Uma década de esperança

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Líderes da igreja avaliam o impacto da distribuição do livro missionário na América do Sul e no mundo
Erton Köhler (ao centro), líder da igreja na América do Sul, e Wilmar Hirle (à dir.), diretor associado do departamento de Publicações da sede mundial adventista, durante entrevista realizada no programa da CPB alusivo aos dez anos do Impacto Esperança. Foto: Daniel de Oliveira

Muitas pessoas têm a curiosidade de saber como se dá a produção do livro missionário, suas etapas de desenvolvimento, onde é idealizado e impresso. Semelhantemente, quem está nos bastidores da Casa Publicadora Brasileira, trabalhando para que o livro tenha qualidade e dialogue com os anseios da sociedade, também tem algumas curiosidades quanto à distribuição do livro em âmbito mundial.

É sabido que a América do Sul se destaca quando o assunto é o projeto Impacto Esperança, projeto de distribuição de livros que neste ano completa uma década. Contudo, muitas outras partes do mundo também chamam a atenção. Nesta entrevista, concedida à jornalista Ághata Lemos durante um programa comemorativo realizado na sede da editora adventista, em Tatuí (SP), os pastores Wilmar Hirle, líder associado de Publicações da sede mundial da Igreja Adventista, e Erton Köhler, líder da igreja para oito países da América do Sul, falam sobre os desafios e conquistas do livro missionário, compartilham experiências e apontam os diferenciais que fizeram do livro missionário um projeto tão sólido.

Nos últimos dez anos, a Igreja Adventista se envolveu completamente com a distribuição do livro missionário. Os dados da América do Sul são motivadores, mas temos uma curiosidade: Como é a distribuição do livro missionário no mundo?

Pr. Wilmar – A ideia do livro missionário surgiu em 2006, em Washington, nos Estados Unidos. Em 2007, começamos a espalhar os livros. Depois de dez anos, podemos dizer que foram distribuídos mais de 400 milhões de exemplares ao redor do mundo, pois a cada ano, um novo país se envolve com o projeto. E mesmo na janela 10-40 e outras regiões de difícil acesso, os livros têm sido espalhados. Já temos traduções em árabe e em outras línguas daquela região. Na China, o Viva com esperança está sendo impresso e apenas uma pessoa decidiu comprar um milhão de livros.

Por falar em lugares difíceis para a pregação do evangelho, temos acompanhado algumas notícias da Rússia. Lá, algumas religiões estão sendo cerceadas de alguma maneira. Já não é mais permitido às igrejas dizer que são detentoras da verdade. Enfim, uma série de medidas vêm sendo tomadas nesse sentido. O livro missionário é distribuído lá também?

Pr. Wilmar: A Rússia foi o primeiro país depois do Brasil a abraçar a ideia do livro missionário. O Brasil e a Rússia são, na verdade, os dois países que lideram a impressão e distribuição de livros missionários no mundo. Mas não são só os lugares complicados que surpreendem. Na Europa, por exemplo, a França é um dos primeiros países a fazer a tradução do livro missionário. França, Suécia, Áustria, Portugal, Espanha e, agora, pela primeira vez, temos um pedido da Alemanha. A Coreia do Sul também, pela primeira vez, está imprimindo o livro missionário. Em abril, eles espalharam 1,5 milhão de exemplares.

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No fim de abril, a igreja em Cuba realizou um encontro histórico da área de publicações. Isso deve representar um marco para a evangelização por meio da literatura na ilha?

Pr. Wilmar: Deus está abrindo as portas em Cuba. Pela primeira vez eles estão permitindo que a igreja espalhe publicações, não de casa em casa, mas que coloquem nas portas dos vizinhos que estejam em um raio de até 50, 100 metros. Eles também estão permitindo que haja colportores em algumas regiões. Um cubano ganha por mês não mais do que 20 ou 30 dólares. O livro missionário em Cuba custa por volta de cinquenta centavos de dólar, porque tem que ser impresso fora. Mesmo assim, neste ano a igreja na ilha, que conta com 30 mil membros, comprou 100 mil livros.

Eu imagino que seja muito gratificante para o senhor ver como a igreja na América do Sul está envolvida com o projeto do livro missionário. Como líder desse grande movimento no continente, qual é a sua visão sobre o envolvimento da igreja e as experiências que vêm sendo acumuladas ao longo de dez anos?

Pr. Erton: O projeto nasceu com a igreja mundial, mas nós o abraçamos e colocamos nele um pouco do nosso jeito, do nosso dinamismo. É impressionante ver que, à medida que a data do Impacto Esperança se aproxima, ele fica mais vivo e as histórias começam a aparecer. Isso mostra que a campanha, além de ser boa para a igreja, está alcançando o coração das pessoas. É por isso que eu digo que o Impacto Esperança não tem que ver somente com sair para entregar livro, é um jeito de unir a igreja. O Impacto mexe com todo mundo, inclusive com as novas gerações. Ele tira as pessoas de dentro de casa e isso é muito emocionante.

