O significado dessas pedras e as lições que ficaram para nós
Heber Toth Armí
Os emblemáticos Urim e Tumim chamam atenção de muitos curiosos e estudiosos da Bíblia. Trata-se de algo misterioso tanto em seu surgimento quanto em seu desaparecimento na história sagrada. Todas as diretrizes em relação ao santuário e ao sacerdócio levítico foram dadas por Deus a Moisés. Porém, não existe nenhuma orientação quanto à elaboração do Urim e Tumim.
A primeira menção desses itens que deveriam compor a indumentária do sumo sacerdote está registrada em Êxodo 28:29, 30, que diz: “Assim, Arão levará os nomes dos filhos de Israel no peitoral do juízo sobre o seu coração, quando entrar no santuário, para memória diante do Senhor continuamente. Ponha também no peitoral do juízo o Urim e o Tumim, para que estejam sobre o coração de Arão, quando entrar diante do Senhor; assim, Arão levará o juízo dos filhos de Israel sobre o seu coração diante do Senhor continuamente.”
Após essa referência, outras citações mencionam a utilização do Urim e Tumim sem acrescentar muitas informações (Lv 8:5-9; Nm 27:18-21; 1Sm 28:4-6). E, da mesma forma como esses objetos apareceram, misteriosamente desapareceram. “As passagens de Esdras 2:63 e Neemias 7:65 indicam que Deus não Se comunicou por meio do Urim e Tumim logo após o exílio, e não há registro de que tenha voltado a fazê-lo posteriormente” (Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia [CPB, 2016], p. 1351).
Não há qualquer evidência bíblica de que o Urim e Tumim estejam relacionados com a ideia de “lançar sortes”, como no caso de Jonas (Jn 1:7) e no Cenáculo (At 1:26). Muitos também especulam a respeito de suas características: Seriam pedras preciosas com letras ou números, semelhantes a dados? E quanto às suas cores: seriam preta e branca?
Embora não tenhamos todos os detalhes, uma declaração de Ellen G. White ajuda a esclarecer alguns pontos enigmáticos desses itens presentes no peitoral do sumo sacerdote que ministrava no santuário terrestre: “À direita e à esquerda do peitoral havia duas grandes pedras de grande brilho. Eram conhecidas como Urim e Tumim. Por meio delas, fazia-se saber a vontade de Deus por meio do
sumo sacerdote. Quando questões eram trazidas para ser decididas perante o Senhor, uma auréola de luz rodeava a pedra preciosa à direita se fosse um sinal de consentimento ou aprovação divina; e se uma nuvem cobrisse a pedra à esquerda, era prova de negação ou reprovação” (Patriarcas e Profetas [CPB, 2022], p. 297).
Assim, no início da revelação de Deus e de Sua vontade à humanidade, o Urim e Tumim eram uma das formas, juntamente com o dom de profecia, os sonhos e as visões, de o Criador Se comunicar com Suas criaturas caídas em pecado. Com a revelação sendo ampliada de forma escrita, não houve mais necessidade de respostas sobrenaturais por meio desses objetos.
Contudo, algumas lições podem ser extraídas para o crescimento espiritual dos cristãos do século 21, que vivem em um tempo de tantas vozes dissonantes tentando confundi-los e desviar-lhes do caminho da salvação.
1. Deus quer Se comunicar conosco. A comunicação promove a comunhão. Quanto mais nos comunicamos, mais nos relacionamos. Seria cômodo ter o Urim e Tumim à disposição para consultas sobre assuntos polêmicos: Qual tipo de música ouvir? Quais roupas usar? Quais lugares não frequentar? O que não assistir, ouvir ou comer? Qual faculdade cursar? Qual profissão seguir e onde trabalhar?
Com quem namorar e casar? Onde morar? Com qual denominação religiosa comprometer-se?
Em quais candidatos votar nas eleições? Parece que seria tão bom, mas será que as pessoas aceitariam as respostas de Deus?
Mais do que fornecer respostas, Deus quer manter contato conosco. Warren W. Wiersbe sugere:
“Se tivéssemos um método simples e infalível para determinar a vontade de Deus como o Urim e Tumim, provavelmente não iríamos orar tanto, examinar tanto a Bíblia e nem nos humilhar tanto quanto fazemos hoje ao buscar a orientação de Deus. Crescemos no Senhor buscando e fazendo a vontade Dele, e participar do processo é uma bênção tão grande quanto saber quais serão os resultados” (Comentário Bíblico Expositivo: Antigo Testamento [Geográfica, 2006], v. 1, p. 317).
