Entenda a posição da Igreja Adventista sobre o relacionamento com outras denominações religiosas
Que diferença existe entre a união de esforços em favor de uma causa comum e a união doutrinária das igrejas? Qual a posição adventista sobre o assunto? Questões dessa natureza têm sido levantadas com certa frequência por algumas pessoas que demonstram dificuldade em compreender como é possível os adventistas terem uma agenda comum com outras denominações em aspectos como a defesa da liberdade religiosa sem cair no ecumenismo.
Uma questão de fundamental importância para introduzir a análise do tema é entender como os adventistas veem os cristãos adeptos de outras denominações ou mesmo as pessoas ligadas a outras religiões (como o islamismo e o budismo), ou ainda aquelas que se declaram ateias e não pertencem a nenhum grupo religioso. Manifestamos um senso de exclusivismo, ecoando o pensamento de que somente os que creem e agem como nós é que estão sob a graça e o favor de Deus, ou as tratamos com simpatia e consideração, entendendo que Cristo também morreu por elas?
Textos bíblicos como Isaías 45:22-23, 56:7; Mateus 8:5-13, 11:28, 15:21-28 e João 3:16, 6:37, 10:16 chamam a atenção para a universalidade do amor de Deus e Suas ações em favor de todos, servindo de referência para o relacionamento com os diferentes.
Um documento votado em 2013 pela liderança mundial adventista (para ler a declaração oficial na íntegra, clique aqui) traz diretrizes bastante claras sobre o relacionamento com outras igrejas cristãs e organizações religiosas.
Para evitar desentendimento e atrito em nossos relacionamentos com outras igrejas cristãs e organizações religiosas, as seguintes orientações foram estabelecidas:
- “Reconhecemos as agências que enaltecem a Cristo diante dos homens como parte do plano divino de evangelização do mundo e temos elevada estima por homens e mulheres cristãos em outras comunidades religiosas que estão engajados na conquista de pessoas para Cristo.
- Quando o trabalho interdivisão nos põe em contato com outras sociedades cristãs e organismos religiosos, o espírito de cortesia cristã, a franqueza e a equidade prevalecerão o tempo todo.”
Ao tratar sobre os fundamentos e funções do departamento de Assuntos Públicos e Liberdade Religiosa, o Dr. Ganoune Diop, líder mundial da área, também expressou que “os adventistas reconhecem outros cristãos sinceros que confessam a verdade de Jesus como membros do corpo de Cristo. Porém, os adventistas não mantêm nenhuma estrutura de filiação formal a organizações ecumênicas principalmente por questões de liberdade religiosa. A filiação a um corpo ecumênico limitaria a liberdade de compartilhar as convicções com todos os outros e assim colocaria em risco a compreensão adventista da missão universal para o tempo do fim”.
O trabalho feito pelos oficiais do ministério de liberdade religiosa, que constantemente coloca líderes adventistas em contato com lideranças de outras denominações, é, na realidade, um antídoto para o ecumenismo e ajuda a prevenir a união de igrejas, produzindo um efeito exatamente contrário ao que muitos interpretam. A liberdade religiosa nos assegura sermos quem somos, pensarmos e crermos distintivamente, mas pede que nossa atitude não seja diferente em relação às demais entidades.
Ao escrever sobre a defesa da temperança e o relacionamento com pastores de outras denominações, Ellen G. White deixou claro que há um trabalho que pode ser feito em conjunto com aqueles que não professam a mesma fé: “Há, noutras igrejas, cristãos que estão na defesa dos princípios da temperança. Devemos nos aproximar desses obreiros, abrindo caminho para que estejam conosco lado a lado. Devemos convidar grandes homens, homens bons, para apoiarem nossos esforços em salvar o que se havia perdido” (Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 110).
“Nossos pastores devem tentar se aproximar dos pastores de outras denominações. Orar por esses homens e com eles, por quem Cristo está fazendo intercessão. Pesa sobre eles solene responsabilidade. Como mensageiros de Cristo, cumpre-nos manifestar profundo e fervoroso interesse nesses pastores do rebanho” (Ibid., p. 78).
Como acrescenta Diop, “os adventistas não fazem parte de organizações ecumênicas que exijam filiação, mas apreciam a condição de convidado ou observador durante as reuniões”. E ainda lembra que “a cooperação com outras denominações cristãs está em harmonia com a visão da Igreja Adventista relativa a outros cristãos”.
Por isso, ninguém deve se escandalizar ou condenar ao ler e ver líderes adventistas locais ou mundiais em reuniões com outras denominações religiosas. A igreja não participa de nenhum esforço ou reunião para unificação doutrinária, mas participa de atividades que contribuam para a defesa da liberdade religiosa.
Como cristãos dirigidos pelo Espírito Santo, não temos o dever de insultar, menosprezar ou desrespeitar outros cristãos ou membros de outras religiões, seja pessoalmente ou por meio da internet. Posturas assim somente criam preconceitos desnecessários. Conforme aconselhou Ellen G. White, “não devemos, ao entrar em um lugar, levantar barreiras desnecessárias entre nós e outras denominações, especialmente os católicos, de modo que eles pensem que somos seus inimigos declarados. Não devemos criar desnecessariamente um preconceito em seu espírito com o fazer-lhes um ataque. Muitos há entre os católicos, que vivem incomparavelmente mais segundo a luz que têm, do que muitos que professam crer na verdade presente, e Deus os provará tão certamente como nos tem provado a nós” (Evangelismo, p. 144).
Em outro de seus livros, a profetisa também declarou: “Quando alguns que têm falta do Espírito e poder de Deus entram em um novo campo, começam a denunciar outras denominações, pensando que podem convencer as pessoas acerca da verdade por apresentar as incoerências das igrejas populares. Pode parecer necessário em algumas ocasiões falar dessas coisas, mas em geral somente cria preconceito contra a nossa Obra e fecha os ouvidos de muitos que poderiam de outra maneira ouvir a verdade. Se esses instrutores estivessem intimamente ligados a Cristo, teriam a sabedoria divina para saber como aproximar-se do povo” (Testemunhos Para a Igreja, v. 4, p. 536).
O Dr. Diop foi muito feliz ao declarar que “a Igreja Adventista e várias outras denominações que não se uniram a entidades ecumênicas organizadas, rejeitam o ecumenismo como doutrina ou objetivo para unir as igrejas cristãs em uma igreja mundial, levando a uma perda da distintiva identidade denominacional. Os adventistas e outros crentes também não aderem a alianças sincretistas que poderiam diminuir a importância e peso da verdade, especialmente quando as crenças em algumas igrejas não estejam em harmonia com a verdade bíblica revelada”.
Assim, concluímos que há uma grande diferença entre união de doutrinas, que a Igreja Adventista rejeita veementemente, e união de esforços e cooperação, postura que a igreja adota para trabalhar por uma causa comum que resulte em benefício para a humanidade. O senso de missão deve estar muito acima de qualquer posição de exclusivismo ou atitude de preconceito que possa existir em relação aos que pensam e creem de forma distinta dos adventistas. Que Deus nos ajude a agirmos dessa maneira, sempre lembrando a regra áurea deixada por Cristo: “Portanto, tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós também, porque esta é a lei e os profetas” (Mt 7:12).
HELIO CARNASSALE é diretor de Liberdade Religiosa e Espírito de Profecia na sede sul-americana da igreja
Última atualização em 16 de outubro de 2017 por Márcio Tonetti.