Somos um país com pouco mais de 200 milhões de brasileiros. Destes, 1.662.576 são membros da Igreja Adventista. Em dez anos, já foram impressos e distribuídos 123.262.000 livros missionários só no Brasil. Quando falamos em livro missionário, a América do Sul se destaca mundialmente. O que torna esse projeto tão forte?

Pr. Erton: Podemos aumentar ainda mais esse número. Se considerarmos as duas revistas que foram entregues antes do livro missionário, aumentamos a tiragem em 40 milhões, chegando, assim, a mais de 163 milhões de livros e, consequentemente, a mais brasileiros. Sobre a força do projeto, eu a resumo em duas coisas: primeiro, a benção de Deus. Naturalmente, Deus quer que seja assim. E, segundo, porque a igreja abraçou o projeto do livro missionário de maneira integral. Projetos regionais sempre existiram. Mas algo igualmente relevante para o Brasil como um todo, de norte a sul; para Argentina, Chile, Peru, Bolívia, Paraguai e Uruguai, dá força, dá visibilidade. No fundo, a vontade de todos nós, de todo membro da igreja, é participar de algo que faça a diferença. Quando eu sei que faço parte de um movimento grande e que no mesmo dia em que estarei saindo às ruas mais dois milhões de pessoas estarão também, percebo que se trata de algo importante. O resultado é a participação da igreja.

A palavra esperança é, sem dúvida, uma palavra muito forte e oportuna para o mundo em que vivemos. A gente sabe que o senhor também gosta muito desta palavra. O senhor imaginava que, ao sugerir esperança para os títulos dos livros missionários, fosse dar tão certo?

Pr. Erton: O projeto, a revista e o nome nasceram na Argentina em 2007, em uma reunião. A palavra veio de uma junção de ideias de várias pessoas. Ninguém imaginava que duraria dez anos, que haveria tantos livros com a mesma palavra nem que ia se tornar uma marca da igreja. Deus põe a semente, mas não mostra a árvore. Ele só diz: “Planta e o resto deixa comigo”. O resultado é que hoje muita gente fala que faz parte da campanha da esperança. Já não é mais Impacto, não é mais projeto missionário, é a campanha da esperança. E quando a gente viu tudo isso acontecendo, foi crescendo o desejo de que um dia a Igreja Adventista do Sétimo Dia fosse vista como a igreja da esperança.

Projetos com livros têm se tornado populares. O programa Fantástico, da Rede Globo, exibiu recentemente uma matéria sobre livros que vinham sendo deixados em ônibus por anônimos ou celebridades. “Pegue um livro”; “Deixe um livro” são algumas destas iniciativas individuais ou coletivas. Podemos dizer que a distribuição do livro missionário é também uma proposta educativa, cultural?

Pr. Erton: Sem dúvida! Inclusive, em alguns lugares, quando entregamos o livro, a gente nem fala que é algo de igreja. Muitas vezes, nós falamos que é uma campanha em favor da leitura, da cultura da região. Ainda que a pessoa leia o livro, mas não se sinta tocada espiritualmente, ela vai, de toda maneira, crescer culturalmente. Recentemente, recebemos em Brasília a visita do ministro da Educação no Brasil, Mendonça Filho. Antes de uma pequena cerimônia que fizemos para agradecer a ele pelo empenho com relação à mudança no dia da realização do Enem, nós conversamos um pouco. Mencionei que a igreja tinha uma campanha anual de distribuição gratuita de livros. Quando eu mencionei os números, ele pediu para eu repetir, quase não acreditou. Ou seja, nem eles imaginam o tamanho da oferta de cultura que a igreja faz a esse país. Eu não conheço nenhuma igreja, nenhuma editora, nenhuma organização que doa livros na quantidade que doamos. Portanto, é para a vida espiritual, mas é para a cultura e educação também.

Qual foi a importância da CPB nesses 10 anos do Impacto Esperança?

Pr. Erton: A CPB marca a pauta da campanha! Quando a gente pensou na primeira revistinha, a editora já se colocou ao lado do projeto. E, hoje, eu digo e repito que se a gente não tivesse um livro a um real, algo que depende totalmente da editora, a campanha não seria o que ela é. Um livro a um real depende do trabalho e da boa vontade de cada servidor, mas também da visão administrativa. Nada justifica um livro ser vendido há dez anos por um real! E o que é mais bonito de se ver é que eu nunca precisei, em todos esses anos, pedir que o preço fosse esse. A editora, antes de qualquer coisa, tomou a iniciativa, fazendo seus ajustes para que o livro continuasse a um real. A editora é o berço; é a linha de frente. O papel da editora tem sido fundamental ao produzir, ao vender a um real, mas também ao tomar a iniciativa de sair para distribuir, dando o exemplo e mantendo o projeto cada vez mais vivo.

ÁGATHA LEMOS é jornalista e trabalha como editora na Casa Publicadora Brasileira

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Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.