2. Deus deseja nos orientar. Segundo Ellen White, o peitoral era “a mais sagrada das vestimentas sacerdotais” (Patriarcas e Profetas, p. 351). Por duas vezes, Êxodo 28:29, 30 declara que o Urim e Tumim deveriam ser colocados o mais próximo possível do coração de Arão, “no peitoral do juízo”, quando ele entrasse na presença do Senhor. Isso indica que as orientações de Deus para nós fluem de Seu próprio coração, estando cheias de amor, compaixão e bondade. Podemos confiar nelas como sendo as melhores orientações que podemos obter. Elas são seguras, confiáveis e eficazes!
3. Deus nos concedeu Seu filho. Tudo no santuário e no sacerdócio apontava para Cristo e Seu ministério em favor do ser humano (Hb 8:1, 2). Além disso, no hebraico, Urim e Tumim “começam com a primeira e a última letra do alfabeto, respectivamente”, que no grego podem ser usadas no sentido de “Alfa e Ômega”, e “Princípio e Fim” (Ap 1:8, 17, 18), fazendo referência a Jesus (Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, p. 1351; Alan Cole, Êxodo: Introdução e Comentário [Mundo Cristão, 1981], p. 194). Após o sacrifício vicário de Cristo na cruz, Ele ascendeu aos Céus e entrou no Santuário Celestial. Ali, intercede incessantemente por nós, faz propiciação pelos nossos pecados e nos socorre quando somos tentados (Hb 2:14-18). Devido ao ministério sumo-sacerdotal de Cristo em nosso favor perante o Pai Celestial, o Espírito Santo apela ao nosso coração por meio das Escrituras: “Portanto, aproximemo-nos do trono da graça com confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça para ajuda em momento oportuno” (Hb 4:14-16).
Por isso, Ellen White incentivou: “Sejam quais forem suas ansiedades e provações, apresente o caso ao Senhor. Você será fortalecido para resistir. O caminho se abrirá para você se livrar de todo empecilho e dificuldade. Quanto mais fraco e impotente você se reconhecer, mais forte se tornará na força de Cristo. Quanto mais pesados forem seus fardos, mais abençoado será o alívio ao lançá-los sobre Aquele que carrega nossas aflições” (O Desejado de Todas as Nações [CPB, 2021], p. 329).
Hoje, assim como no passado, Deus quer nos orientar. A Bíblia é fruto da Sua intenção de comunicar-Se conosco e nos guiar. Nela encontramos Suas preciosas informações. Em Efésios 5:17 lemos: “Não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do Senhor.” Em Romanos 12:2, inspirado pelo Espírito Santo, Paulo apelou: “Não vivam conforme os padrões deste mundo, mas deixem que Deus os transforme pela renovação da mente, para que possam experimentar qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” Jesus também advertiu os saduceus, dizendo: “O erro de vocês está no fato de não conhecerem as Escrituras nem o poder de Deus.” É por meio da Bíblia que renovamos nossa mente e somos santificados para descobrir e viver a vontade de Deus
(Sl 119:105; Jo 17:17; 2Tm 3:16, 17).
O Urim e Tumim foram uma demonstração do cuidado paternal de Deus por Seu povo. Ele Se importa com o bem-estar e o sucesso daqueles que O procuram. No entanto, a atenção e o cuidado do Senhor pelos pecadores não desapareceram com o Urim e Tumim. Ele continua a ter a mesma atenção e o mesmo cuidado por nós (Rm 8:31-35; Hb 13:5, 6). O amor de Deus está presente em cada
preocupação Sua conosco. Estamos em Seu coração e somos alvos de Sua imensurável bondade (Mt 6:25-34).
O Urim e Tumim não eram objetos místicos, embora fossem sobrenaturais. Também não eram uma forma de jogo de azar ou um tipo de sorteio que definia as escolhas. Seu objetivo era apresentar a orientação divina aos sacerdotes da tribo de Levi (Dt 33:8), beneficiando reis e também o povo. Hoje, cada cristão tem acesso à vontade de Deus expressa em Sua Palavra e aos benefícios da ministração do nosso Sumo Sacerdote no Santuário Celestial (Jo 14:6; 1Tm 2:5).
Mesmo que tenhamos sido criados com capacidade de raciocínio, o pecado nos limita, levando-nos à falta de discernimento para identificar o que é melhor para nós. Contudo, temos um Deus que almeja nos orientar, ajudar e mostrar o melhor caminho para um futuro seguro. Ao ascender aos Céus, Jesus disse que Seus discípulos não ficariam órfãos (Jo 16:16-26), pois enviaria o Consolador para guiá-los à verdade neste mundo de falsidades (Jo 16:7-13; Is 30:21).
Ou seja, temos muitos recursos divinos à nossa disposição para vivermos a vontade de Deus e nos prepararmos para estar com Ele por toda a eternidade (Mt 7:21-23; 1Co 6:9-11).
HEBER TOTH ARMÍ é pastor em Guaíba (RS)
(Artigo publicado na Revista Adventista de setembro/2024)
Última atualização em 26 de setembro de 2024 por Márcio Tonetti.