austrália.

Post e Kellogg compartilhavam a convicção de que havia uma relação entre o consumo de café e a neurastenia. Eles acreditavam que o café agravava os sintomas ligados aos distúrbios nervosos, como ansiedade, insônia e agitação, além de impactar a força vital do corpo, hiperestimulando o sistema nervoso.

Após sua passagem pelo Sanatório de Battle Creek, Post desenvolveu produtos à base de grãos, incluindo o Postum, um pó instantâneo similar à bebida criada por Kellogg, que rapidamente se tornou popular. Embora não esteja claro se Post adotou diretamente a ideia de Kellogg, ambos promoveram alternativas mais saudáveis e impulsionaram a indústria alimentícia. Suas opiniões sobre o café e a neurastenia podem ser controversas, mas seus esforços influenciaram a cultura alimentar norte-americana, aumentando a conscientização sobre os efeitos da cafeína.

Nesse contexto histórico, os conselhos de Ellen White sobre alimentação assumem uma relevância ainda maior. Em seu livro A Ciência do Bom Viver, ela enfatizou a importância de conservar a força vital, pois Deus nos concedeu uma quantidade específica dessa força, a qual mantém o corpo equilibrado. “Se a força vital é esgotada muito rapidamente, o sistema nervoso toma emprestado de suas reservas a energia necessária para o uso e, quando um órgão é prejudicado, todos são afetados” (A Ciência do Bom Viver [CPB, 2021], p. 141). Visionários como Kellogg e Post reconheceram os riscos associados à negligência da saúde em uma época em que o cuidado com a alimentação era limitado.

LUCAS DIEMER é editor na CPB

(Artigo publicado na Revista Adventista de setembro/2023)

Última atualização em 27 de setembro de 2023 por Márcio Tonetti.